Estilo & Cultura
Tem muita filosofia de muro estampada em Curitiba
O romantismo é inspiração de muitos dos pensamentos estampados nas ruas. Fotos: Fernando Zequinão / Gazeta do Povo.
Declarar seu amor em um muro ou a revolta na calçada é, o que se poderia se dizer, um ato político. Afinal, quem não é visto (ou lido), não é lembrado. Quem usa o patrimônio público da cidade para se expressar talvez não queira exatamente ganhar a fama, mas o objetivo é evitar que os desejos caiam no esquecimento.
Para o professor de sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Cezar Bueno, as frases estampadas nos muros fazem parte da estética urbana. Uma forma de manifestação, segundo ele, mais inclusiva do que excludente. “As pessoas se sentem no direito de usar o espaço público para expor desejos. É um local aberto que fica no limite entre o proibido e o permitido.”
Em um passeio rápido pela região central de Curitiba, principalmente entre a Reitoria e o São Francisco, aparecem os indícios da caligrafia impressa pelas paredes e pelo mobiliário urbano da cidade, misturados a inelegíveis pichações de gangues, lambe-lambes e grafites.
Mas a palavra solta pela cidade tem lá seus críticos. “Eu já fui a favor da pichação em 1983. Inclusive fiz um levantamento na época das frases escritas nos muros, desconfiava que tinha muita coisa do Leminski nelas. Antes, as pichações eram feitas em muro velho, tapume. Não se pode achar que tudo que se picha tem valor literário. Hoje estão detonando a cidade ”, defende o arquiteto e professor aposentado de arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Key Imaguire Júnior.
Quem tem o que dizer
Entre as frases literárias, as mensagens assinadas por “G.L.” chamam a atenção. “Sou um pouco vaidosa. Escrevo desde a adolescência e há mais ou menos um ano e pouco comecei a escrever na rua”, conta “G.L.”, a jornalista Giovanna Lima.
Entre as frases literárias, as mensagens assinadas por “G.L.” chamam a atenção. “Sou um pouco vaidosa. Escrevo desde a adolescência e há mais ou menos um ano e pouco comecei a escrever na rua”, conta “G.L.”, a jornalista Giovanna Lima.
Para ela, é mais democrático usar a rua como meio de expor sua mensagem. “A rua é a maior galeria que já existiu”, diz. Depois que começou a escrever, Giovanna diz que nunca foi tão lida. Suas frases são encontradas em postes, faixas de pedestres, muros e placas. “Gosto de ocupar bastante a rua, escrever em locais abandonados, onde as pessoas não prestam atenção. Uma cidade desenvolvida tem intervenções nas ruas”.