Expo Revestir 2020
Expo Revestir 2020
Casa como refúgio: 14 tendências de decoração e novidades em acabamentos
Revestimento em tom areia da Ceusa. | Fotos: divulgação
A narrativa de transformar a casa em um refúgio que te abraça e protege em meio à correria do dia a dia não é nova. Porém, essa ideia de um habitat paradisíaco nunca esteve tão refinada e presente como principal norteador das tendências para casa e decoração. Esse sentimento se traduz em “peças com história, com verdade, com narrativa”, como resume a premiada arquiteta Juliana Medeiros, que assina o primeiro papel de parede da Portinari e uma coleção de linhas cerâmicas que celebram a natureza brasileira.
“A casa da gente é realmente o melhor lugar do mundo. Ninguém mais quer simplesmente um revestimento novo. As pessoas querem significado. E todos esses novos acabamentos auxiliam nessa sensação, valorizando o amor pela vida, os tons terrosos e o verde que remete à natureza, o imperfeito, os materiais como eles são, os efeitos de profundidade com as peças 3D”, defende. Foi exatamente isso que se viu na Expo Revestir 2020, a fashion week da arquitetura e construção da América Latina, que aconteceu em São Paulo pelo 18º ano consecutivo de 10 a 13 de março. A edição reuniu mais de 200 marcas expositoras e 62 mil visitantes.
Materiais precisam ser protagonistas das emoções
As inovações apresentadas mostram que a cerâmica não está mais relegada apenas aos banheiros e cozinhas. Chegaram às salas de estar, cabeceiras, varandas e sacadas. “Empoderados pela tecnologia, que propicia grandes formatos, impressões de altíssima resolução e texturas, cresce também a demanda por protagonismo desses materiais”, destaca o designer Pedro Franco, fundador da A Lot Of Brasil. “Esses revestimentos não podem mais ser matéria-prima de fundo. Precisam trazer emoção. A indústria entendeu isso”, sentencia o designer, que este ano homenageia o bordado brasileiro em sua nova colab também com a Portinari.
Outro ponto de virada importante é que as coleções são altamente customizáveis, considerando especificadores e clientes coautores dos painéis. “As pessoas são chamadas a criar. As marcas oferecem uma plataforma com infinitas combinações. Peça fosca, brilhante, com paginação diagonal, horizontal, vertical. Assim um painel jamais será igual ao outro”, lembra Pedro.
“As superfícies se transformam em grandes telas de expressão artística e individual de cada pessoa”, reforça Juliana. Para Pamela Golin, gerente de produto da Portobello, a maior força das cerâmicas reside justamente na sua versatilidade de desenhos, tamanhos, espessuras, texturas e relevos. “Viram obras de arte”, define.
Experimentação constante
Antes as emendas eram um problema. Com as grandes lastras, isso acabou. Agora o novo desafio é a mescla com outros insumos, como argila, fibras, metal e outros materiais reciclados, como aponta Pamela.
Com as plantas abertas tais como os estúdios londrinos e nova iorquinos de 1960, surge também a preocupação pela uniformidade dos ambientes na hora de decorar e pela funcionalidade de cada objeto, como explica a gerente de marketing da Incepa e Roca Revestimentos, Christie Silva Schulka. E a cerâmica ganha pontos por ser ecologicamente mais correta que seus irmãos naturais, “por ter alcançado um status de segunda pele fidedigna e por ser mais leve, sem atrapalhar os cálculos estruturais das residências”, lista Christie, lembrando também dos custos mais baixos e dos tamanhos que cabem no elevador, uma das novidades da Roca para este ano.
HAUS se aliou à Expo Revestir 2020 e à Kinta Acabamentos, do Grupo Balaroti, para cobrir o evento e lista agora o guia definitivo das principais tendências em metais, louças e revestimentos. Certamente essas diretrizes e peças aparecerão nos projetos da próxima temporada e são excelentes inspirações para quem vai construir ou reformar.
Bricks are back
Os tijolinhos ingleses caíram na graça das marcas. Eles voltam às prateleiras das lojas em acabamentos lisos e rústicos, pois agora vários dos players gigantes do universo do revestimento aprenderam a valorizar a imperfeição dos materiais e sua beleza inerente. Influência da tendência japonesa Wabi-sabi, que desde 2018 reverberou por aqui.
A Palazzo Revestimentos traz tijolos cimentícios em sete opções de cores com texturas lisas e rústicas. A Lepri traz tijolinhos convencionais em diversas tonalidades, mas também surpreende com três variações. Maxitijolos de 7 x 23 cm, tijolos de granilite ou Terazzo, como é chamado nos palacetes da Itália, e tijolos em 3D com a queima japonesa Raku, resultando em produtos com efeitos únicos.
A Castelatto também investiu em diversas opções de bricks, compondo com vazios propositais para destacar musgos vivos, que fazem parte do produto, não precisam de cuidados e podem viver até sete anos apenas retirando umidade do ar.
Azulejos
Essa é outra tendência dos anos 1960, diretamente da casa da vovó, que agora volta com tudo. O 20 x 20 cm ganha novas roupagens e agradam a todos. Alguns com motivos contemporâneos em baixo relevo, outros com desenhos do Rococó, como é o caso da espanhola Dune, e até elementos árabes e marroquinos, bem coloridos ou terracota, como investiu a Roca.
A Lurca volta seus olhos para a Mata Atlântica, com motivos superalegóricos a elementos minimalistas. A Eliane traz uma série de azulejos assinados pelo designer carioca Zanine de Zanini, com cores e relevos diferentes. E, em comemoração aos 60 anos da marca, lançam o azulejo Poente, em um vermelho Velvet, que reinterpreta a azulejaria dos anos de 1960. Em homenagem a Athos Bulcão, Rodrigo Ohtake apresenta pela Solarium uma coleção de azulejos que permite layouts surpreendentes.
A Adamã, que faz manualmente cada azulejo, apresenta motivos religiosos dos Orixás, da natureza e alguns que lembram até o Rococó em cores que agradam a todos os gostos, indo do fendi ao vermelho vivo.
A Sofistiq vem com linhas P&B e coloridas, de motivos modernos até os tradicionais símbolos do art déco francês de 1920.
Mãe natureza
Se fosse para escolher uma única macrotendência da temporada, a biofilia venceria disparado. A maioria esmagadora dos fabricantes se inspira nas formas orgânicas para criar refúgios residenciais.
Uns com mais abstração, em linhas sinuosas, como as mesinhas da Brasigran e a mistura de mármores da Michelangelo Mármores, no estande assinado pelo lendário Jaime Lerner e a arquiteta Samira Barakat, e outras em referências diretas às formas dos animais, das plantas, do mar.
A Portinari, por exemplo, convidou a premiada arquiteta Juliana Medeiros para desenhar seu primeiro papel de parede e uma linha de revestimentos cerâmicos a partir da percepção sobre a natureza brasileira do artista modernista Cândido Portinari. A linha exalta desde a dança das areias do mar às folhagens largas e mais tropicais, como a Costela de Adão. Na paleta, tons e textura de areia, verdes fechados e terracota – cor convidativa que segue em ascensão desde a Semana de Design de Milão 2018.
A Roca lança a linha Amazônia, azulejos que criam uma floresta com fundo branco a partir de folhagens verdes típicas do habitat tropical. A Decortiles vem com linhas incríveis também, que valorizam diversas espécies florais brasileiras e insetos típicos dos nossos habitats.
Amadeirados
A madeira nunca perde sua majestade. E agora aparece nos revestimentos por meio dos amadeirados em formas e composições surpreendentes. A Ceusa traz desenhos super geométricos, contrastes de espessuras e recortes nas placas.
A Biancogres vai na mesma linha e apresenta peças escultóricas criadas a partir de cobogós, com assinatura da designer Ana Paula Castro. A Portinari traz peças como se fossem ondas esculpidas. Astra inova com cuba em bambu.
E diversas outras criadoras de expõem novas texturas e colorações de amadeirados, para piso, parede e teto. Dos vinílicos aos porcelanatos.
Técnicas artesanais brasileiras
A Revestir 2020 grita Brasil. Várias técnicas construtivas tipicamente brasileiras, ou tradições artesanais com sotaque brasileiro foram ressignificadas. O renomado designer Pedro Franco, fundador da A Lot of Brasil, criou para a Portinari a linha Artesania, que celebra o artesanato afetivo por meio do delicado bordado brasileiro. A Belamari traz pequenos revestimentos metalizados que lembram as tramas manuais.
A Arauco também apresenta uma mandala de bordado desenhada por Pedro Franco e recortada em seus painéis em um de seus lançamentos. A Durafloor vem com uma superfície que imita renda e a Guararapes, uma trama manual de palhinha.
A Lepri traz blocos criados a partir da reciclagem de sua matéria prima original com detalhes e riscos feitos manualmente com varetinhas pelos artesãos da empresa. A Castelatto homenageia os adobes, os tijolos de argila, tão utilizados pelo Brasil há algumas décadas, com um detalhamento incrível até das fibras que ficam soltas.
Relevos proeminentes e geométricos
Diferentes profundidades são exploradas nos revestimentos desta temporada para casa e construção. E com geometrias de todos os tamanhos e formatos, simétricos e assimétricos, que permitem a cocriação dos especificadores e dos clientes.
Do Chevron da Santa Luzia aos geométricos cheios de poesia da Savane Cerâmica, das superfícies em PVC da Astra, que podem receber qualquer cor e que não ficam devendo em nada aos concorrentes, aos relevos sutis da Eliane.
Terazzos italianos
Esse acabamento com cara de marmorite da casa da vovó e tradicional em palacetes por toda a Itália aparece em quase todas as marcas da feira. Alguns com as "pedrinhas" maiores, outros, menores, com cores de fundo que vão do cinza ao azul Tiffany, do marinho ao bege, combinando com todos os ambientes da casa, do banheiro ao living. A tendência veio em peso desde o ano passado em Milão, apareceu de forma tímida na última Revestir e agora é um dos ‘queridinhos’.
Verde
O azul Bic até aparece, mas, contrariando a aposta da Pantone, o verde foi o rei da paleta na Expo Revestir 2020. Coincidência ou não, a cor da esperança e da natureza, que para os cristãos representa renascimento, e, para os muçulmanos, a renovação espiritual.
E existe uma explicação técnica para isso. Na última Cersaie, a maior feira de revestimentos do mundo, no ano passado, em Bolonha, na Itália, foram apresentadas tecnologias, tintas e esmaltes novos que facilitam a reprodução de tons de verde, em especial. Várias fabricantes, então, adquiriram esse know-how ou desenvolveram seus próprios produtos e lançam agora uma série de produtos esverdeados.
A Roca vem com porcelanatos marmorizados bem verdes. A Atlas traz pastilhas, azulejos e grandes porcelanatos em diversos tons manchados de verde. A coleção da Decortiles vem em verde bem fechado. A Deca propõe cubas na cor do momento. A Guararapes traz o MDF verde alecrim, que cai bem em quartos, cozinhas e salas contemporâneas. A Eliane traz uma linha de verdes assinada pelo designer carioca Zanine de Zanine.
Brutalismo
Os cimentícios aparecem à exaustão com imperfeições que o tornam ainda mais charmoso. E parece que realmente vieram para ficar no mundo dos revestimentos. Destaque na primeira linha de louças da Docol. Em especial na assinada por Angelo Bucci, do SPBR Arquitetos, que este ano ganhou o cobiçado prêmio alemão iF Award Gold com peças para a marca.
A Deca também traz uma coleção de cubas brutalistas, a gaúcha Solarium e a catarinense Palazzo lançam diversas superfícies com o material e a Castelatto investe em réguas decorativas em diversas cores, do preto ao rosa.
Areia
Uma das texturas preferidas e um dos tons mais valorizados são os que remetem à areia, com brancos acinzentados e um fendi mais claro. A tendência aparece com força nas linhas da Portinari, nos porcelanatos marmorizados da Biancogres e nas pastilhas para piscinas com textura martelada da Belamari.
Metalizados
Dourados e acobreados, que dão um brilho próprio no acabamento, aparecem também como tendência. Sozinhos ou em mistura com outras finalizações simples ou foscas. A Roca traz geométricos curvos metalizados.
A Dune reúne diversos revestimentos hexagonais e azulejos inteiramente metalizados. A Santa Luzia apresenta uma linha que combina ripas amadeiradas com ripas metalizadas.
A Ceusa surpreende com uma coleção que imita a forma das rosas, em diversos tons metálicos.
Oxidação
Na toada dos metalizados, as fabricantes valorizam o processo de oxidação. Deca com cubas que imitam os desenhos do processo de corrosão natural; Villagres com o Iron Work, baseado na gráfica do aço Corten, em ripas com 24 faces, com movimento bem grande de composição.
e em grandes formatos mais avermelhados; e a Palazzo que entrega tons azulados e dourados do processo.
Cubas, duchas e torneiras viram joias
O minimalismo em sua forma pura começa a dar adeus. O maximalismo chegou chegando. Deca apresenta cubas com textura diamante ou plissado, e marcações a laser nos monocomandos e misturadores.
Rubinettos também traz torneiras com texturas diamantadas em cobre e dourado, bem como a Lorenzetti, que inaugura sua linha rose gold.
Design assinado
O design apurado desenvolvido pelos principais profissionais de arquitetura e design do Brasil e do mundo é o grande responsável por muitas das inovações em revestimentos e peças para banheiro da fashion week da construção da América Latina. Entre os destaques, a ducha Toró, primeiro chuveiro para áreas externas que não depende de um ponto fixo de água, criada por Marcelo Alvarenga, da Play Arquitetura, para Docol. Basta conectar a uma mangueira comum de jardim, e pronto! A peça tem garantia vitalícia, é todo em aço inox, base de concreto Ductal - seis vezes mais resistente que o comum -, acionamento giratório e uma vazão de até 12 litros por minuto.
A Portobello vem com diversas iniciativas. Apresenta mesas em porcelanato que brincam com desníveis e formas arredondadas pelo designer gaúcho Guilherme Wentz; revestimentos com metal imbuído na coleção do designer de joias Antonio Bernardo; pastilhas arredondadas em formatos irregulares, imitando docinhos vistos de cima, pela designer italiana de Turim Paola Navone; e cobogós a partir do molusco sururu, considerado patrimônio imaterial de Alagoas, na comunidade do Vergel, por Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrosio, dois dos principais nomes do design neovernacular, para Pointer, que também é do mesmo grupo da Portobello.
A Roca traz cubas assinadas pelo prestigiado arquiteto das celebridades João Armentano. Os modelos variam em tamanho e formato, sendo perfeitas tanto para grandes residências quanto espaços compactos. Todas as cubas primam por linhas retas e algumas despertam a surpresa pela forma trapezoidal. Estão disponíveis nas cores matte, preto e branco.
Destaque ainda para as linhas da Solarium, assinada por Arthur Casas, Rodrigo Ohtake e Vivian Coser. Casas brinca com encaixes de alturas diferentes que geram desenhos geométricos lúdicos. Ohtake traz o cobogó Arco, que não tem frente nem verso definidos, possibilitando diversos jogos de plano. A superarquiteta Vivian desenvolveu um revestimento de parede que fundiu DNA da arquitetura limpa e brutalista de Carlo Scarpa, com a arte vibrante de Sarah Morris. Para finalizar, a novata Cerâmica Almeida celebra o Copan, um dos edifícios mais emblemáticos do país, com revestimento único.