Mercado imobiliário
Mercado Imobiliário
Juros baixos e crédito impulsionam intenção de compra de imóvel, que volta a patamares pré-pandemia
Depois de atingir a marca dos 20% em abril e acender o sinal de alerta para o mercado imobiliário - uma vez que o porcentual é tido como basal no país -, a intenção de compra do imóvel voltou a crescer e já atinge patamares próximos aos registrados no pré-pandemia.
Dados da pesquisa "Covid-19: o mercado está em recuperação?", divulgados nesta sexta-feira (4) pela Brain Inteligência Estratégica, apontam que 40% dos 689 entrevistados no mês de agosto reavivaram o desejo de adquirir o bem em até dois anos, número muito próximo ao dos 43% que tinham a intenção antes da chegada do novo coronavírus ao Brasil. O número representa um crescimento de 60% em relação ao registrado em junho, quando a intenção de compra era de 25%.
"Quando olhamos o dado de que a intenção de compra se recupera, se renova, pois parte das pessoas saiu definitivamente ao perder renda, mas 13% de quem está hoje não pensava em comprar um imóvel antes da pandemia, isso nos dá o alento de que o mercado imobiliário terá, sim, a sustentabilidade da demanda para manter estes números positivos", aponta Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain.
"Como analista de mercado, acho que precisamos de mais um ou dois meses para conseguir sentir se isso, efetivamente, é uma tendência que vai se [estender] para 2021 ou se foi um soluço em uma saída da pandemia. Eu não acredito [neste último], mas acho que precisamos [deste tempo]", completa Celso Petrucci, vice-presidente de área da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) e presidente da Comissão da Indústria Imobiliária (CII) na mesma entidade.
Além do desejo de um teto próprio, alguns indicadores econômicos que tornam mais atraente a tomada de crédito ou fazem do imóvel uma boa opção de investimento contribuem para a retomada do apetite pela compra. Um exemplo é o volume de financiamentos contratados em julho de 2020, que somou 36,8 mil unidades (entre construção e aquisição) e R$ 10,82 bilhões. O montante é 61,5% superior ao do mesmo mês de 2019 e o segundo melhor resultado para um mês de julho na série histórica pós-Real. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e fazem referência aos financiamentos obtidos com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
"Os índices de confiança continuam crescendo no país. Outra coisa é a reserva de valor do imóvel. A nossa cultura, que é uma cultura de aplicação em ativos financeiros, vem se modificando e, mesmo as pessoas que adquirem um imóvel para tê-lo dentro do seu patrimônio, estão voltando para o mercado. Com [a taxa] Selic a 2% e o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] contido, o imóvel, como reserva de valor, voltou para a nossa cultura", acrescenta Petrucci.
O que comprar?
Se a intenção de compra cresce, a projeção das empresas em apresentar novos produtos para responder à demanda não fica atrás. O segundo semestre, que historicamente já costuma concentrar o maior volume de lançamentos, deverá registrar mais de 700 novos empreendimentos apresentados ao mercado entre os meses de agosto e dezembro em todo o país, sendo 272 horizontais e 455 verticais.
E, mais do que ofertar, as incorporadoras estarão atentas sobre o que ofertar. O isolamento social, que fez as pessoas vivenciarem suas casas mais intensamente e, por conta disso, avaliarem usos, do que gostam ou do que sentem falta nela, seja no que se refere aos ambientes, soluções ou tecnologias, fará dos clientes mais atentos a estes detalhes no momento de se decidir pela compra.
Segundo a pesquisa, 15% dos consumidores que pretendem adquirir o bem afirmam que o isolamento interferiu na escolha do imóvel desejado - em junho eram 9%. E esta interferência é ainda mais significativa conforme cresce a faixa de renda dos entrevistados, chegando a 40% entre os que têm ganhos superiores a R$ 13,5 mil mensais.
Entre os itens a serem avaliados e que ganharam peso na decisão desde o início da pandemia, destacam-se a presença de varanda e portaria remota, que somam 49% e 57%, respectivamente, entre os que as consideram imprescindíveis ou muito importantes e um diferencial para a escolha. Área destinada à higienização de produtos e recebimento de mercadorias, dentro dos mesmos critérios de importância, somam 49% e 36%.
"Seja para os espaços de uso comum ou para a área de planta, a busca por mais bem-estar e flexibilidade no uso dos espaços são as [diretrizes] para pensarmos nos projetos pós-pandemia. Inclusive para não incharmos demais esses projetos, seja na área de lazer ou na planta, fugindo do que cabe no bolso das pessoas", vislumbra Araújo. "Mais do que ter oferta, nós temos demanda para os próximo anos. Temos que estar cada vez mais preparados para enfrentar este novo mercado, com novas tecnologias e novas formas de vender", finaliza Petrucci.