Estilo & Cultura
Em Veneza, prédio histórico vira shopping center
(Mattia Balsamini/The New York Times) | NYT
No dia primeiro de outubro deste ano, o Fondaco dei Tedeschi, um dos palácios mais majestosos de Veneza, com vista para o Grande Canal e a poucos passos da Ponte Rialto, voltou a abrir as portas para o público.
Nos últimos sente anos, o edifício, que no passado servia de centro comercial para mercadores alemães, foi submetido a uma reforma multimilionária comandada pela OMA, o escritório de arquitetura de Rem Koolhaas, com interiores feitos pelo arquiteto londrino Jamie Fobert. O resultado foi a preservação de alguns elementos históricos do prédio, incluindo uma reforma encomendada por Napoleão, que o transformou em uma alfândega, e uma mudança mais radical feita por Mussolini, que transformou o palácio na principal agência dos correios de Veneza.
O Fondaco foi rebatizado como T Fondaco dei Tedeschi, convertendo-se em um empório de produtos de luxo do DFS Group, com sede em Hong Kong.
Duty-free
Segundo as propagandas, a loja de departamentos irá oferecer um misto de marcas italianas e internacionais, incluindo Fendi, Valentino, Jimmy Choo, Burberry, Tiffany e Bulgari, assim como a DFS costuma fazer em aeroportos. Entretanto, as similaridades entre essa loja e a que os viajantes encontram no Aeroporto Kennedy ou no Aeroporto Internacional de Abu Dhabi acabam por aí.
O Fondaco é o exemplo mais recente de um processo consciente, embora discreto, de expansão da empresa. Ela foi criada com o nome de Duty Free Shoppers em 1960 por Robert Miller e Charles Feeney, e o grupo LVMH Möet Hennessy Louis Vuitton detém a maior parte das ações da empresa desde 1996.
Ao lado da loja de departamentos parisiense Bon Marché Rive Gauche e da rede de cosméticos Sephora, a empresa faz parte da divisão de Selective Retailing do grupo.
O Fondaco será o décimo sétimo complexo comercial aberto pela DFS em centros urbanos e cidades litorâneas com o nome “T Galleria” (o “T” é abreviação da palavra “traveler”, ou viajante, em inglês).
Enquanto as outras lojas urbanas da marca foram abertas na Ásia e nas ilhas do Pacífico (além disso, há três T Gallerias na Austrália e Nova Zelândia e uma no Havaí), o Fondaco será a primeira loja europeia da DFS. Se tudo der certo, isso pode indicar um novo caminho para o ultrapassado mercado de lojas de departamento no Ocidente.
Entretanto, o fato da DFS ser conhecida principalmente pelas lojas em aeroportos – embora seja a mais chique entre um monte de coisas cafonas – indica que o sucesso não está garantido.
“Londres tem a Harrods, Nova York tem a Saks, e agora Veneza vai ter o Fondaco”, afirmou Philippe Schaus, diretor e executivo-chefe da DFS. “O que estamos fazendo nunca foi feito antes: pegar um prédio dessa magnitude e dimensão histórica e transformá-lo em um centro comercial”.
Produtos locais
O nome T Fondaco dei Tedeschi tem o objetivo de tirar proveito do fato de estar localizado em um verdadeiro monumento veneziano (além de dar à loja uma identidade que vai além da DFS). O empório também irá oferecer produtos de luxo feitos na região, como objetos de vidro de Murano, além de contar com um restaurante operado pelo chefe veneziano com estrelas Michelin, Massimiliano Alajmo, com design assinado por Philippe Starck. E a própria cidade de Veneza estará em exposição a partir do terraço panorâmico do prédio.
Embora a DFS deseje atrair clientes italianos, a população cada vez menor de Veneza – 55.000 pessoas no centro histórico, segundo o último censo – não representa uma base de consumidores muito robusta, o que significa que a empresa terá de atrair os milhões de turistas que vêm à cidade todos os anos.
Para que isso se concretize, será preciso superar alguns desafios, especialmente a necessidade de garantir aos clientes endinheirados uma experiência luxuosa e indulgente em um destino repleto de navios de cruzeiro.
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