Estilo & Cultura
Ícone do Natal curitibano, Palácio Avenida quase foi demolido na década de 1970
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Foto: Gazeta do Povo/Arquivo | Gazeta do Povo
Cartão-postal do Natal de Curitiba, o Palácio Avenida já era famoso muito antes das apresentações do coral infantil que encantam curitibanos e turistas há quase 30 anos. Construído no início do século 20, o prédio foi um dos primeiros edifícios de porte da cidade e acolheu comércios e espaços culturais que marcaram época na cidade.

Para conhecer toda esta história é preciso voltar ao ano de 1927, quando o comerciante libanês radicado em Curitiba Feres Merhy idealizou e deu início à construção do prédio. Concluído dois anos depois, a imponente edificação, com cerca de 90 metros de fachada e 18 de altura, contemplava diferentes usos. Nele estavam instalados o Cine-Theatro Avenida, o Restaurante/Bar Guairacá, lojas e escritórios, além de apartamentos residenciais.
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Seus tempos de glória se estenderam por algumas décadas, mas culminaram no abandono do prédio, que permaneceu fechado durante anos até ser adquirido, em 1974, pelo extinto Bamerindus. A intenção de Avelino A. Vieira, fundador e então presidente do banco, era de fazer do prédio a sede da organização. Empecilhos de diferentes ordens, no entanto, só permitiram que isto se tornasse possível no início dos anos 1980, quando José Eduardo de Andrade Vieira assumiu a presidência do Bamerindus com a meta de restaurar o Palácio Avenida.
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A reforma
O desafio de dar nova vida e uso ao prédio ficou a cargo dos arquitetos Rubens Meister e Elias Lipatin Furman. “A diretoria do Bamerindus nos procurou para elaborar o projeto de restauração e adequação do espaço interior desta agência, que seria a mais importante do Brasil”, lembra Furman.
Como o prédio já integrava a paisagem urbana da Rua XV de Novembro, tombada em 1974 pelo governo do estado, foi necessário que o projeto seguisse parâmetros específicos relacionados à sua volumetria e altura, por exemplo.
“Quando chegou até nós [Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC)], o projeto mantinha a fachada, mas trazia um prédio de cerca de 15 andares grudado a ela. Explicamos que este prédio não poderia [ser erguido] desta forma, e nossa sorte foi que o Elias tem uma ótima formação e que, no Uruguai [seu país de origem], a preservação do patrimônio sempre esteve presente”, conta a arquiteta Rosina Parchen, ex-chefe da CPC.

Assim, o escritório Rubens Meister elaborou um projeto que seguiu os parâmetros estabelecidos pelo patrimônio estadual e preservou a fachada e o antigo teatro do edifício, mas modernizou suas instalações internas.
“Este foi um dos grandes desafios do projeto: preservar a linguagem arquitetônica do exterior [em estilo eclético], mas desenhar um interior racional e com uma linguagem do século 21”, destaca Furman.
Nele, vãos livres de 10 metros, sustentados por lajes protendidas, e instalações de iluminação e ar-condicionado aparentes destacam a modernidade e se contrapõem à fachada histórica do prédio de nove andares: dois subsolos, dois de agência, três de setores administrativos e dois superiores, destinados à diretoria. “Estes dois andares superiores são recuados e aproveitam a inclinação das vigas [do telhado]. Assim, eles [não são avistados da XV de Novembro] e não alteram o visual do conjunto”, explica o arquiteto.
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Inauguração
Após dois anos e meio de obras e um investimento de 15 milhões de dólares (cerca de R$ 50 milhões, em valores atualizados), o Palácio Avenida foi reaberto em 5 de março de 1991, mesmo ano em que foi realizada a primeira apresentação do coral de Natal, atualmente sob organização do Bradesco.
Passados 90 anos de sua construção, o edifício mantém sua importância histórica e segue como ícone da paisagem urbana de Curitiba, como destaca Rosina. “Esta é uma obra feita não apenas para o cliente, mas interessante para a cidade. Vou ao Palácio Avenida e sinto uma emoção muito grande, pois o tenho como meu”, finaliza Furman.