O ferro é a pedra angular da arquitetura do século 19. Um material moderníssimo que foi completamente dominado pelo avanço da tecnologia. A Europa mesmo foi construída com muito ferro, que acabou desaparecendo sob os escombros da Segunda Guerra Mundial e como consequência da reconstrução e modernização das cidades.
A porta-bandeira desse universo são as colunas de ferro fundido. Quem dá a sentença é o historiador suíço Sigfried Giedion (1888-1968), grande crítico da arquitetura e um dos membros fundadores ao lado de Le Corbusier do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna.
A explicação está no fato de o ferro ou alguma de suas ligas de fácil fundição permitirem um melhor aproveitamento do espaço nos projetos. “A coluna de ferro fundido é uma solução estrutural que aumenta os vãos, deixa a construção menos fragmentada e aposenta a parede como única alternativa de sustentação”, diz o arquiteto Fábio Domingos, da Grifo Arquitetura, que começou a prestar atenção nas colunas de ferro de Curitiba e a postar em suas redes sociais.
Mas as colunas também foram majoritariamente utilizadas para reproduzir elementos decorativos de qualquer estilo que um dia já esteve no gosto do povo, como art déco, greco-romano, gótico e egípcio, como lembra o historiador Magnus de Mello Pereira, da UFPR. Era só pegar catálogos das fundições e escolher quais detalhes pré-fabricados colocar em suas casas.
“Foi um grande baile de máscaras”, brinca o historiador Marcelo Sutil, da Fundação Cultural de Curitiba. “O período eclético foi um tempo de ascensão da burguesia, que, ao contrário da elite, não tinha um passado histórico, mas queria ter as mesmas referências em suas edificações: de torres mourísticas a florões.”
O que restou
As colunas de ferro de Curitiba estão espalhadas por diversos pontos da cidade, sendo mais fácil encontrá-las nas construções da Rua XV de Novembro e nos casarões do entorno da Praça Tiradentes e do Paço da Liberdade. Mas alguns dos raríssimos exemplares utilizados fora de fachada podem ser vistos no edifício sobrevivente de número 174 na Barão do Rio Branco. A construção se encontra abandonada desde os anos 2000, tomada por vegetação e entulhos do próprio prédio que vai ruindo. O local pertence ao governo estadual, que cedeu as instalações para a Secretaria da Segurança Pública do Paraná (Sesp).
Apesar de aparecer em cores e com diferentes desenhos, a maioria dos elementos pré-moldados em ferro fundido tem mais um ponto em comum: os artefatos eram produzidas pela fundição Mueller Irmãos sob a marca Marumby.
Os negócios começaram com o suíço Gottlieb Mueller, que em 1878 abriu uma ferraria familiar entre a atual Avenida Cândido de Abreu e a Rua Mateus Leme. A oficina prosperou e, em 1948, contava com 400 funcionários e uma matriz de 13 mil m². Na década de 1970, a empresa foi vendida e, mais tarde, virou o Shopping Mueller, que mantém o nome da antiga fundição.