Estilo & Cultura
Colônia rural perto de Curitiba ganha uma das mais altas (e belas) igrejas ucranianas do Brasil
Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi
A união dos moradores da Colônia Marcelino, em São José dos Pinhais, fez do sonho de acolher mais fiéis na igreja da Santíssima Trindade, que há cerca de um século atende a comunidade ucraniana da região, uma realidade.
Inaugurada com uma grande festa neste domingo (4), a nova igreja da Santíssima Trindade, construída ao lado da antiga edificação, não só destaca a arquitetura típica dos templos ucranianos como está entre as maiores construções do estilo no estado, como defendem a comunidade e seus projetistas.
Com cerca de 740 m², a igreja tem 32 metros de altura (quase 35 metros, se considerada a cruz da cúpula central) e capacidade para 450 pessoas sentadas. “Se contarmos os lugares em pé, ela chega a abrigar até 500 pessoas”, acrescenta o arquiteto Leopoldo Guimarães, responsável técnico da execução da obra.
Para erguê-la, foram necessários nove anos de muito trabalho e empenho da comunidade. Afinal, quase a totalidade dos recursos utilizados na construção vieram de doações ou da arrecadação das festas realizadas na colônia.
Projeto
O projeto arquitetônico da nova igreja da Santíssima Trindade é assinado por Marcelo Ferraz Cesar, atual secretário de Urbanismo de Curitiba. Seguindo a volumetria dos templos bizantinos, a igreja apresenta planta cruciforme e uma cúpula central localizada no encontro de seus eixos, o que é bastante comum nas igrejas ucranianas, como lembra o arquiteto Fábio Domingos Batista, um dos autores do livro “Igrejas ucranianas: Arquitetura da Imigração no Paraná”.
Outras quatro cúpulas circundam a central e compõem o conjunto carregado de simbolismo. “As cúpulas das igrejas ucranianas são sempre em número ímpar (uma, três ou cinco), assim como os símbolos católicos, como a sagrada família e as chagas de Cristo”, explica Guimarães. “Na igreja [da Santíssima Trindade], elas fazem referência a Deus, na figura de Jesus Cristo, e aos quatro evangelistas: Marcos, Lucas, João e Mateus”, acrescenta.
Outra característica das cúpulas que remetem à tradição ucraniana está nas mãos de quem as confeccionou: o artesão Nicolau Bobalo Neto. Natural de Prudentópolis, uma das maiores comunidades ucranianas no estado, ele divide com Hryhorij Nedorub grande parte das encomendas de cúpulas para igrejas ucranianas, e desenvolveu um método próprio para executá-las.
Como pode ser observado na igreja da Colônia Marcelino, este sistema envolve cúpulas octogonais cobertas com telhas de alumínio em forma de escamas e estampadas com símbolos litúrgicos.
Interior
No interior da igreja, com piso em mármore e granito, o destaque fica por conta da iconografia presente nas pinturas que revestem as paredes e nos entalhes em madeira, que fazem referência aos símbolos católicos ou tem função exclusivamente ornamental.
No canhão da cúpula central, como é chamado o octógono que suporta a estrutura, vê-se a imagem de Jesus Pantocrator (representação de Cristo relacionada à tradição cristã oriental) rodeado de anjos, por exemplo.
“Cerca de 60% da iconografia interna está pronta. As pinturas foram feitas pela irmã Verônica Nogas, que tem mestrado na área, cursado na Ucrânia, e desenvolveu um trabalho com os jovens da comunidade interessados em participar dos trabalhos”, conta Leopoldo Guimarães.
As obras ainda ganham o destaque da iluminação natural que atravessa as janelas incolores. Os vitrais, por sua vez, são em menor número e estão estrategicamente posicionados para marcar o altar e ornamentar a cúpula central.
No pavimento superior, três tribunas posicionadas em semicírculo voltado ao altar podem acomodar o coral e os instrumentistas, assim como os fiéis. Já no subsolo, estão localizados os espaços catequéticos e a casa paroquial.
“Depois de todo o esforço e trabalho, o sentimento é o de uma satisfação muito grande ao ver a igreja pronta e aberta à comunidade”, avalia Pedro Nogas Neto, empresário e presidente do conselho da igreja da Santíssima Trindade.