Estilo & Cultura

Faça uma viagem pelo mundo conhecendo quatro jardins

Mariana Domakoski*
23/09/2016 22:58
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Fotos: Bigstock

Desde os povos antigos do Oriente, passando pela monarquia francesa e chegando aos tempos modernos, os jardins sempre estiveram presentes nos espaços. Cada época histórica, cada região e cada clima possibilitaram a formação de um tipo de jardim. Como eles sempre foram uma forma de expressão e de trazer o natural para perto dos homens e mulheres, acabaram apresentando características diferentes, dependendo da cultura em que nasceram: alguns tentam mostrar o domínio total da natureza pelo homem, como o francês, enquanto outros buscam o equilíbrio entre os dois, como o japonês.
E, mesmo quando há coincidências, as diferenças se sobressaem. Mudam as plantas usadas, a forma de apresentação da água – corrente ou parada -, a prática ou não de poda, a área que o jardim exige, as cores e formatos. “É um elemento vivo. Por isso, deve-se trabalhar com a vegetação existente em cada região, obedecendo as possibilidades do lugar”, afirma o arquiteto paisagista João Henrique Bonametti, coordenador e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Tanta variedade permite a formação de verdadeiras obras de arte ao ar livre espalhadas pelo mundo, cada uma com seus estilos e elementos. Muitos jardins modernos ainda seguem à risca as características iniciais dos diferentes tipos. Outros as tomam como base, mas com adaptações que, inclusive, são necessárias. “Por exemplo, antigamente, no jardim francês, o granito era usado para partes do piso. Hoje, a indicação é que eles sejam permeáveis”, explica Bonametti.
Japonês
Com um conceito espiritual, os jardins desse estilo mantêm o equilíbrio entre os elementos naturais e construídos, representando a harmonia entre a natureza e o homem. “É um jardim que prima pela contemplação”, afirma Maria de Lourdes Shibata, jardineira especializada no estilo japonês. Os elementos são dispostos ao redor de alguma estrutura, de onde é possível vislumbrar o jardim ao redor. Além das plantas – mais folhagens do que flores -, geralmente trazem elementos como a água corrente, lagoas, pedras e areia.
Nada é exagerado ou meramente estético. A areia lembra a presença do mar. A ponte representa o amadurecimento da pessoa, o caminho que ela percorre durante a vida. A água é a representação da vida e as carpas simbolizam a prosperidade. O jardim do templo de Daigo-ji, em Quioto (foto), é um bom exemplo. Outro trabalho realizado nesse tipo de jardim é a escala reduzida, que traz a paisagem natural para um espaço limitado.
Daigoji temple in maple trees momiji season Kyoto Japan
Daigoji temple in maple trees momiji season Kyoto Japan
Inglês
Seguindo o movimento romântico surgido ainda no século 18 na Europa, que valorizava a natureza, os sonhos, a paixão e a força dos seres humanos, o estilo inglês ou romântico de jardins veio para quebrar a simetria dos estilos chamados clássicos – italiano e francês. Enquanto estes mostravam, por meio da exatidão de suas linhas, cortes e distribuição, o completo domínio da natureza, o jardim inglês veio para tentar imitá-la, com o mínimo de interferência possível. A intenção nesse estilo é parecer-se ao máximo com uma mata intocada, mas com todo o cuidado de um paisagismo calculado.
Por isso, a palavra que o arquiteto paisagista João Henrique Bonametti usa para caracterizá-lo é “profusão”: de formas orgânicas, de plantas soltas, de flores e de árvores que se desenvolvem de forma livre, sem podas. De acordo com ele, nesses casos os elementos naturais se fazem presentes muito mais do que os elementos construídos. Em 1940 o coronel inglês Harry Clive criou um jardim para oferecer à esposa, Dorothy, um lugar para caminhadas interessantes enquanto ela padecia de Mal de Parkinson. Dois anos depois, ela morreu, mas Clive continuou cuidando do jardim, o Dorothy Clive Garden (foto), que hoje é um ponto turístico em Shropshire, na Inglaterra.
Francês
Caracterizado pelo monumentalismo e linhas retas, tem na geometria a sua essência. Surgido no século 17, ele segue os modelos das estruturas arquitetônicas monárquicas renascentista, marcadas pela grandiosidade. Há certo equilíbrio entre os elementos construídos e naturais. A exatidão das formas é o que mais chama a atenção, geralmente com uma circulação em formato de cruz grega, com quatro pontos iguais. Com estaturas pequenas, as flores e os arbustos são os elementos mais numerosos e transmitem o domínio do homem sobre a natureza, o que aparece na predominância de plantas topiadas, com formatos bem definidos.
Todo esse controle e organização fazem com que as pessoas caminhem em linha reta no jardim. “Geralmente, no final desse caminho, há uma grande estrutura, como os palácios da época”, explica Bonametti. A água se faz presente, mas, seguindo todo o estilo do jardim, ela está sempre localizada em grandes estruturas, como chafarizes. Os jardins do palácio de Versalhes (foto), localizado na cidade francesa de Versalhes, retratam bem todas essas características do estilo francês. Pelo caminho, fontes de água e vegetação milimetricamente podada.
Italiano
Pertencente ao estilo clássico, o jardim italiano é caracterizado pela grande quantidade de grama, ciprestes e água corrente. Projetados em áreas extensas, costuma ter diferentes níveis, que resultam em um jardim com escadarias. Bonametti explica que esse estilo surgiu nas casas de campo italianas da época do Renascimento, nos séculos 15 e 16, em terrenos que eram muito acidentados. Por conta desses desníveis, a água era um elemento que podia movimentar-se, da parte mais alta para a mais baixa.
Apesar da presença forte de elementos naturais, os elementos construídos marcam presença. Fontes e estátuas são bem características. Situados atrás do Palácio Pitti, em Florença, na Itália, os Jardins de Boboli (foto) expressam bem o estilo italiano. Seus gramados, as várias estátuas espalhadas por toda a área e a presença forte do elemento água são alguns dos pontos que se sobressaem.
* especial para a Haus

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