Estilo & Cultura

Design a bordo: navegamos no maior iate produzido em série no Brasil, assinado por arquiteto premiado

Aléxia Saraiva*
15/06/2018 13:05
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Design de interiores do iate 30 Metri é assinado pelo arquiteto italiano Achille Salvagni. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi

Quebrar paradigmas parece ser a principal premissa do novo iate de luxo 30 Metri. Além de ser o maior iate de luxo produzido em série no país, o barco conseguiu unir o design de interiores ao design náutico, duas áreas que não costumam se misturar. Produzido pela Azimut Brasil, o iate tem 30 metros de comprimento — o equivalente a 100 pés —, quase sete metros de largura, área total de 350 m² e 110 toneladas.
HAUS viajou a Itajaí (SC), onde se localiza a filial brasileira do estaleiro, para conhecer e navegar no primeiro modelo do 30 Metri produzido no país.
Com 100 pés, 30 Metri é o maior modelo de iate de luxo feito em série no Brasil. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Com 100 pés, 30 Metri é o maior modelo de iate de luxo feito em série no Brasil. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
A proposta inovadora retrata o momento de aposta no alto luxo que o estaleiro está vivendo. Italiano e há cinco anos no Brasil, o CEO da Azimut Brasil Davide Breviglieri explica que a demanda por um design de interiores expressivo vem se fortalecendo no meio. Por isso, a assinatura do arquiteto Achille Salvagni no projeto incorpora um novo pilar à estética dos produtos da empresa, realçando outras características do barco.
Praça da popa. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Praça da popa. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Um barco é a somatória de três tipos de design“, explica o presidente. “O rigorosamente técnico, que atende o conceito de navegabilidade; a arte externa, na qual se inventa formas e define tendências; e o grande elemento de inovação e de evolução que nós estamos construindo: o design de interiores, que fecha o círculo desta harmonia“, ressalta.
Desenhos de Achille Salvagni usa revestimentos de madeira em formas curvas para criar uma identidade em todo o projeto de interiores do barco. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Desenhos de Achille Salvagni usa revestimentos de madeira em formas curvas para criar uma identidade em todo o projeto de interiores do barco. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Por dentro do iate

Maior que muitos apartamentos, o 30 Metri tem três pavimentos e hospeda até doze pessoas e quatro tripulantes. No total, são cinco suítes — a principal com espaçosos 34m². No primeiro andar, estão concentrados os quartos. No segundo, maior, estão a suíte do proprietário, cozinha, sala e pátio da popa. Por fim, no flybridge, andar superior, fica uma área de convivência de 65m², para onde o projeto prevê uma jacuzzi.
Suíte principal tem 34m². Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Suíte principal tem 34m². Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
O elemento chave de todos os ambientes são os móveis e detalhes em mogno envernizado. A madeira escura contrasta com os acabamentos em couro natural que, assim como a maior parte dos componentes do barco, são importados da Itália. Piso, paredes e teto das áreas de convivência são em madeira tipo riviera. Já nas áreas íntimas, é o carpete que rouba a cena.
Acabamento em couro é marca registrada do design dos barcos do estaleiro italiano. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Acabamento em couro é marca registrada do design dos barcos do estaleiro italiano. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Mesmo com o icônico projeto de Salvagni, alguns pontos podem ser adaptados de acordo com o gosto do proprietário. Quem cuida dessa personalização é Naiara Bogo, designer náutica do Departamento de Estilo da Azimut. “Aqui, nós usamos roupas de cama de linho com guipir, todas de 600 fios — exceto a master, que é de 1000 fios”, acrescenta. No caso da primeira 30 Metri, a sala ganhou uma parede espelhada e móveis em linho, e a escada que dá ao andar dos quartos é em mármore iluminado.
Escada em mármore é um dos destaques da primeira 30 Metri brasileira. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Escada em mármore é um dos destaques da primeira 30 Metri brasileira. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Mudanças na fábrica

Para comportar a construção do barco, a empresa teve de passar por dois anos de projeto e planejamento, capacitação dos funcionários e diversas reformas na fábrica catarinense. Breviglieri explica que as dificuldades partiram do fato de que, para a montagem do iate, é necessário embalar e exportar da Itália 15 mil componentes.
Fábrica de Itajaí teve de passar por diversas reformas para comportar a construção do barco, como o rebaixamento do piso. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Fábrica de Itajaí teve de passar por diversas reformas para comportar a construção do barco, como o rebaixamento do piso. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
“Esse barco sempre foi produzido em Viareggio, nosso estaleiro especializado em barcos grandes. Ele tem uma cadeia de suprimentos muito próxima. Viareggio, na Toscana, é uma cidade que tem 700 anos de história náutica. Qualquer coisa que precisa está ali ao lado”, explica o presidente. “Ninguém pensou o que significaria isso a 12 mil quilômetros de distância. Necessitou de um trabalho técnico monumental”, complementa.
"Forma" garante que os barcos tenham exatamente o mesmo formato. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
"Forma" garante que os barcos tenham exatamente o mesmo formato. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
No Brasil, isso significou aumentar a área da fábrica e rebaixar o piso para suportar as 110 toneladas. No local, trabalham 370 funcionários, montando 40 barcos por ano. Além da linha Grande, da qual o novo recordista faz parte, outras quatro são produzidas no país, com iates que variam de 40 a 100 pés. E, enquanto o primeiro 30 Metri está sendo entregue ao proprietário, o segundo já foi encomendado.

Para além-mar

Sulamita de Souza, costureira há seis anos na Azimut Brasil. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Sulamita de Souza, costureira há seis anos na Azimut Brasil. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Uma parte inseparável dos interiores da Azimut são os processos manuais de costura e montagem de móveis e estofados. O material de alta qualidade importado faz parte do dia-a-dia dos funcionários, como o couro de jacaré e de avestruz que integram os materiais utilizados nos interiores. Com o tempo, eles perceberam que os resíduos dos tecidos eram desperdiçados e passaram a reaproveitar retalhos costurando novos produtos.
“A ideia é ter consciência ambiental”, conta Carlos Eduardo Nass, gerente de engenharia da fábrica. “São três itens legais envolvidos: não gera lixo, faz um agrado ao colaborador e gera horas de treinamento”. “A gente treina feliz”, conta a costureira Sulamita de Souza, há seis anos na fábrica.
Outros produtos são produzidos a partir dos retalhos de couro e sorteados entre os funcionários. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Outros produtos são produzidos a partir dos retalhos de couro e sorteados entre os funcionários. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Em águas mais profundas

Agora que os 100 pés foram atingidos, outros desafios nascem para o estaleiro, já que a ideia não é só construir barcos cada vez maiores. “Nós temos um limite de infraestrutura náutica brasileira. Não temos marina nem área de serviço adequada”, explica Breviglieri.
Capacitação de tripulantes é uma das áreas que precisam ser fomentadas para o desenvolvimento na náutica brasileira, segundo Breviglieri. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Capacitação de tripulantes é uma das áreas que precisam ser fomentadas para o desenvolvimento na náutica brasileira, segundo Breviglieri. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Uma vez por ano, os barcos precisam de manutenção, que envolve levantar o iate para a limpeza do casco. Apenas duas marinas no Brasil suportam o peso da 30 Metri, por exemplo. “É necessário navegar 12 horas pra achar um lugar pra subir. Então eu posso fazer o maior, mas onde eu vou subir depois?”, questiona o presidente. “Então há um outro movimento que é sensibilizar toda a cadeia. Faltam vagas e comendantes para barcos grandes. A Azimut tem que pensar em todos esses aspectos”, acrescenta.
E lançamos o desafio: por que não pensar em um modelo exclusivamente brasileiro, com um designer local? “Podemos fazer, por que não?”.
*A jornalista viajou a convite da Azimut Brasil.

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