Balanço
Feira de Milão 2020
O design resiste e provoca: histórica edição digital do Fuorisalone coloca discussões sociais urgentes

Foto: Divulgação/Cedit
Um Fuorisalone com gostinho de Salão do Móvel. Mesmo que digitalmente. O que se viu de 15 a 21 de junho, literalmente, foi um design que valorizou mais do que nunca o mobiliário residencial. Afinal, nosso lar voltou a ser chamado de doce. O Made in Italy, mais uma vez, revela que não se abate facilmente e o setor demonstrou que mesmo o lockdown, imposto pela pandemia da Covid-19, não afetou a criatividade dos designers e o empreendedorismo das marcas.
Essa reação se vê no lançamento de novas coleções e reedições de grandes nomes do design internacional justamente durante a Digital Design Week. Zanotta, Vitra, Bisazza, Living Divani, Pedrali, Adrenalina, Artek e muitas outras grandes marcas abraçaram a iniciativa e tiraram proveito da atenção midiática em todo o mundo. A gigante B&B, por exemplo, propõe novamente a beleza do icônico sofá Camaleonda, de Mario Bellini, um projeto de 1970, em uma nova versão mais sustentável, porém sempre icônica com suas formas sinuosas.

Coleções ecléticas e originais foram o que ficou da edição digital histórica do Fuorisalone. Um desfile de requinte estético e acabamentos de primeira linha, uma característica típica do chamado Made in Italy. Peças de design haute couture para uma casa mais acolhedora, capaz de traduzir a personalidade de quem mora no espaço.

A personalização e a qualidade italiana ressurgem como antídoto contra a crise em móveis ecléticos, flexíveis, funcionais e sustentáveis. Tecnologia, materiais dos mais variados e uma paleta de cores em tons variados.
Isto é tão evidente que até nomes como Porro, Meridiani, Minotti, Boffi, DePadova e Cassina, protagonistas em qualquer edição do Salão do Móvel na versão física em seu imenso pavilhão na Rho Fiera, embora não tenham aderido ao evento digital, aproveitaram a agenda e apresentaram seus lançamentos 2020.
Design made elsewhere
O Fuorisalone também destacou diversas produções feitas fora do polo europeu, dando visibilidade para as criações brasileiras de Ronald Sasson e Guto Indio da Costa, para citar alguns, bem como para a originalidade sempre surpreendente do design japonês.
A atenção para os projetos dos designers nipônicos é tanta que a organização do evento anunciou a criação do Fuorisalone Japão, que estreia em setembro deste ano.

Designers africanos também tiveram seu trabalho valorizado na série Trip of Design, apresentada pelo designer, músico e produtor indiano Suyog Aka. Em geral, projetos com foco na sustentabilidade, sem ignorar o viés social.
Discussões
Além dos lançamentos, o Fuorisalone Digital se valeu de muita discussão em torno das respostas do design frente a crise gerada pela pandemia. Embora a tecnologia e a personalização não fossem discussões novas no campo do trabalho criativo, não há dúvida de que uma série de pensamentos, soluções e produtos foram adiantados.
Durante a semana, HAUS esmiuçou, traduziu e trouxe com exclusividade a essência dessas discussões em entrevistas e lançamentos. O que fica da semana do Fuorisalone Digital é a certeza de que nossas cidades, casas e nossa forma de consumir precisam se adaptar aos conceitos de sustentabilidade e às necessidades humanas por conexões reais e por casas que as acolham, protejam e façam sentido em um mundo repleto de incertezas sociais e naturais.