Estilo & Cultura
Praça do Expedicionário: uma casa para todos os pracinhas
O imponente edifício que hoje abriga o museu ocupa espaço da Praça do Expedicionário desde 1951. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Ao fim da segunda Grande Guerra, em 1945, a Força Expedicionária Brasileira voltou da Europa vitoriosa. Mas louros e medalhas não bastavam: os ex-combatentes precisavam de atendimento médico, emprego e se readaptar à rotina civil. Em Curitiba, a criação da Casa do Expedicionário deu assistência aos pracinhas e, de quebra, ajudou a preservar a memória dos mais de 1.500 combatentes paranaenses.
Por mais que já existisse um caráter formal nas reuniões da recém-criada Legião Paranaense do Expedicionário, faltava ao grupo uma sede. Isso só aconteceu depois que o coronel José Machado Lopes, ex-comandante da Engenharia da FEB e diretor da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (ferrovia que ligava os dois estados), assumiu a presidência da Legião. Consultado pelo então governador Moisés Lupion, que buscava um nome para a prefeitura de Curitiba, Lopes indicou Lineu do Amaral, seu assistente na Rede, o que facilitou a cessão da Praça do Expedicionário (renomeada em 1945 em honra aos feitos do Brasil na Guerra) aos legionários.
Para levantar recursos, os pracinhas pediram doações, realizaram bingos e até a rifa de um automóvel. Em 15 de novembro de 1951, era inaugurada a Casa do Expedicionário. “Neste dia, o pracinha, com justo orgulho, pode cruzar as colunas da entrada da casa, que agora era sua”, comentou o Coronel Claudinei Roncolatto, vice-presidente da LPE, durante a solenidade em celebração aos 70 anos da Legião Paranaense do Expedicionário.
A pedidos do coronel Lopes, o projeto do prédio – que ficou a cargo do engenheiro Euro Brandão – precisava ter, além das salas para atendimento médico, jurídico e social, pelo menos dez apartamentos, para os pracinhas que viessem do interior e precisassem de abrigo temporário. Para a fachada, a recomendação era que tivesse estilo clássico e referência à arquitetura italiana dos lugares por onde a FEB passou. O alto do prédio recebeu uma escultura em pedra-sabão criada por Humberto Cozzo, representando uma brigada brasileira.
Logo após a inauguração, civis e militares voluntários passaram a oferecer auxílio aos pracinhas. Além de tratamentos de saúde, ex-combatentes e familiares tinham por lá ajuda jurídica e previdenciária.
Com a mudança na legislação, que estendeu benefícios a todos os ex-combatentes, eles puderam abrir mão da assistência prestada pela Casa. “Era o momento de assegurar a perpetuidade da memória da FEB”, completou Roncolatto.
Com a mudança na legislação, que estendeu benefícios a todos os ex-combatentes, eles puderam abrir mão da assistência prestada pela Casa. “Era o momento de assegurar a perpetuidade da memória da FEB”, completou Roncolatto.
Em 1980, a Casa se transformou no Museu do Expedicionário, que antes ficava restrito a uma sala no prédio, que recebeu o nome do Sargento Max Wolff Filho, militar paranaense morto em uma das últimas operações da FEB na Itália.
Segundo Rachel Regnier, atual presidente da Legião, o acervo é um dos maiores do país. “Conforme os pracinhas iam morrendo, as famílias doavam o material. Mas muitos militares brasileiros e de outros países trouxeram coisas para serem expostas por aqui também”, confirma. O acervo tem fardas, armas, veículos de combate e até mapas, cartas e documentos históricos, utilizados no decorrer da participação da FEB na Guerra. Um dos xodós é o avião de caça P-47 Thunderbolt (nave utilizada pelas forças brasileiras na Itália), fruto do esforço do Sargento Eronides João da Cruz, um dos poucos pracinhas paranaenses ainda vivos. Trazido dos campos de batalha, o avião foi instalado em 1969, e é um dos únicos três exemplares ainda preservados no Brasil.
* especial para a Gazeta do Povo