Nossa Senhora Aparecida em fachada no Água Verde
As capelinhas estão por toda parte. Repare. Do Boqueirão ao Alto da Glória, em avenidas famosas do Água Verde e ruelas silenciosas do Ahú. Tão onipresentes quanto as figuras que representam, geralmente ficam nos frontões das casas ou em pequenas grutas no jardim, com o santo de predileção do proprietário, vidro de proteção e até lâmpada para acender à noite. Percebê-las, porém, nem sempre é fácil porque em seu DNA está a sutileza. Mas basta olhar para cima.
Foi assim que o fotógrafo Cadi Busatto, 51 anos, começou sua caçada aos santos. Há seis anos, usa as horas de folga para se aventurar pelas ruas e registrar o que chama de “estética do esquecimento”. Ele explica: a beleza das capelinhas vai se deteriorando ao longo do tempo. “Os santinhos são bastante comuns em Curitiba, coisa que não vi com a mesma frequência em outras cidades”, conta o fotógrafo catarinense, que se enamorou pelas formas artesanais das capelinhas. “Cada uma delas conta com alvenaria diferente e detalhes artesanais que as tornam únicas.”
Embora a origem seja incerta, seu objetivo é claro: proteger os lares e seus moradores, como escreve o frei holandês Francisco van der Poel, no Dicionário da Religiosidade Popular. O arquiteto e historiador Key Imaguire Junior acredita que a prática é antiga e deve ter se originado em áreas rurais, “onde a necessidade de sorte com o clima, a colheita e a saúde dos animais era mais presente”.
Embora a origem seja incerta, seu objetivo é claro: proteger os lares e seus moradores, como escreve o frei holandês Francisco van der Poel, no Dicionário da Religiosidade Popular. O arquiteto e historiador Key Imaguire Junior acredita que a prática é antiga e deve ter se originado em áreas rurais, “onde a necessidade de sorte com o clima, a colheita e a saúde dos animais era mais presente”.
Depois, com o crescimento urbano e a imigração estrangeira, as capelinhas se espalharam. Em Curitiba, principalmente nas décadas de 1940 e 1950. As imagens mais populares são as das Nossas Senhoras, em suas diversas aparições. No topo do ranking estão Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora Aparecida. Em seguida, São José e Santo Antonio.
No Seminário, a dona de uma das casas com capelinhas recebeu a reportagem com carinho, mas preferiu o anonimato por medo de ver seu próprio nome no jornal. Ela conta que o pai não era muito religioso e levantou um oratório na casa só para agradar sua mãe, uma italiana de fé inabalável. Hoje a família não guarda a mesma crença de antigamente, mas mantém o santo no frontão como uma souvenir da história da família. Caso raro.
No Seminário, a dona de uma das casas com capelinhas recebeu a reportagem com carinho, mas preferiu o anonimato por medo de ver seu próprio nome no jornal. Ela conta que o pai não era muito religioso e levantou um oratório na casa só para agradar sua mãe, uma italiana de fé inabalável. Hoje a família não guarda a mesma crença de antigamente, mas mantém o santo no frontão como uma souvenir da história da família. Caso raro.
Quando a especulação imobiliária não derruba os santos, muitos herdeiros da cidade preferem deixar as capelinhas vazias: um reflexo não só da laicização da população, como da proliferação de outras crenças. O fotógrafo catarinense garante que até a imagem do buda sorridente já viu nos oratórios. Por isso, não abaixe a guarda. Você pode se surpreender.
Estatueta de São Jorge, um dos santos mais venerados na tradição ortodoxa.
São Miguel Arcanjo, nas proximidades do Alto da Glória: o anjo protetor dos justos é conhecido por seu combate contra o mal.
Santo Antônio: uma das imagens que mais aparecem nos frontões de Curitiba.