Estilo & Cultura
Elenco do Castelo Rá-Tim-Bum vem a Curitiba! Descubra como era feito o cenário do programa
“Morcego, ratazana, baratinha e companhia, está na hora da feitiçaria!” A frase do relógio falante ainda ecoa na cabeça de gerações que cresceram assistindo ao Castelo Rá-Tim-Bum nos idos anos de 1990. Agora o programa infantil de maior sucesso do Brasil dará o ar da graça neste domingo (2) em Curitiba durante o Geek City 2018, quando parte do elenco original e dos criadores do programa participarão de um painel.
HAUS aproveitou o evento (clique aqui para mais informações) e foi atrás de uma das mentes responsáveis por dar vida ao castelo dos nossos sonhos, o cenógrafo e arquiteto Alexandre Suárez de Oliveira, 52 anos. O profissional tinha acabado de sair da faculdade quando entrou para o quadro de cenógrafos da TV Cultura em 1990 e ajudou a conceber os cenários de Mundo da Lua, X-Tudo e Glub Glub. Hoje Suárez é professor do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A ideia era fugir do estereótipo de castelo de bruxa, dos estilos tradicionais dos castelos europeus no alto de uma colina. “A principal fonte de inspiração veio das obras modernistas do arquiteto catalão Antoni Gaudí“, explica Suárez, que pensou no conceito do castelo junto com outros seis cenógrafos da equipe. “Uma arquitetura muito criativa, um Art Nouveau colorido, inusitado, com muito movimento.”
O arquiteto conta que todas as inspirações foram retiradas de livros sobre o catalão. “Ainda não existia a internet da maneira como temos hoje. Quando fui fazer meu doutorado em Barcelona, anos mais tarde, entrei na Casa Batlló e me emocionei. Parecia que eu estava em um pedaço do Castelo Rá-Tim-Bum.”
Outra fonte de inspiração foi a memória infantil dos autores da cenografia, o que inclui referência a Jetsons, Scooby-Doo, Vila Sésamo, Penélope Charmosa, entre tantos outros programas infantis anteriores. “A gente sempre pensava como uma criança imaginaria aquilo e faria determinada atividade”, relembra Suárez. “A minha própria memória infantil começa na Vila Sésamo. Nos baseamos muito nessas lembranças”.
Penélope, a repórter cor-de-rosa do programa, foi inspirada em Penélope Charmosa, e a personagem Mau foi baseado no Gugu, da Vila Sésamo, que só tinha pinta de mau e vivia em uma lixeira.
Como o castelo tinha 6 mil anos de idade na história, os cenógrafos tinham toda a liberdade para misturar estilos, o que incluiu também o tom futurista, já que o Tio Victor era um cientista maluco. “Cada um dos cenógrafos tinha predileção por uma linguagem. Alguns gostavam mais das coisas de alta tecnologia, mas eu ficava com a parte que necessitava de um bom domínio do projeto e de soluções técnicas mais apuradas”, conta o cenógrafo, que ficou responsável pelas passagens secretas do castelo.
A mais famosa foi a porta do quarto do Nino. “Originalmente o quarto não existia. Quando a direção nos pediu o quarto, o único lugar que sobrava era debaixo da escada. O desafio foi bolar uma entrada que não parecesse um lugar qualquer.”
Suárez se debruçou uma semana inteira sobre o projeto da entrada do quarto e a resposta veio no sonho. “Sonhei com uma parede girando em seu próprio eixo. Desenhei e fizemos”, celebra. A inspiração para o assento da porta veio do desenho animado Scooby-Doo, em que os personagens sentavam em bancos ou cadeiras, a parede girava e em instantes eles não estavam mais lá.
Será que a TV brasileira pode sonhar com um próximo Castelo Rá-Tim-Bum em termos de sucesso e conceito de projeto? Para Suárez, sim. “Hoje tem muito recurso. A produção foi muito revolucionária naquela época, mas hoje acontecem pequenas revoluções, em menor escala. Tudo está mais democrático. O que é bom vai se salvar.”