Sua casa ou comércio são tão frios quanto as ruas de Curitiba? Saiba como resolver

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
18/07/2017 10:26
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Passar frio dentro de casa não deveria ser algo natural. Foto: Brunno Covello/Arquivo/Gazeta do Povo | GAZETA

Difícil encontrar quem nunca tenha passado frio dentro de casa ou do escritório em Curitiba. Quando a temperatura flerta com o negativo, é comum ficarmos encolhidos e procurando toda a sorte de camadas de roupas e cobertores para amenizar o frio. Nesta situação, a primeira pergunta que vem à mente é: por que isso acontece? Afinal, com invernos cuja temperatura facilmente beira o zero grau, não era de se esperar que nossos imóveis contassem com sistemas de calefação que deixassem o frio do lado de fora, como ocorre na Argentina e nas cidades europeias?
Na teoria, a resposta é afirmativa. Afinal, a norma nº 15.220, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), coloca Curitiba na Zona Bioclimática 1, a mais fria das oito nas quais mais de 300 cidades do país estão elencadas.
Na prática, no entanto, o que se vê na capital paranaense (e em muitas cidades do sul do país) são imóveis despreparados para proporcionar conforto térmico aos seus moradores nos meses de inverno. “Não há dúvidas de que passamos mais frio aqui [no sul] do que na Alemanha”, afirma o arquiteto e urbanista Eduardo Grala da Cunha, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
Os fatores que levam a isso são resultado de diferentes variáveis. A primeira delas, como lembra Cunha, decorre do fato de as pessoas considerarem natural sentir frio dentro do imóvel, uma vez que está frio fora dele. “As pessoas acham normal ficar de touca e jaqueta dentro de casa. Elas não sabem que uma das primeiras funções da edificação é oferecer uma condição satisfatória de conforto. Na Alemanha, por exemplo, a temperatura interna mínima gira em torno de 20ºC”, compara.

Desconhecimento

A simplificação dos projetos e o desconhecimento sobre os processos construtivos e tecnologias de aquecimento que podem contribuir com o conforto térmico, tanto por parte dos projetistas como dos consumidores, são outros pontos que interferem no desempenho dos imóveis no inverno, como lembra o professor Silvio Parucker, do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
FRIO - CURITIBA, 30/05/11 - PARANA - Manha fria em Curitiba. Foto: Aniele Nascimento / Agencia de Noticias Gazeta do Povo
FRIO - CURITIBA, 30/05/11 - PARANA - Manha fria em Curitiba. Foto: Aniele Nascimento / Agencia de Noticias Gazeta do Povo
“Percebemos a ausência de um melhor enfoque na tecnologia construtiva e na análise ambiental de cada local”, alerta. Tal fato pode, inclusive, fazer com que projetos similares sejam edificados em cidades com condições climáticas muito distintas, o que impacta diretamente na sensação térmica vivenciada dentro do ambiente.

Custos

O investimento necessário à adoção de sistemas de aquecimento é outro entrave para manter o frio do lado de fora dos imóveis localizados ao sul do “país tropical”. Isso porque, especificar esquadrias com vidros duplos e maior poder de vedação, trabalhar com um bom isolamento térmico nas paredes e telhados e instalar sistemas de calefação encarece a obra no comparativo com as que não dispõem destes elementos.
“Se você olhar os imóveis novos disponíveis, o foco, tanto do ponto de vista do construtor como do comprador, está muito voltado à aparência. A forma e sofisticação dos ambientes se sobrepõem à qualidade técnica e ambiental dos imóveis”, critica Parucker.

Norma

Além de identificar as zonas bioclimáticas correspondentes às diferentes cidades do país, a ABNT publicou uma segunda normativa, de n° 15.575, que trata sobre o desempenho, entre eles o térmico, das edificações. Ela estabelece, por exemplo, que “as condições térmicas no interior do edifício” sejam “melhores que a do ambiente externo” no inverno.
Passar frio dentro de casa não deveria ser algo natural. Foto: Brunno Covello/Arquivo/Gazeta do Povo
Passar frio dentro de casa não deveria ser algo natural. Foto: Brunno Covello/Arquivo/Gazeta do Povo
Mesmo apontando este e outros requisitos técnicos, no entanto, a norma não parece ser suficiente para garantir o conforto térmico nos imóveis, especialmente em Curitiba. Segundo Cunha, isso ocorre porque os critérios que ela estabelece são muito baixos e ficam aquém dos praticados em países como a Alemanha, que possui uma política mais exigente neste sentido. “A maioria dos edifícios atendem essas normas [da ABNT]. Só que as edificações residenciais deveriam ser muito mais isoladas do que são”, avalia.
“É um fator cultural, que demanda uma mudança de atitude desde o [construtor] até o consumidor”, acrescenta Parucker. Ele lembra, por exemplo, que antes de se investir em sistemas técnicos para aquecer os ambientes, é preciso resolver a arquitetura passiva [do empreendimento]. Nela estão contemplados fatores como a relação da edificação com o clima do local onde ela será construída e com o percurso do sol nas diferentes estação do ano, por exemplo.
“Depois vêm as tecnologias auxiliares, como ar-condicionado ou sistemas de serpentina [para o aquecimento de pisos], que consumirão muito menos energia elétrica para aquecer o ambiente [que foi adequadamente projetado]”, completa.

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