Retorno à casa
Feira de Milão 2020
“Nossa identidade doméstica foi questionada na pandemia”, reflete arquiteto Fabio Novembre

Arquiteto italiano Fabio Novembre reflete sobre o retorno para casa em tempos de pandemia. | Divulgação
"Nossa casa é quem somos. Um espelho da nossa personalidade, da nossa identidade". Enfático, o arquiteto e designer italiano Fabio Novembre, 53 anos, não mede palavras quando reflete sobre o futuro da indústria do design. O diretor criativo da Driade e diretor científico da Domus Academy vê o nascimento de um novo Humanismo e acredita que a pandemia tenha sido, de alguma forma, uma benção no mundo. "Se excluirmos o lado trágico e os milhares de mortos, o ser humano pôde tomar consciência de quem realmente é. E nunca como antes tivemos a oportunidade de passar dias e dias com nossas famílias", diz ele em entrevista ao jornalista Alessandro Cannavò, para a série "O Senso do Design", organizado pela Casa Corriere, em programação no Fuorisalone.TV.
Nascido em Lecce, no sul da Itália, Fabio Novembre se formou em arquitetura em Milão e anos mais tarde passou uma temporada em Nova York. O seu amor pela cidade metrópole italiana é absoluto. Assim como pelo futebol milanês. É de sua autoria a Casa Milan, a sede administrativa do clube de futebol Milan.

A palavra casa, por exemplo, é um dos vocábulos preferidos do arquiteto. "Não gosto do termo apartamento. O sentido é de apartar, separar. Casa é casa. E hoje mais do que nunca temos de transformar nosso lar em um local especial como era antigamente", comenta o italiano que transformou sua moradia em escritório. E não se arrependeu. Viu as duas filhas, hoje adolescentes, crescerem.
Lockdown e lar doce lar
O período de isolamento foi profícuo para o arquiteto. Ele e sua equipe, que há anos adotaram o home-office em alguns dias da semana, concentraram os esforços em dar vida para peças que possam dar personalidade aos espaços públicos ou residenciais.
O arquiteto, porém, nunca escondeu sua rejeição a projetos residenciais mas agora acredita ser o momento para que se invista mais e mais no design doméstico. "É hora de personalizarmos nossas casa. Os acessórios de decoração e os móveis que compramos devem de alguma forma refletir nossa identidade, narrar uma história de vida, contar nossas origens. Sem isso, que lar é esse?", interroga ele que faz duras críticas aos elementos anônimos e de pura tendência que enfeitam os ambientes por puro modismo.
O arquiteto também coloca em questão a definição de decoração perfeita. Perfeita para ilustrar capas de revistas ou publicidade. "Esses não são lares reais. Não têm nada a ver com a vida real. O dono da casa não pode delegar totalmente a escolha de peças e móveis", observa ele. "Ainda hoje vejo que as estantes de livros são protagonistas em qualquer sala de estar. O problema é que não são mais usadas para colocar livros. Há quem compre livros falsos e o mercado oferece esse tipo de produto. Se você não lê, coloque um artesanato, algo que exprima a sua personalidade. Assim, deve ser o design de hoje onde os outros possam reconhecer você nele".