Estilo & Cultura
Entre lápis e aquarelas: conheça o trabalho dos “croquizeiros” de Curitiba
José Marconi, um dos fundadores dos Croquis Urbanos em Curitiba, explora a técnica com tinta guache para retratar a lendária Casa Stenzel, que fica no Parque São Lourenço. Fotos: Priscila Bueno / Gazeta do Povo
O barulho de um sino avisa que o tempo de duas horas para terminar o croqui acabou. A partir daí o que se vê são ângulos da cidade apresentados sob diversas técnicas – canetas hidrográficas, aquarela, lápis, giz de cera, entre outros – e com olhares muito diferentes. Essa é a rotina do grupo de desenhistas do Croquis Urbanos Curitiba, que completou quatro anos de atividade neste domingo (12).
A primeira reunião ocorreu em 2013 e de lá pra cá, em encontros semanais, o grupo já fez mais de 5,1 mil croquis da cidade, explica um dos organizadores, José Marconi. A história deles teve início quando Marconi e Lia Mônica avistaram o arquiteto Reinoldo Klein desenhando o prédio do Paço Municipal e resolveram se juntar a ele.
Marconi reforça que o que fazem não deixa de ser um exercício de cidadania. Além de representarem pontos turísticos, eles desenham lugares desconhecidos ou nem percebidos pela população, contam um pouco da história e divulgam nas redes sociais. Lia Mônica, que desenhava alguns canos aparentes da Casa Erbo Stenzel, que fica no Parque São Lourenço, conta que eles acabam vendo a beleza em tudo, da numeração de uma casa, passando por fechaduras e até alças de caixão, brinca. O reconhecimento do grupo foi tanto que eles até ministraram uma oficina no Encontro Internacional de Desenho de Rua, realizado em Portugal, em 2015.
Uma característica importante do grupo é a diversidade e capacidade de renovação de seus participantes – a atual lista inclui mais de 500 nomes e semanalmente se reúnem cerca de 30. O arte finalista Cássio Shimizu foi um dos primeiros a entrar no grupo. Agora, ele mora em Campo Grande (MS), mas como estava de férias por aqui, resolveu voltar à desenhar com os amigos. “Estou tentando começar um grupo lá”, revela.
Ivan Soria Fernandes está no grupo há três semanas. Brasileiro, mas com pais bolivianos, o ilustrador conta que Curitiba é muito estudada lá fora. “O planejamento urbano, a interação com a natureza, a mobilidade”, diz ele completando que seu maior desafio é esboçar coisas diferentes. “Você descobre linhas de trabalho que você não sabia que existia”, completa.
Esses olhares diferentes acabam sendo um presente para a cidade, concorda a artista plástica Luciana “Maga” Chacorowski. Na semana anterior, o grupo desenhou a casa da família dela. “A casa foi construída originalmente na década de 1940, depois foi desmontada e levada para o Santo Inácio onde permanece até hoje. Ao olhar os desenhos, você vai percebendo detalhes que nem tinha notado antes”, explica.
O arquiteto Fernando Popp diz que sempre desenhou e a inclusão no grupo lhe rendeu um “saber ver as coisas”. “Antes eu viajava e tirava fotografias. Até que cansei e comecei a desenhar”, explicou ele mostrando o caderno cheio de desenhos urbanos feitos com aquarela.
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* Especial para a Gazeta do Povo