Entrevista exclusiva
Feira de Milão 2020
“O design e Milão não se abatem facilmente”, declara criador do Fuorisalone digital

Paolo Casati, idealizador do Fuorisalone Digital 2020. | Divulgação
Visionário, empreendedor, ousado. Ou seria mais apropriado Salvador da Pátria do design. Assim é Paolo Casati criador do Brera District Design e do Fuorisalone.it, que nasceu há 20 anos como guia e catálogo online de eventos paralelos ao Salão do Móvel. O que, porém, poucos sabem é que o italiano, formado em Design pela Faculdade Politécnica de Milão, ao lado de Cristian Confalonieri, é idealizador e fundador do que será considerado um marco no design mundial: o Fuorisalone digital que literalmente debuta no mundo virtual nesta segunda-feira, dia 15 de junho até o dia 21.
Logo na estreia, HAUS é media partner do evento e traz a cobertura exclusiva do evento. A iniciativa é revolucionária. Um projeto que tomou forma em menos de três meses com um time de menos de 15 pessoas. Um milagre em tempos de coronavírus. "Foram dias intensos. Mas valeu a pena", nos conta, por telefone, com grande satisfação Paolo Casati. "Acredito que cumprimos a nossa missão de mostrar que o design e Milão não se abatem facilmente".
A tecnologia e uma boa dose de criatividade são os ingredientes que literalmente remodelam essa exclusiva edição do Fuorisalone. Compacta, virtual mas nem por isso menos atraente. E para os mais críticos, que vêem a iniciativa como uma escolha de se distanciar do Salão do Móvel, Paolo Casati avisa: "nós nascemos e existimos graças ao Salone. Quisemos simplesmente dar uma resposta concreta de como podemos combater uma crise que abala o mundo todo. Essa é só um parênteses. No ano que vem estaremos aqui novamente. Fisicamente". Enquanto vivemos a nossa nova normalidade, esperando voltar à normalidade, Paolo Casatti explica nesta entrevista como será o Fuorisalone 2020 em versão online.

Um projeto que nasce quase que por necessidade. O que podemos esperar desta Milan Design Week digital? Como será a primeira edição do Fuorisalone.it virtual?
Acho que vale a pena voltar um pouco no tempo. O Fuorisalone.it nasceu em 2001 quando eu e Cristian elaboramos o primeiro guia online do Fuorisalone. Era uma alternativa às versões impressas. Com o passar dos anos, foi crescendo e se tornando uma ferramenta fundamental que contava um pouco dos eventos. A partir de agora, é efetivamente um novo district que aglomera outros distritos. Conseguimos reunir em uma única plataforma os principais bairros do design como Brera, Isola, Tortona, por exemplo. O público poderá ainda ter acesso ao Fuorisalone TV, com uma programação live streaming de dez horas, com talks, entrevistas, apresentações, conteúdos, ideias e projetos de designers e empresas. Há também o Fuorisalone Meets, uma plataforma webinar, que durante todo o mês de junho irá conectar as marcas, clientes, revendedores e profissionais especializados, uma grande ocasião de formação, promoção e apresentação de novos produtos. E ainda temos dois novos canais, o Fuorisalone Japão e o Fuorisalone China com conteúdos específico.
Qual será a grande diferença entre vivenciar o Fuorisalone digital do físico? Essa iniciativa pode significar um "divórcio" em relação ao Salão do Móvel tradicional?
É importante dizer que jamais nos passou pela cabeça substituir o físico pelo digital. Não é um divórcio do Salão e muito menos do tradicional Fuorisalone. É impossível substituir a emoção de ver de perto uma instalação, de tocar um produto, de conhecer novas pessoas. E é claro, há também o fator social com as festas e happy-hours. O digital é um elemento complementar.
Quais as vantagens e desvantagens do Fuorisalone digital? O que se ganha e o que se perde nesse tipo de evento?
Não consigo pensar em Milão sem design e o design sem Milão. E acho que com essa frase eu consigo traduzir quão importante será essa edição mesmo que virtual. Em qualquer evento, até mesmo no físico, há vantagens e desvantagens. Um não substitui o outro. O que se perde é a força como evento, as relações pessoas, o ver de perto, de tocar o produto. Mas também há seu lado positivo quando o conteúdo pode ser compartilhado infinitamente, a qualquer hora, em qualquer lugar. Não há limites. Também ressalto que o conteúdo digital possui um custo infinitamente menor e com um alcance vasto e internacional.
Que tipo de público estará conectado ao Fuorisalone.it? Será o mesmo que segue o tradicional? Qual a sua previsão?
A oferta é vasta. São quase 350 eventos, com 250 empresas e 525 designers. Ou seja, é conteúdo para agradar a gregos e troianos. A nossa previsão é que seja uma manifestação onde prevaleça a qualidade e não a quantidade. Nosso foco são os profissionais do mercado. A versão digital penaliza o lado social como já disse antes, as festas, algo que na verdade virou uma marca registrada dos empresas que participam do Fuorisalone. Esse novo projeto, na minha opinião, é feito sob medida para quem faz negócios. A parte de entretenimento para o público em geral fica por conta do fuorisalone.tv com material cultural, conteúdos mais leves, filmes e documentários. Acho que conseguimos encontrar a fórmula certa para um público variado.
Qual o futuro do Fuorisalone.it como evento digital?
Esse é um projeto que foi construído em pouco mais de dois meses graças à vontade de um equipe que trabalhou à distância. O futuro é sempre imprevisível mas a lição que nos deixa desta experiência, é que ganhamos um nova plataforma digital, que nasceu para ficar. Como disse antes, é um novo elemento que irá, com certeza, ajudar. Em 2021, a 60ª edição Salão do Móvel será inesquecível. Não creio que teremos um número recorde de visitantes e empresas, já que a crise econômica atingiu a todos. Será um evento funcional, e os conteúdos digitais e os novos formatos virtuais tendem a ser tornar antídotos contra a crise, seja econômica ou sanitária. O objetivo do Fuorisalone.it é ofercer a possibilidade de realizar negócios de forma concreta com uma linguagem contemporânea mesmo que a distância. Esse é o futuro.
O senhor disse que Milão não exista sem design e o design não existe sem Milão. Qual a situação do design italiano atualmente?
O design italiano vai muito bem, obrigada. É sinônimo de criatividade, qualidade e talento. O problema hoje é o consumo e a crise econômica. Mas o design italiano se mostrou mais forte que qualquer instabilidade financeira. Atualmente, acredito que as empresas menos conhecidas internacionalmente são as que mais irão sofrer. As grandes, que contam com nomes icônicos e designers reconhecidos, irão sentir menos a queda de vendas. O design "Made in Italy" ainda é sinônimo de beleza, qualidade e funcionalidade e essa é a nossa força, construída em anos e anos. Não será agora que será abalada.