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Escritórios como catalisadores da “alma” das empresas e não lugares de tarefas individuais
Projeto de interiores da AW para o escritório da Serasa Experian, em São Paulo. Foto: Alexandre Jafo/Divulgação
A tendência dos escritórios do futuro
Após alguns meses de isolamento, fica claro que a maior parte das empresas deve adotar políticas definitivas de trabalho de casa ou remoto. As políticas ainda seguem em fase de definição a partir de pesquisas - que muitas empresas vêm conduzindo junto a seus colaboradores - no sentido de capturar os aspectos positivos e negativos que estes têm experimentado ao trabalhar remotamente e que, sem dúvidas, devem nortear próximas ações.
Pesquisas que a Athié Wohnrath conduziu com mais de 400 clientes mostram que 92% das empresas adotarão o trabalho remoto em uma média de 2 dias e meio por semana. Tais decisões impactam diretamente nos novos desenhos dos espaços de trabalho e nas novas dinâmicas ocorrerão. A tendência será de que tarefas individuais preferencialmente sejam feitas de casa, enquanto os trabalhos de time, que envolvem uma dinâmica bastante colaborativa, devem ocorrer no ambiente do escritório.
O espaço de escritório passa a ter um papel quiçá mais importante do que nunca, pois é ali que devem ocorrer as atividades sociais, de troca, de compartilhamento de informações, sendo um catalisador importante da alma da empresa, da maneira como ela se conecta com seus colaboradores e como transmite sua cultura e propósitos.
Vejo a adoção de políticas de trabalho remoto como um elemento positivo, uma vez que podem impactar até na própria mobilidade urbana, mas o monitoramento da percepção dos colaboradores sobre eventuais desafios que possam enfrentar são fundamentais para garantir um equilíbrio entre a distribuição das atividades, aspectos ergonômicos, até a possível dificuldade de se adaptar ou mesmo a impossibilidade física, seja pelo tamanho do espaço ou pela convivência com outros membros da família.
A partir do momento que muitas pessoas poderão trabalhar de casa por períodos maiores, é fundamental que o espaço do escritório traga uma experiência incrível para aqueles que lá forem para interagir, colaborar e beber da cultura da empresa. Há que se considerar também que os novos colaboradores que serão incorporados após o período de pandemia devem ter uma experiência bastante inclusiva no sentido de conhecer seus colegas de trabalho, mas também, a longo prazo, podem ter uma interação efetiva com os times, onde os novos talentos possam ser identificados.
Tais tendências para estes tipos de espaços não são novas e já vinham sendo incorporadas aos projetos, mas, sem dúvidas, a aceleração das novas tecnologias vai modificar rapidamente os formatos de salas de reunião e espaços colaborativos trazendo mais efetividade às dinâmicas das reuniões. A possibilidade de reserva antecipada destas áreas também garantiria que trouxéssemos para o ambiente das reuniões presenciais a mesma pontualidade que temos observado nas reuniões virtuais.
Outro tema bastante presente é a multiplicidade de alternativas de escolhas de como e onde trabalhar. Espaços flexíveis, adaptáveis e que possam até trazer em sua configuração elementos que nos tragam a sensação de ‘home feeling’, incorporando os aspectos positivos que as pessoas trazem do trabalho de casa.
Neste mesmo conceito, pequenos corners de alimentação rápida, espaços de bem-estar, quiet zones ou áreas de desconexão também serão ambientes-chave para a aderência dos colaboradores ao longo da jornada nos dias em que optarem por trabalhar a partir do escritório.
Por fim, vejo que na nova etapa deverá prevalecer um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, negociações entre empresas e colaboradores visando mais flexibilidade de atuação e inserção de novas metodologias de trabalho a partir das novas experiências.
*Sergio Athié é arquiteto e sócio fundador do maior escritório de projetos corporativos do Brasil, a Athié Wohnrath (AW).
Sergio Athié será um dos participantes da palestra online "O futuro dos escritórios e os escritórios do futuro", que acontecerá dia 18 de agosto em uma parceria entre HAUS e Brain Inteligência Estratégica. As inscrições são gratuitas e estão abertas.