Estilo & Cultura
Grupo faz intervenção em terreno baldio no Largo e indaga: “O que pode ser aqui?”
Quem passou pela Rua São Francisco, em Curitiba, no fim da manhã e à tarde desta sexta (21), na altura do Centro Cultural, viu uma movimentação diferente — e mais colorida. Um terreno baldio da região recebeu intervenção artística para chamar a atenção para sua desocupação. A ação foi promovida pelo coletivo de arquitetura e design Ponto 41 e por alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo da UFPR e da UTFPR. “Esse é um vazio em pleno Centro Histórico, um setor tão importante para a cidade”, afirma a arquiteta Danielli Wal, integrante do coletivo.
Com barbantes coloridos, os participantes produziram uma trama por entre as grades que limitam o terreno, formando os dizeres “O que pode ser aqui?”, convidando os que passavam a refletir sobre o papel atual do espaço e o que ele poderia vir a ser. “Os fios são uma forma de representar o pensamento das pessoas, mostrar como, se unidos, podem causar um efeito maior e positivo”, explica Danielli.
Além de ajudar na trama de barbantes, quem parava para observar também era convidado a escrever em etiquetas presas na grade suas ideias para o local. “Casa de oficinas”, “centro cultural” e “um vazio cheio de pessoas” foram algumas delas. Moradores de rua propuseram a criação de um abrigo ou local para refeições. As etiquetas ficam disponíveis no local para receber as sugestões até a próxima terça-feira (25). Os barbantes não têm data para serem retirados.
Para Isabela Jayme, de 21 anos, que cursa o 5º ano do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, a intervenção é uma forma de extrapolar a sala de aula e a rotina dos estágios. “É uma forma de ver na prática o que podemos fazer pela cidade enquanto estudantes de Arquitetura, de discutir a cidade”, afirma.
Vazios pela cidade
Classificado pelo coletivo como um vazio urbano de utilização, o terreno da Rua São Francisco integra o mapa de vazios urbanos elaborado pelo Ponto 41 em conjunto com os estudantes e que será apresentado na mostra “Arquitetura como interface”, que tem previsão para começar no próximo dia 22 de maio.
O mapeamento conta também com vazios sociais (espaços que separam comunidades), vazios de representação (locais que perderam sua função pela falta de uso) e vazios de ocupação. Representantes destes dois últimos já foram alvos de intervenções do coletivo: no início do mês, um casarão histórico, considerado Unidade de Interesse de Preservação (UIP) pelo Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e um vazio de representação pelo coletivo, na Rua Barão do Rio Branco, recebeu cartazes que convidavam os pedestres a olharem por suas janelas. O que se via era abandono no edifício que já foi sede da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil e que se encontrava em processo de alienação do governo do estado para a Junta Comercial do Paraná.
A Rua XV foi outro local que recebeu ações do grupo: em fevereiro, um piquenique foi realizado à noite na rua, para chamar a atenção para a desocupação noturna que ocorre na área, o que transforma a região no que o coletivo chama de vazio de ocupação.
*Especial para HAUS.