Perkins&Will
Expo Revestir 2021
“Não se acostume demais com o digital. Pensamento crítico é mais importante”, aconselha um dos maiores escritórios do mundo
Gregg Museum de Art e Design em Raleigh, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, onde a comunidade utiliza partes do edifício para atividades públicas e coletivas. | Perkins&Will/Divulgação
O escritório de arquitetura e design Perkins & Will é um gigante do setor. Ao todo a firma tem 26 estúdios espalhados pelo mundo e mais de 325 mil metros quadrados de área construída no portfólio. E uma característica forte das produções arquitetônicas do escritório é o olhar real sobre a sustentabilidade ambiental, social e econômica de cada construção.
Perkins & Will participou da programação oficial da Expo Revestir 2021 e dois de seus principais arquitetos conversaram com exclusividade com HAUS por e-mail: a arquiteta Lara Kaiser, diretora de operações do escritório de São Paulo, e o arquiteto Jose Bofill, responsável pela área de ciência e tecnologia do estúdio da marca em Miami.
De família húngara, Lara se especializou em arquitetura de clínicas, hospitais e outras construções de saúde, e por 20 anos trabalha nessa área. Já Bofill é natural dos Estados Unidos, descendente de uma família de imigrantes cubanos, e desde sempre apreciou a interação entre natureza e os ambientes construídos. Agora completou 23 anos na empresa.
O que levou vocês até a arquitetura?
Lara: Minha família tem muitos médicos e arquitetos. Minha mãe, que me inspira de diferentes formas, é uma empreendedora do design de interiores. Acredito que foi natural eu me tornar uma arquiteta especializada em saúde.
Jose: Desde pequeno me interesso por artes. Minha avó, que era pintora e escultora, instilou em mim um senso de maravilha que guiou minha curiosidade, estudos e carreira. Meu primeiro projeto na Perkin & Will foi de um laboratório. Imediatamente decidi pela parte técnica e de design.
Como encaram a arquitetura? Quais os desafios mais atuais, na opinião de vocês?
Lara: Perkins & Will acredita firmemente que arquitetura e design são ferramentas para melhorar as vidas das pessoas por meio dos espaços onde elas vivem, trabalham, brincam, aprendem e se curam. Tudo se trata das necessidades de todos os usuários de cada ambiente. Em um hospital, por exemplo, não focamos apenas no bem-estar dos pacientes, mas também no dos acompanhantes e de todo o time médico. Pessoalmente acredito que o desafio agora é compreender como as mudanças culturais, comportamentais, sociais e econômicas que estamos enfrentando vão impactar a maneira como interagimos com espaços construídos, e como vamos adaptá-los às novas necessidades.
Sustentabilidade está no DNA diário de vocês. Alguns dizem que vocês têm mais profissionais treinados para o selo LEED do que qualquer outro escritório nos Estados Unidos. Que diferença essas certificações trazem?
Lara: Sustentabilidade é algo tão importante para nós que é obrigatório nossos times irem atrás de certificações LEED ou WELL. Está em nosso DNA mesmo buscar soluções para que nossos designs sejam ambientalmente, socialmente e economicamente sustentáveis. Eu acredito que trazer sustentabilidade para um projeto beneficia não só os usuários diretos, mas toda a comunidade do entorno. É um benefício que leva a conversa para outro nível.
Quando a gente olha para as melhores produções arquitetônicas hoje, alguns países da Ásia estão na vanguarda. Qual a sua opinião sobre isso?
Jose: Acredito que é possível achar arquitetura de nível internacional em qualquer continente, e acho que está diretamente ligado ao apetite dos clientes por projetos que olhem para a responsabilidade ambiental e social.
Vocês trabalham em uma companhia gigante. Quais são as diferenças regionais que vocês identificam?
Lara: Temos 26 escritórios espalhados pelo mundo, incluindo Américas, Europa e Ásia. Perkins&Will adquire firmas de arquitetura pré-existentes em cada local como uma estratégia para criar um time mais diverso. Ao escolher profissionais locais, incorporamos muitas culturas diferentes, conhecimentos e tradições diversas. É enriquecedor ter essa rede de contatos. Aprendemos coisas novas todos os dias e construímos uma visão mais ampla do que é a arquitetura e o design. Mas acho que o benefício maior é trazer tendências e tecnologias de toda parte do mundo para nossos clientes.
Jose: Colaborei com muitos estúdios da nossa empresa em disciplinas, projetos locais, nacionais e internacionais, tanto no setor privado quanto no setor público. Essas oportunidades me expuseram a uma variedade de diferenças regionais na cultura, no clima, na economia, e me ajudaram a projetar programas mais complexos.
Que dicas vocês dariam para arquitetos que sonham em ter uma carreira internacional?
Lara: Sempre mantenha a mente aberta para o conhecimento. Cada pessoa que encontrar e cada experiência que tiver é uma oportunidade para aprender, expandir os horizontes e melhorar você pessoalmente e profissionalmente. Outro conselho é não se acomodar e se acostumar com as ferramentas digitais que temos hoje. Tecnologia avançou muito na área da arquitetura e do design, mas é importante trabalhar o pensamento crítico e habilidades de projeto, coisas que as máquinas não fazem tão bem como nós.