Estilo & Cultura

O alto, o gordo e o magro: conheça três prédios que se destacam na paisagem de Curitiba

Luan Galani
24/02/2016 01:00
Thumbnail
Fino como uma folha de papel, o Edifício Soft Premium parece até que vai sair dançando pelo vento a qualquer rajada mais forte. Faça o teste. Quando passar pela Rua Padre Anchieta, onde ele se ergue sobre o Terminal Campina do Siqueira com quase 60 metros de altura, tente abraçá-lo. Com um abraço e meio, o gigante magrinho retribui a gentileza e prova que é a construção mais estreita de Curitiba. Uma medição rápida comprova: são 3,5 metros de largura.
Edifício mais fino da cidade é resultado da criatividade dos arquitetos, que tiveram que projetar com um terreno minúsculo. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.
Edifício mais fino da cidade é resultado da criatividade dos arquitetos, que tiveram que projetar com um terreno minúsculo. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.
“Por muito tempo, o prédio sofreu com o preconceito das pessoas. Muitos não queriam morar aqui porque achavam que o vento fazia a estrutura balançar. Mas não passa de história. Ele tem uma fundação de 15 metros”, desmistifica o síndico Douglas Daronco, 51 anos, professor de artes aposentado. Depois de mais de uma década à frente da administração do edifício, Daronco sabe todas as medidas do prédio quase de cor. A construção ganhou vida em 1991 sob tutela do engenheiro Fernando Coelho de Almeida Reis, sem se comprometer com alguma linguagem arquitetônica específica. Ao todo, são 17 pavimentos, sendo dois comerciais e 15 residenciais, com apartamentos que variam de 22 a 25 m².
A personal trainer paulista Raquel Gobi mora há 4 meses no edifício e brinca que ainda dá medo de olhar. “Ele é uma passarela [risos]. Mas é um dos únicos apartamentos em que já morei que não tem umidade, porque bate sol de todos os lados”, confidencia.
O que para muitos pode parecer loucura, para a arquitetura é uma solução criativa de adaptação ao terreno e às exigências da legislação. O arquiteto Rodolfo Sastre, que leciona na Universidade Positivo (UP), explica: “O terreno onde o prédio está é fino, então essa forma mais fina da construção parece ter surgido para atender à área disponível, respeitando todas as demandas do Plano Diretor para aquela região, como a presença de espaços comerciais embaixo e uma altura mais avantajada”.
O mais alto
Com 152 metros, prédio mais alto de Curitiba marca a paisagem brincando com a variação de volumes e com os cheios e vazios. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
Com 152 metros, prédio mais alto de Curitiba marca a paisagem brincando com a variação de volumes e com os cheios e vazios. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
O centro da cidade foi o ponto escolhido para receber a construção mais alta de Curitiba. É o prédio Universe Life Space, na Rua Comendador Araújo, que soma 152 metros de altura e 44 pavimentos distribuídos em uma única torre. Entregue em 2014 pelas incorporadoras Thá e Rossi, com projeto do escritório paulista Königsberger Vannucchi, o empreendimento apelou para o monumental dos grandes centros e se tornou um marco na paisagem. Dotado de uma linguagem bastante contemporânea, o edifício apresenta variação de volume, brinca com o cheio e o vazio, e tem uma boa integração do térreo com o entorno.
Redondo e à frente de seu tempo
Não foi o preço, mas o refinamento arquitetônico que afugentou compradores do prédio giratório. Foto: Antônio More / Gazeta do Povo.
Não foi o preço, mas o refinamento arquitetônico que afugentou compradores do prédio giratório. Foto: Antônio More / Gazeta do Povo.
O prédio giratório do Mossunguê é uma poesia de concreto na cidade. A começar pelo nome, Suite Vollard, que faz referência à mais aclamada série de gravuras de Picasso. Lançado em 2004 como o primeiro prédio giratório do mundo com andares que se movem independentemente, nunca chegou a ser habitado. E isso foi suficiente para desencadear diversas lendas urbanas sobre a nossa Torre de Pisa. Inclusive de que a Xuxa teria comprado um dos apartamentos. Mas isso não passa de história da Carochinha.
“Com a inovação tecnológica, o edifício trouxe uma possibilidade interessante de resolver os problemas de insolação ao girar. Isso é um pensamento arquitetônico refinado, porque normalmente a arquitetura é estática”, avalia Sastre. “Por isso ele esteve à frente de seu tempo. Foi um prédio laboratório. Muita gente diz que o custo inicial dos apartamentos impediu o sucesso do empreendimento, mas não é verdade. Hoje existem empreendimentos até mais caros. O que faltou para o Vollard foi o apelo historicista, das edificações antigas, que caíram no gosto do curitibano.”
Atualmente ele faz parte de um imbróglio judiciário contra a extinta Construtora Moro e pertence à Piemonte Ltda, do Grupo Inepar, que não respondeu às tentativas de contato da reportagem até esta publicação.