Entrevista exclusiva
Expo Revestir 2021
“Luxo é simplicidade, e simplicidade é nunca desistir de nada”, alfineta Paola Navone
Paola Navone é uma das designers mais respeitadas do mundo, com criações que primam pela informalidade, ironia, sensualidade e simplicidade. | Reprodução/Frame
A italiana Paola Navone, 71 anos, é considerada uma das designers mais ousadas da atualidade. Um peixe fora d'água mesmo. Formada em arquitetura pelo Politécnico de Turim, não se deu por satisfeita em levantar prédios igual todos os outros. Foi como designer junto dos gigantes Alessandro Mendini, Ettore Sottsass Jr. e Andrea Branzi, dos movimentos Memphis e Alchimia, que se achou e ganhou visibilidade internacional.
Fã de materiais naturais e técnicas artesanais, viveu por um longo período no Sudeste Asiático e desenvolveu como suas principais ferramentas de criação a simplicidade, a informalidade, a sensualidade e a ironia. E não se esqueça do azul, a cor que é quase uma instituição em sua criações. Já trabalhou para Armani Casa, Alessi, Driade, Dada, Molteni, Natuzzi e Swarovski, para citar apenas algumas marcas.
Ela participou da programação oficial da Expo Revestir 2021 em formato digital e concedeu uma entrevista exclusiva para HAUS por e-mail durante os dias da feira.
O que te levou para o design?
Na minha vida tudo acontece meio por acaso. Não foi realmente planejado. Talvez minha atração pelo design venha da minha natureza nômade, da minha paixão inata por objetos cotidianos de todos os cantos do mundo, do senso de imperfeição que me faz amar materiais naturais, coisas feitas à mão e, claro, as pessoas que eu encontro.
Seu trabalho é uma defesa da informalidade e da sensualidade. Poderia nos explicar um pouco dessa forma de viver e criar, por favor?
Eu gosto de criar objetos que são amigáveis, delicados e jamais agressivos. Da mesma forma, eu amo imaginar espaços novos, relaxantes e informais, onde as pessoas possam se sentir bem, um pouco como em casa. Acredito que hoje precisamos mais do que nunca de espaços assim para viver.
Certa vez li que você não tem pretensão alguma de ensinar algo para as pessoas e que você não se leva tão a sério. Por quê? Que benefícios você tira dessa maleabilidade de ser?
Eu não estaria fazendo o que faço se não gostasse muito disso. Cada novo trabalho para mim é uma aventura excitante que sempre traz leveza e diversão. Eu não gosto de sofrer.
Você é pisciana, uma filha de março, como eu. E o azul é tão presente em suas criações. Por que o azul é tão especial para você? O que ele comunica?
Eu tenho uma atração natural por cores frias, todas as matizes da água e do ar. O oceano é meu ambiente natural...talvez por ser de Peixes, quem sabe. O azul sempre teve um efeito relaxante e hipnótico sobre mim e faz eu me sentir em outro lugar, talvez em um litoral belíssimo.
Uma vez em Milão ouvi você dizer que suas ferramentas criativas são a simplicidade, a curiosidade e a ironia. Pode nos dar mais detalhes sobre cada uma delas?
Cada um dos meus projetos vem de uma alquimia especial. Por isso meus trabalhos são sempre diferentes um do outro. Porém, há algumas ferramentas especiais que pertencem a minha criatividade, como simplicidade, imperfeição e ironia. Simplicidade, para mim, é uma palavra inpiradora e significa nunca desistir. Imperfeição é parte da minha ideia de beleza: torna tudo único. E ironia, bem, é um toque sempre presente em meus trabalhos porque torna tudo mais agradável.
O que é luxo para você?
Minha ideia de luxo é ligada à simplicidade e beleza dos materiais naturais e das coisas feitas à mão. É uma questão de leveza, liberdade de viver, uma sensação que faz você se sentir à vontade.
E como você avalia o que o design de mobiliário se tornou ao longo de todos esses anos? Deixe-me explicar um pouco melhor: estou falando do design ser mais democrático ou não ser democrático para a maior parte das pessoas no Brasil e na Itália, por exemplo. O que você acha disso?
Ser designer significa dar forma a objetos do dia a dia, de um bule a um sofá, até uma máquina de lavar roupa. Não é necessariamente uma questão de valor monetário. Às vezes eu vejo um mesmo objeto em diferentes tipos de casas, em meio às coisas cotidianas, como se sempre tivesse estado lá, concebido exatamente para esse espaço. É a minha opinião pessoal sobre o bom design.
Em que você está trabalhando atualmente?
No design de interiores de um hotel em Florença, com um charme alegre e inesperado, e renovando o interior de um castelo histórico maravilhoso na Toscana. E também estou criando novas coleções de mobiliários para áreas externas.
Quais as maiores lições que você aprendeu com Alessandro Mendini, Ettore Sottsass e Andrea Branzi?
Eles eram o lado antiacadêmico da arquitetura na Itália no final da década de 1970. Seus projetos visionários eram completamente diferente do que eu havia estudado. Essa experiência foi muito significativa para mim e eu devo muito a todos eles. Muito da minha maneira livre e não convencional de pensar o design vem do meu envolvimento com Memphis e Alchimia.
E quais lições você acha que ensinou para eles?
Realmente acho que não tenho nada para ensinar. Só tenho aventuras criativas para compartilhar.
É cristalino como as culturas asiáticas têm uma influência sobre o seu trabalho. A que se deve isso? E como você traduz esses valores em suas criações?
Eu vivi no Sudeste Asiático por muito tempo. Como gosto de dizer, sinto que sou uma alma nômade que gosta de fincar raiz aqui e lá. E nesta parte do mundo minhas raízes foram mais profundamente. Sempre fui encantada pela riqueza de tradições manuais que encontro especialmente nos países dessa região da Ásia. Foi no Sudeste Asiático que muitos projetos meus ganharam vida. E nunca teriam dado certo se eu estivesse em Milão.
Fale um pouco sobre sua obra para a Portobello.
Foi uma chance maravilhosa de encontrar uma companhia que pensa como eu, para o novo morar contemporâneo. As coleções combinam com aquela ideia de uma residência alegre e leve, onde materiais tradicionais se tornam elementos surpreendentes e amigáveis, que podem ser interpretados de muitas maneiras.