Conheça o tropical deco, o regionalismo arquitetônico supercolorido de Miami

Aléxia Saraiva
26/01/2020 11:02
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A Washington Avenue integra o Distrito Art Déco de Miami com diversos prédios representantes do estilo Tropical Deco. Foto: Bigstock

A Ocean Drive, avenida beira-mar em South Beach, Miami, não chama atenção apenas pela privilegiada vista da praia. Para descobrir por que, basta olhar para o outro lado da avenida. A via é uma das principais do chamado “Distrito Art Déco” da cidade, região que concentra 960 prédios históricos, a maioria construídos entre as décadas de 1930 e 1940 influenciados pelo movimento arquitetônico que dá nome ao perímetro.
Mas há algo de peculiar ao estilo incorporado em Miami. Com tonalidades pastel e ornamentos que remetem à fauna, flora e oceano, esse regionalismo extrapola o art déco tradicional, sendo conhecido como tropical deco. São restaurantes, bares e hotéis cuja estética reforça a imagem de Miami como um resort à beira-mar. Entre os mais famosos, estão o Hotel Colony, o Hotel Breakwater e o Hotel Waldorf Towers, todos ao longo da Ocean Drive.
Influências náuticas moldam adornos das construções em estilo tropical deco. Foto: Vivek Sharma/Unsplash
Influências náuticas moldam adornos das construções em estilo tropical deco. Foto: Vivek Sharma/Unsplash
Sua importância ganhou reconhecimento já na década de 1970. Em 1979, o conjunto arquitetônico foi transformado em distrito histórico norte-americano, com ações especiais para sua preservação através da Liga de Preservação do Design de Miami (MDPL, na sigla em inglês).

As origens do estilo

A estética simpática dos prédios não foi obra do acaso. Ela remete à evolução da própria história da arquitetura, que encontrou no art déco um estilo de transição entre o ecletismo e o modernismo. Quem explica é o arquiteto Rodolfo Sastre, especialista em história, teoria e crítica de arte e professor de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Positivo. Segundo ele, o início do século 1920 é marcado por um conflito arquitetônico: enquanto novas técnicas construtivas começam a revolucionar a área, o estilo eclético, dominante no século 19, ainda tende para uma estética que remete ao passado.
“Não tem como olhar para o futuro quando se tem uma reprodução do estilo histórico”, aponta Sastre. “Por isso, em 1900 começam a surgir vanguardas artísticas, conciliando essa contradição. Elas buscam uma nova expressão na arquitetura e nas outras artes, e marcam um período de preparação para uma ruptura”, explica. Expressões como o art nouveau, o dadaísmo, o futurismo e o surrealismo exemplificam essa fase.
Localizado na Ocean Drive, o Breakwater Hotel é um dos mais icônicos da região. Foto: Bigstock
Localizado na Ocean Drive, o Breakwater Hotel é um dos mais icônicos da região. Foto: Bigstock
Após a Primeira Guerra Mundial, a arquitetura percebe o fortalecimento de algumas dessas linhas – e o art déco é uma delas, sendo consolidado em 1925, em Paris, durante a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, evento que convergia as inovações na área.
Salvador Gnoatto, professor de Arquitetura e Urbanismo na PUC-PR, explica algumas das características clássicas do movimento. “O art déco se aproxima mais do estilo eclético na volumetria e do moderno na ausência de ornamentos”. Ou seja: a proporção dos prédios permanece a mesma, subdividindo-se em três partes bem defini-das — a base, o corpo e o coroamento —, mas ela já esboça uma simplificação dos adornos que caracterizavam as edificações ecléticas, como capitéis, por elementos geométricos.

Regionalismos do art déco

O apogeu do estilo se deu entre 1930 e 1940, quando o art déco passou a ser apropriado por diversos países — mas com algumas diferenças entre eles, o que Sastre define como regionalismos. Alguns exemplos são o Pueblo Deco, no Sudoeste dos Estados Unidos; o art déco náutico, no Uruguai; e o marajoara déco, no Norte do Brasil.
Cores pastel são uma característica marcante do movimento. Foto: Bigstock
Cores pastel são uma característica marcante do movimento. Foto: Bigstock
O tropical deco entra na mesma linha de pensamento. Segundo o MDPL, os prédios do distrito histórico foram construídos em um período específico da história dos Estados Unidos que proporcionou a criação de suas particularidades. Durante a recuperação da crise econômica de 1929 e antes do início da Segunda Guerra Mundial, os projetos foram influenciados por um otimismo futurístico que se via em feiras de arte norte-americanas da época. “A partir disso, Miami tem o art déco com uma linguagem exuberante, muito tropical, com cores e vegetação estilizadas”, detalha Sastre.
O que veio depois foi marcado pela Segunda Guerra Mundial. Segundo os arquitetos, para a história da arquitetura, ela enterra o art déco e dá início ao modernismo. É o fim dos ornamentos e o início da funcionalidade. E o início de outra história, muito diferente do que se havia visto até então.

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