Quando falta dinheiro para a construção

O empresário Jonatas Conrad e a esposa Geraldine na casa construída em 2008. Cerca de 70% do terreno e a obra foram financiados | GAZETA
Da compra do terreno à aquisição dos materiais de construção. O crédito para a realização de uma obra residencial é bastante amplo nas instituições financeiras e, de forma geral, exige os mesmos cuidados que qualquer tipo de financiamento. “Meu primeiro conselho é apenas procurar crédito vinculado à construção, que normalmente já tem taxas reduzidas, muito mais adequadas do que o crédito pessoal ou o cheque especial”, diz o consultor econômico e professor da UniFAE Centro Universitário, Marcos Kahtalian.
Embora o aconselhável seja sempre poupar antes de adquirir qualquer bem, o economista e professor da Universidade Federal do Paraná, Marcelo Curado, admite que, no caso da casa própria, isso é bem difícil, principalmente se o valor considerado é o total do imóvel. “Uma parte, no entanto, é sempre interessante. A compra do imóvel é mesmo um processo de endividamento, o importante é estudar as melhores condições e assumir o compromisso com segurança, ou seja, sem comprometer mais do que 30% da renda com as prestações”, aponta.
Materiais
Para quem quer construir e tem a maior parte dos recursos, a primeira opção é a aquisição financiada do material de construção.
O Banco Real, o Bradesco (em parceria com as lojas da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção, a Anamaco), o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (CEF) estão entre as instituições que oferecem linhas específicas para esse fim. Com um valor inicial de apenas R$ 70 e máximo passando os R$ 60 mil, as linhas dessas instituições oferecem, no geral, prazos de amortização (pagamento) de até 60 meses e taxas de juros entre 1,57% e 3,79% ao mês – além de uma carência, de até 180 dias, para o pagamento da primeira parcela, entre outras vantagens.
Não à toa, nas vendas de lojas como a Cassol, o Balaroti e a Leroy Merlin a compra de material de construção com alguma operação de crédito representa metade ou mais das transações.
A linha mais conhecida, o Construcard, da CEF, somou R$ 145,5 milhões emprestados no primeiro semestre de 2009, por meio de 12.300 contratos. O gerente regional de Negócios da CEF no Paraná, Luciano Valério Bello Machado, explica que o crédito do Construcard é como dinheiro na mão para o contratante. “Após analisado o cadastro do cliente e liberado o valor, ele pode ir de loja em loja negociar o melhor preço.”
Nos casos em que a família tem pouco ou nenhum recurso para a construção da casa, incluindo a compra do terreno, ela pode recorrer a outras linhas de financiamento de limite maior, com recursos tanto do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), quanto do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Nessas linhas, disponíveis na CEF, a aprovação inclui a análise de renda e da capacidade de pagamento dos clientes, mas necessita ainda de outros trâmites para a liberação do crédito. O principal deles é a apresentação do projeto da casa pronto, orçado e aprovado pela prefeitura. “Esse projeto é avaliado pela equipe de engenheria da CEF que faz um orçamento da obra que pode ser igual ou não ao apresentado pelo cliente”, esclarece Machado. A partir desse valor e da análise de capacidade de pagamento do cliente é definido o valor a ser liberado.
Assim como a construtora, a CEF faz o cronograma da obra e libera os valores em etapas. “Esse controle é benéfico para o cliente porque ele tem mais um profissional competente averiguando a obra”, ressalta o gerente regional de Negócios do banco.
O pagamento do empréstimo começa só depois da conclusão da obra. Qualquer mudança superficial, como o modelo de um revestimento, fica a cargo dos recursos próprios do cliente. “No caso de uma mudança mais séria no planejamento, como algo na parte estrutural da construção, passa pelo crivo da equipe de engenharia.”
O empresário Jonatas Conrad, de 25 anos, recorreu a essas linhas para comprar terreno e construir sua casa. Conrad tinha 30% do valor necessário para a compra do terreno. “Os outros 70% e o custo da construção saíram do financiamento com a Caixa”. Ele e a esposa, Geraldine Lisboa de Miranda Daros, optaram pela construção porque acharam os imóveis prontos que visitaram muito caros. “No fim das contas valeu a pena porque nossa casa, do jeito que queríamos, saiu mais barato do que se tívessemos comprado algo semelhante pronto.”
Construtoras
Algumas empresas oferecem o pagamento direto da construção, com entrada e parcelamento do restante, às vezes com taxas de juros menores do que as dos bancos. “No caso do parcelamento direto com a construtora é importante verificar a idoneidade da empresa, conhecendo obras já realizadas e conferindo se não há nenhum tipo de reclamação contra ela”, recomenda o economista Marcelo Curado.