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Mercado Imobiliário

Mercado registra venda de imóveis durante pandemia, mas intenção de compra é sinal de alerta

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
07/05/2020 23:26
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Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Mais da metade das empresas do setor da construção civil (56%) registraram vendas de imóveis durante a pandemia do novo coronavírus. Em cerca de 35% delas, inclusive, as negociações foram iniciadas após o último dia 20 de março, período no qual medidas de isolamento social já haviam sido iniciadas (para posteriormente serem reforçadas) em diversas localidades do país. No total, 3.870 unidades foram comercializadas já dentro do cenário de enfrentamento à Covid-19.
"Não há dúvida de que é mais complicado, mas há vida neste momento", resume Fábio Tadeu Araújo, sócio da Brain Inteligência Corporativa, responsável pela 2ª edição da pesquisa "Covid-19: impactos e desafios para o mercado imobiliário", divulgada nesta quinta-feira (7).
Ainda segundo o levantamento, os pedidos de distratos atingiram 45% das 540 empresas ouvidas pelo estudo, realizado entre os dias 25/04 e 04/05, sendo que 52% deles tiveram a pandemia como principal motivação.
O sinal de alerta mais expressivo para o setor, no entanto, vem da intenção de compra. 53% dos 600 entrevistados - integrantes de um grupo que havia sinalizado o desejo de adquirir um imóvel no período pré-coronavírus, entre outubro de 2019 e fevereiro de 2020 - afirmaram ter desistido da compra, contra 47% dos que mantêm a decisão de adquirir o imóvel. Em março, quando a 1ª edição da pesquisa foi divulgada pela Brain, os porcentuais eram praticamente inversos: 55% dizia manter o desejo de fechar negócio, contra 45% que tinha declinado da intenção. As incertezas relacionadas às questões econômicas estão entre os principais fatores que pesam na decisão pela desistência. Entre elas estão: a duração da pandemia (46%), a manutenção do emprego ou renda (24%) e a perda de renda (20%).
"Nós perdemos 45% da demanda potencial em março, o que era um número bom [diante do cenário], que não denotava pânico, mas que levou a intenção total de compra para 24%, frente aos 43% do período pré-pandemia [porcentual dos que manifestaram o desejo de compra entre todos os ouvidos na pesquisa realizada na ocasião]. Agora, a redução de 53% [registrada na 2ª edição da pesquisa], trouxe este índice para 20%", detalha Araújo. "Nossa avaliação é a de que estamos chegando ao piso do que é possível cair, ao basal da intenção de compra no Brasil", avalia.
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Entre os fatores que pesariam em uma possível mudança de decisão em favor da compra, o destaque fica para a redução do preço do imóvel, que motivaria uma reavaliação por parte de 15% dos entrevistados. Questões relacionadas às características do bem (tipo ou configuração) foram citadas por apenas 4% dos potenciais clientes ouvidos pelo estudo.

Adiamento

Já dentro do grupo de pessoas que postergaram a decisão de compra, 41% planejam adiá-la dentro de 6 meses (12%) ou 12 meses (29%). No levantamento de março, estes índices somavam 29%. Outros 20% planejam efetuá-la em um período entre 12 e 24 meses. Assim como no critério sobre a retomada do interesse pela compra, aqui o valor do imóvel também aparece como primeiro fator que influenciaria a antecipação dos negócios (54%), seguido por condições de pagamento favoráveis (44%), entre os 52% dos entrevistados que se mostraram dispostos a rever seus planos.

Planejamento de obras

Os incorporadores e construtores estão mais cautelosos quanto à tomada de decisão sobre novos lançamentos, também impactos pelas incertezas da economia. Dentro do universo de 800 novos empreendimentos previstos para este ano (entre verticais e horizontais), 28% dos incorporadores planejam atrasar os lançamentos em 120 dias (em março, eram 18%) e outros 33% confirmam o adiamento, porém sem prazo definido (na pesquisa anterior, eles eram 35%).
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A maior parte das obras (82%), no entanto, segue ativa, seja no mesmo ritmo (38%) ou com redução das atividades (44%), no comparativo com o período pré-pandemia. Neste último caso, influenciam questões como a suspensão de contratos e redução de jornada (previstas na MP 936/2020) e férias coletivas, adotadas por 54% das empresas entrevistadas.
"A construção, de maneira geral, está sendo tratada no Brasil como um dos setores de menor risco e que, portanto, pode continuar funcionando", lembra o executivo da Brain.
Entre as tipologias de imóveis, o executivo destaca o mercado residencial como o mais resiliente à crise e enfatiza a tendência de crescimento do chamado mercado de necessidade (como o primeiro imóvel) em relação ao de desejo (upgrade e luxo).

Desafios

Assim como vem ocorrendo em outros setores do mercado, a habilidade e agilidade das empresas em iniciar ou aprimorar sua presença online é o principal desafio, mas também a grande oportunidade que se apresenta no momento. 72% das que participaram do levantamento relataram sentir queda significativa ou muito acentuada na busca presencial por imóveis, número que cai quase pela metade (37%) quando se fala do universo online.
Assim, a orientação do especialista da Brain é para que as empresas se apoiem na comunicação para aumentar a confiança junto ao cliente, usando o histórico da marca, reforçando a [garantia] em relação aos prazos de entrega e atualizando o dia a dia, a evolução das obras.
"Esta não é uma crise de curto prazo [a nível de país], seus efeitos serão sentidos de um a dois anos. As estratégias de venda, de comunicação, de lançamentos das empresas precisarão levar em conta um horizonte mais longo. [É preciso] privilegiar a qualidade à quantidade de vendas e garantir a continuidade das obras, que é essencial para a cadeia do setor, uma que vez que o ativo está lá. Está é a vantagem do imóvel", completa Araújo.