Design Sucks

Feira de Milão 2022

Cocô de robô: a verdade inconveniente dos resíduos da impressão 3D

Luan Galani
09/06/2022 23:16
Thumbnail

Robot Shit Exhibit, uma união da Furf, DesignWanted, Caracol e Dude, mostra que a impressão 3D não é tão sustentável quanto imagina-se. No processo de imprimir, muito resíduo é gerado | Divulgação

O distrito de Isola, em Milão, na Itália, abriga durante a Semana de Design, que acontece até próximo dia 12 de junho, uma mostra que tem chamado cada vez mais atenção por sua lucidez desconcertante e propósito. Apesar de não estar no itinerário badalado da cidade italiana, é ali no espaço Stecca 3, na Via G. De Castillia, 26, que se encontra uma das mensagens mais poderosas do evento deste ano.
Em um ambiente que remete a um banheiro, feito de ladrilhos, três grandes montinhos de resíduos de impressões 3D brilham para os visitantes. Eles formam a Robot Shit Exhibit (Exibição Merda de Robô, em tradução livre do inglês). São os cocôs de robôs, um tipo de resíduo desconhecido -- ou ignorado -- até então pelas grandes discussões do universo do design.
A intenção é chamar atenção para o fato de que esses restos das impressoras serão o lixo do futuro -- uma vez que o uso massivo das impressões de filamentos pelo mundo inteiro já é uma realidade -- e de que é possível melhorar esse cenário, transformando o resíduo da impressão em uma matéria-prima circular para outros objetos.
A forma poética das sobras da impressão 3D não foi alterada pelos designers. Da mesma maneira que ela foi empilhada durante o processo de fabricação, assim ela está sendo exibida
A forma poética das sobras da impressão 3D não foi alterada pelos designers. Da mesma maneira que ela foi empilhada durante o processo de fabricação, assim ela está sendo exibida
A mostra é uma iniciativa da plataforma DesignWanted, de Patrick Abbattista; da empresa de impressão 3D Caracol; da gigante da publicidade Dude e dos designers aclamados internacionalmente da Furf, Mauricio Noronha e Rodrigo Brenner.
A exposição, porém, é só um prelúdio de algo maior. A dupla curitibana conta para HAUS que foi convidada a assumir a batuta da direção criativa de uma nova marca, a Design Sucks, que pertence à Dude. Em tradução literal, o nome da empresa significa "design é uma porcaria".
Mostra Robot Shit funciona como um prefácio para a nova marca que acaba de nascer: a Design Sucks
Mostra Robot Shit funciona como um prefácio para a nova marca que acaba de nascer: a Design Sucks
"A ideia surgiu da Dude, uma agência de publicidade que atende gigantes do mercado, e que criou a marca "_sucks", em que você insere o que quiser antes do underline para mostrar verdades nuas, cruas, inconvenientes, para desmistificar a área criativa. E começaram a fazer isso de uma forma bem italiana: sagaz, desbocada, descontraída e leve", resumem os Furfs. "A pira é mostrar o que ninguém mais quer mostrar, para termos consciência de que é isso que acontece."
No caso específico dos resíduos da impressão 3D, eles vem dos filamentos que as máquinas soltam de duas formas. Quando a própria impressora vai criando estruturas que facilitam o processo e que depois são descartadas sem fazer parte do produto final; ou no começo e na finalização da impressão, quando o derretimento do filamento gera sobras.
Não é possível precisar qual a porcentagem de uma impressão 3D que vira resíduo, mas sempre haverá descarte, mesmo com biopolímeros
Não é possível precisar qual a porcentagem de uma impressão 3D que vira resíduo, mas sempre haverá descarte, mesmo com biopolímeros
A primeira missão da dupla da Furf à frente da liderança criativa da Design Sucks será conceber uma coleção de produtos vendáveis a partir de resíduos da impressão 3D. "No futuro, não necessariamente a matéria-prima continuará a ser esta, mas essa é a primeira proposta da marca", esclarecem os designers brasileiros.
"A principal mensagem é dar voz, tirar sarro da verdade do mundo do design, cutucar de modo gentil o comportamento de designers, revelar isso de forma despretensiosa. É para ser uma produção sustentável, mas vai ter uma carga simbólica muito grande e provocativa, para incentivar a real circularidade", defendem Noronha e Brenner.