Estilo & Cultura
Design a bordo: navegamos no maior iate produzido em série no Brasil, assinado por arquiteto premiado
Design de interiores do iate 30 Metri é assinado pelo arquiteto italiano Achille Salvagni. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi
Quebrar paradigmas parece ser a principal premissa do novo iate de luxo 30 Metri. Além de ser o maior iate de luxo produzido em série no país, o barco conseguiu unir o design de interiores ao design náutico, duas áreas que não costumam se misturar. Produzido pela Azimut Brasil, o iate tem 30 metros de comprimento — o equivalente a 100 pés —, quase sete metros de largura, área total de 350 m² e 110 toneladas.
HAUS viajou a Itajaí (SC), onde se localiza a filial brasileira do estaleiro, para conhecer e navegar no primeiro modelo do 30 Metri produzido no país.
A proposta inovadora retrata o momento de aposta no alto luxo que o estaleiro está vivendo. Italiano e há cinco anos no Brasil, o CEO da Azimut Brasil Davide Breviglieri explica que a demanda por um design de interiores expressivo vem se fortalecendo no meio. Por isso, a assinatura do arquiteto Achille Salvagni no projeto incorpora um novo pilar à estética dos produtos da empresa, realçando outras características do barco.
“Um barco é a somatória de três tipos de design“, explica o presidente. “O rigorosamente técnico, que atende o conceito de navegabilidade; a arte externa, na qual se inventa formas e define tendências; e o grande elemento de inovação e de evolução que nós estamos construindo: o design de interiores, que fecha o círculo desta harmonia“, ressalta.
Por dentro do iate
Maior que muitos apartamentos, o 30 Metri tem três pavimentos e hospeda até doze pessoas e quatro tripulantes. No total, são cinco suítes — a principal com espaçosos 34m². No primeiro andar, estão concentrados os quartos. No segundo, maior, estão a suíte do proprietário, cozinha, sala e pátio da popa. Por fim, no flybridge, andar superior, fica uma área de convivência de 65m², para onde o projeto prevê uma jacuzzi.
O elemento chave de todos os ambientes são os móveis e detalhes em mogno envernizado. A madeira escura contrasta com os acabamentos em couro natural que, assim como a maior parte dos componentes do barco, são importados da Itália. Piso, paredes e teto das áreas de convivência são em madeira tipo riviera. Já nas áreas íntimas, é o carpete que rouba a cena.
Mesmo com o icônico projeto de Salvagni, alguns pontos podem ser adaptados de acordo com o gosto do proprietário. Quem cuida dessa personalização é Naiara Bogo, designer náutica do Departamento de Estilo da Azimut. “Aqui, nós usamos roupas de cama de linho com guipir, todas de 600 fios — exceto a master, que é de 1000 fios”, acrescenta. No caso da primeira 30 Metri, a sala ganhou uma parede espelhada e móveis em linho, e a escada que dá ao andar dos quartos é em mármore iluminado.
Mudanças na fábrica
Para comportar a construção do barco, a empresa teve de passar por dois anos de projeto e planejamento, capacitação dos funcionários e diversas reformas na fábrica catarinense. Breviglieri explica que as dificuldades partiram do fato de que, para a montagem do iate, é necessário embalar e exportar da Itália 15 mil componentes.
“Esse barco sempre foi produzido em Viareggio, nosso estaleiro especializado em barcos grandes. Ele tem uma cadeia de suprimentos muito próxima. Viareggio, na Toscana, é uma cidade que tem 700 anos de história náutica. Qualquer coisa que precisa está ali ao lado”, explica o presidente. “Ninguém pensou o que significaria isso a 12 mil quilômetros de distância. Necessitou de um trabalho técnico monumental”, complementa.
No Brasil, isso significou aumentar a área da fábrica e rebaixar o piso para suportar as 110 toneladas. No local, trabalham 370 funcionários, montando 40 barcos por ano. Além da linha Grande, da qual o novo recordista faz parte, outras quatro são produzidas no país, com iates que variam de 40 a 100 pés. E, enquanto o primeiro 30 Metri está sendo entregue ao proprietário, o segundo já foi encomendado.
Para além-mar
Uma parte inseparável dos interiores da Azimut são os processos manuais de costura e montagem de móveis e estofados. O material de alta qualidade importado faz parte do dia-a-dia dos funcionários, como o couro de jacaré e de avestruz que integram os materiais utilizados nos interiores. Com o tempo, eles perceberam que os resíduos dos tecidos eram desperdiçados e passaram a reaproveitar retalhos costurando novos produtos.
“A ideia é ter consciência ambiental”, conta Carlos Eduardo Nass, gerente de engenharia da fábrica. “São três itens legais envolvidos: não gera lixo, faz um agrado ao colaborador e gera horas de treinamento”. “A gente treina feliz”, conta a costureira Sulamita de Souza, há seis anos na fábrica.
Em águas mais profundas
Agora que os 100 pés foram atingidos, outros desafios nascem para o estaleiro, já que a ideia não é só construir barcos cada vez maiores. “Nós temos um limite de infraestrutura náutica brasileira. Não temos marina nem área de serviço adequada”, explica Breviglieri.
Uma vez por ano, os barcos precisam de manutenção, que envolve levantar o iate para a limpeza do casco. Apenas duas marinas no Brasil suportam o peso da 30 Metri, por exemplo. “É necessário navegar 12 horas pra achar um lugar pra subir. Então eu posso fazer o maior, mas onde eu vou subir depois?”, questiona o presidente. “Então há um outro movimento que é sensibilizar toda a cadeia. Faltam vagas e comendantes para barcos grandes. A Azimut tem que pensar em todos esses aspectos”, acrescenta.
E lançamos o desafio: por que não pensar em um modelo exclusivamente brasileiro, com um designer local? “Podemos fazer, por que não?”.
*A jornalista viajou a convite da Azimut Brasil.