O impacto da pandemia da Covid-19 realmente parece distante do setor imobiliário. Acompanhando o cenário nacional, os números da atividade imobiliária em Curitiba não deixam dúvidas que, se não está no seu melhor momento, como era previsto para o ano de 2020, o mercado de imóveis pelo menos está longe de uma possível retração.
A afirmação vem dos dados da pesquisa apresentada pela Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR) aos seus associados na manhã desta quarta-feira (29), e divulgada em primeira mão pela HAUS, que aponta estabilidade nas vendas de apartamentos residenciais novos (com queda de 3,7%, porcentual considerado dentro da margem de erro).
"A demanda caiu, mas ela não se exauriu. Com a [taxa] Selic baixa, os estoques baixos, as obras ocorrendo dentro do prazo e o horizonte de entrega mantido, o consumidor que não perdeu o emprego e teve sua renda mantida sente-se mais confortável para a compra. Já passamos o pior cenário", destaca Guilherme Werner, sócio da Brain Inteligência Estratégica, responsável pela pesquisa. "Quando a taxa de juros vem para abaixo de dois dígitos, cada meio ponto porcentual que é tirado da taxa de financiamento abre 1 milhão de novas famílias elegíveis ao crédito no Brasil. Em Curitiba, isso corresponde a cerca de 100 mil famílias", exemplifica Leonardo Pissetti, presidente da Ademi-PR, ao listar a queda nos juros entre os fatores que favoreceram as negociações no período.
O baixo crescimento do estoque, que avançou 9,4% e atingiu 6.072 unidades à espera de um comprador no fim de junho, é outro dado que sustenta o argumento do setor quanto à demanda por imóveis novos na cidade. Especialmente quando comparado ao número de unidades lançadas no primeiro semestre, que saltou de 955 para 1.653, entre os iguais períodos de 2019 e 2020, com crescimento de 73%.
"Diferente de outras capitais, como São Paulo, onde cerca de 60% das vendas estão dentro do Minha Casa, Minha Vida, em Curitiba [as vendas estão diluídas] em todos os segmentos", aponta Pissetti. Mesmo assim, os imóveis especiais, como são chamados os compactos de um dormitório, tem se destacado, principalmente por atrair investidores que têm migrado seus investimentos dos imóveis corporativos e das aplicações financeiras para o segmento residencial. "Em um cenário de instabilidade econômica, o ativo imobiliário acaba sendo um ativo de proteção do capital, um investimento seguro, que remunera o investidor melhor do que se ele deixasse o dinheiro [aplicado] em uma renda fixa, por exemplo", ilustra Werner.
Ganho real
A alta de 5,1% do preço médio do m² privativo - que passou de R$ 7.875 para R$ 8.272 no comparativo entre os seis primeiros meses de 2019 e 2020 -, 3,42 pontos porcentuais acima da inflação acumulada no período (1,68%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA), é outro sinal positivo para o setor. Contribuíram para a alta desde o aumento do custo dos insumos da construção civil e a oferta de imóveis enquadradas nas categorias de luxo e superluxo na capital (com unidades vendidas com preços acima de R$ 1 milhão), que puxam os valores para cima, até a escassez de produtos em determinadas regiões da cidade, como lembra Pissetti.
Os números fazem com que o horizonte de curto prazo se mostre positivo para o mercado imobiliário, frente a toda crise econômica e sanitária gerada pela pandemia, com Valor Geral de Vendas (VGV) acumulado estimado em cerca de R$ 3 bilhões ao final de 2020, contra R$ 1,9 bilhão em 2019.
"A vida em meio à pandemia denota, no meio dela, a compra do imóvel, distanciando o setor imobiliário de outros da economia por se tratar de um item básico. Da caverna até hoje, ninguém inventou nada melhor do que um teto para morar. Então, o setor imobiliário sai mais resiliente, à frente de outros [e apresenta] esse sucesso inesperado", resume Werner.
Além da moradia
Cenário distinto vive o segmento de unidades comerciais. Seja nas salas ou lajes corporativas, todos os números partem da estabilidade, caso do preço médio do m², corrigido em -0,6% e comercializado a R$ 9.140 no fim de junho, para a queda. O número de unidades vendidas, por exemplo, teve redução de 18,6% no período, somando 210, com o VGV caindo 40,9% em relação ao comercializado no mesmo período de 2019.
"O segmento comercial é um produto que está diretamente ligado à atividade econômica. Se eu tiver redução do PIB [Produto Interno Bruto], é natural que isso respingue com maior impacto em imóveis deste tipo se comparado aos residenciais. É muito cedo para [avaliar como serão os próximos meses]. As pessoas são seres sociais, elas vão voltar aos escritórios. Só que, hoje, o cenário é de indefinição. E, diante dele, a minha leitura é a de que uma queda de 18% não é uma catástrofe em termos de venda, principalmente porque a base é baixa", avalia Werner.
O segmento não teve unidades lançadas no primeiro semestre deste ano e apresenta estoque de 695 unidades, 6,3% menos do que nos primeiros seis meses do ano passado. "Curitiba teve uma enxurrada de lançamentos comerciais no período do boom, e isso fez com que a cidade tivesse que praticamente só consumir o estoque, passando um bom tempo lançando pouco. O cenário de estabilização deste estoque foi atingido no ano passado, o que já esta abrindo caminho para novos lançamentos", projeta o sócio da Brain.