Estilo & Cultura
Carpintaria em Curitiba mantém a tradição dos lambrequins
Joel Vendramin, da Carpintaria São Judas Tadeu, segue fabricando lambrequins que povoam a paisagem de Curitiba. Rodrigo Sóppa/Gazeta do Povo.
“Quem procura lambrequim no Google encontra a gente logo na primeira página”, diz Joel Vendramin, 71 anos, que se orgulha de ter “uma das últimas, senão a última carpintaria que faz lambrequins no Paraná”. Das serras-fita e lixadeiras da Carpintaria São Judas Tadeu, instalada na Manoel Ribas, em Santa Felicidade, há 132 anos, saem, além de portas, janelas e assoalho de madeira, os famosos lambrequins. “Vendemos para Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e todo o Paraná”, diz Vendramin.
E para quem acha que a venda é apenas de peças de reposição, seu Joel avisa que a procura é grande para ornamentar casas recém-construídas, principalmente no campo. O custo é de R$ 70 o metro linear. “Ainda assim tem gente que até acha que o lambrequim é uma invenção nova”, diverte-se.
Quem passa pela São Judas Tadeu não sai sem uma boa resposta histórica sobre os lambrequins. “Cresci na carpintaria e meu pai e avô contavam de sua forte presença nas casas, especialmente as de madeira, dos poloneses, alemães e italianos. Mas os pais da criança são mesmo os poloneses.”
A explicação de seu Joel é a mais corrente, mas, para os estudiosos da arquitetura paranaense, há outros detalhes nesta história. A origem da palavra, por exemplo, parece ter vindo do neerlandês medieval. Lamperkijn seria o diminutivo de lamper, que significava pano, véu, explica Irã Dudque, arquiteto e historiador, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) .
História
O uso do ornamento, que nasceu como pingadeira para escoar a água da chuva, no Paraná data do fim do século 19 e, como os construtores mais ativos no estado eram os imigrantes, acreditou-se que os lambrequins eram uma prova da influência deles. “Mas houve imigração em outras partes do Brasil, onde os lambrequins não eram tão triviais e a solução foi inventar genealogias que acabaram ligando os lambrequins aos poloneses. Ora, se a maioria dos poloneses que imigraram para o Brasil se estabeleceram na região de Curitiba, e como só em Curitiba todas as casas de madeira foram decoradas com lambrequins, o lambrequim só podia estar relacionado aos poloneses”, aponta Dudeque.
O uso do ornamento, que nasceu como pingadeira para escoar a água da chuva, no Paraná data do fim do século 19 e, como os construtores mais ativos no estado eram os imigrantes, acreditou-se que os lambrequins eram uma prova da influência deles. “Mas houve imigração em outras partes do Brasil, onde os lambrequins não eram tão triviais e a solução foi inventar genealogias que acabaram ligando os lambrequins aos poloneses. Ora, se a maioria dos poloneses que imigraram para o Brasil se estabeleceram na região de Curitiba, e como só em Curitiba todas as casas de madeira foram decoradas com lambrequins, o lambrequim só podia estar relacionado aos poloneses”, aponta Dudeque.
Fato é que o modismo foi transformado em imposição legal em 1914 com a Lei Municipal n.° 413, que regulamentou as construções em madeira e impôs que todas deveriam ter “as abas do telhado guarnecidas de lambrequins” pintados com tinta a óleo.
Décadas depois, vendo as casas de madeira em vias de extinção e com elas as singelas peças recortadas e pregadas nos beirais, é reconfortante visitar e observar o trabalho de seu Joel Vendramin. “Os lambrequins contam parte da história da nossa cidade e aqui tudo o que queremos é preservar essa tradição.”