Estilo & Cultura
Lisboa é eleita cidade destaque de 2017. Conheça seus novos segredos
MAAT, Lisboa. Foto: Bigstock
Lisboa é dessas cidades que não exigem muito esforço do visitante para cair na nossa graça. A arquitetura histórica, de pequena escala e quase despretensiosa, é responsável por grande parte do charme. Há alguns anos, porém, a cidade se abriu para a possibilidade do redesenho urbano. Fez um plano de reabilitação, encomendou novos espaços e repensou as áreas existentes.
A atividade chamou a atenção do Banco Europeu de Investimento, que liberou 250 milhões de euros para a cidade investir na renovação urbana até 2020. O resultado veio agora: Lisboa renasceu e foi eleita a Cidade Destaque de 2017. A coroação vem de um seleto júri de design e arquitetura da revista britânica Wallpaper, uma das mais renomadas do mundo.
“Essas iniciativas são uma boa maneira de expandir, renovar e estabelecer um diálogo urbano sensível e maduro entre o antigo e o novo, onde uma arquitetura de qualidade faz toda a diferença”, diz o arquiteto e urbanista Marco Dudeque, que leciona na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Ele compara: “Boa parte das cidades europeias já passou por algum tipo de renovação urbana. Talvez a mais conhecida se deu em Paris que, nas mãos do barão de Haussmann, passou por uma revolução urbana até 1870. Lisboa, nas últimas décadas, tem investido na construção de edifícios projetados por arquitetos de renome internacional, criando assim novos marcos urbanos e incrementando o turismo”.
Para o arquiteto e urbanista português Miguel Baptista-Bastos, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, a premiação é justa. “As novas edificações têm contribuído para a melhora da cidade e a maneira como ela é usufruída pelos cidadãos, trazendo novos estímulos”, diz ele. “Lisboa é uma das metrópoles mais belas do mundo, não só pela sua história, morfologia, diferentes tipos de arquitetura no mesmo local, uma luminosidade única, como também por sua população, que é de uma enorme simpatia e tem um desprendimento muito salutar.”
Confira algumas das novas edificações que redefiniram a linguagem arquitetônica da capital portuguesa, principalmente na região de Belém e das proximidades do Rio Tejo:
Centro Champalimaud
A Fundação Champalimaud é uma instituição privada de utilidade pública que se dedica a desenvolver pesquisas biomédicas, principalmente nas áreas de oncologia e neurociências. Em 2010, inaugurou um centro de mesmo nome para fomentar ainda mais pesquisas científicas multidisciplinares.
O projeto é do arquiteto indiano Charles Correa, que criou uma bela relação com a paisagem, devolvendo à cidade uma importante área na zona ribeirinha de Pedrouços, junto a Belém, onde o Rio Tejo encontra o Atlântico, como lembra o arquiteto Marco Dudeque.
O centro é formado por três grandes edifícios interligados e um jardim tropical. “Neste edifício percebemos de modo subliminar, porém, visível, a influência do arquiteto Álvaro Siza, nome que não pode ficar de fora quando se trata de arquitetura contemporânea em Portugal”, destaca o professor da UFPR.
Museu dos Coches
O museu público, que abriga uma das maiores coleções de carruagens do mundo, é o mais visitado de Portugal, e precisou sair de um antigo palácio neoclássico do século 18 em meados dos anos 2000, quando a questão ganhou a pauta política.
O arquiteto comissionado foi o brasileiro Paulo Mendes da Rocha, um dos últimos da heroica geração de modernistas brasileiros da Escola Paulista e o único brasileiro vivo a ter um Pritzker na prateleira, o prêmio de arquitetura mais importante do mundo. O museu continuou na região de Belém e assumiu a ideia de uma praia comunal, elevando-se do chão e criando um novo espaço público. Foi aberto em 2015.
MAAT
O novo hotspot da cidade é o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), com projeto da arquiteta britânica Amanda Levete, no local da antiga central elétrica Central Tejo, em Belém. Inaugurado em 2016, o museu traz uma linguagem mais fluida e escultural, em que a arquitetura se mimetiza com o terreno em suaves curvas rampeadas, reconectando a cidade à orla marítima, como avalia o professor da UFPR Marco Dudeque.
Apesar do diálogo inteligente com o entorno, a obra de Levete parece com um monstro saído das profundezas do rio, já que sua fachada é coberta por um revestimento geométrico que lembra a pele de uma cobra. A obra custou um total de 17 milhões de euros, que foram subsidiados pela Fundação EDP, um braço empresarial da maior companhia de energia de Portugal. Existem planos de transformar um grande reservatório de gás da região em um restaurante assinado pelo astro Philippe Starck.