Estilo & Cultura
Cúpulas marcam prédios de estilo eclético em Curitiba
Casarão residencial atrás do Shopping Crystal, na Comendador Araújo: cúpula oval enervurada, com fechamento metálico de escamas e rosa dos ventos na ponta. Toda a arquitetura da casa é em estilo eclético. A evidência está na harmonia entre os arcos plenos, tipicamente romanos, e os desenhos ogivais, característicos do gótico. Fotos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.
Uma vez por semana Eduardo Yamane sente como se tivesse subido o Everest. São mais de 40 metros do nível da rua até o pé da santa, no alto da cúpula da igreja Imaculado Coração de Maria, no Rebouças, que precisam ser vencidos pela escada em espiral. Há 13 anos é assim. Sua tarefa é das mais nobres: rodar uma grande manivela que dá corda nos relógios e sinos da paróquia. De poucas palavras, o auxiliar de serviços gerais de 62 anos já se acostumou com a responsabilidade. Não vê mais poesia no sobe e desce. Só diz que a vista lá de cima é bonita.
Mas é mais do que isso. O arquiteto Key Imaguire Junior, uma sumidade da cidade quando se trata de história da arquitetura, garante. “A origem das cúpulas é incerta. O que se sabe é que o elemento nasceu nas construções religiosas e esteve presente na arquitetura de diversas civilizações”, explica. No DNA das coberturas ovaladas, existe um significado místico: elas nasceram com o intuito de imitar a abóboda celeste. Eduardo não sabe, mas uma vez por semana chega mais perto do céu do que todos nós.
Demarcação da nobreza
Com o tempo, esse significado se perdeu. As casas mais abastadas adotaram o ornamento como bandeira para se destacar das demais. E a cúpula chegou até nós como um elemento típico do estilo eclético, que mistura características de vários estilos diferentes.
Com o tempo, esse significado se perdeu. As casas mais abastadas adotaram o ornamento como bandeira para se destacar das demais. E a cúpula chegou até nós como um elemento típico do estilo eclético, que mistura características de vários estilos diferentes.
A arquiteta Aline Soczek Bandil, especialista em história da arte e restauro, ressalta que as cúpulas são partes estruturais bastante complexas. “Construí-las é um desafio, pois não são nada baratas e exigem um conhecimento bastante avançado. Por isso, na maioria das vezes, encontramos as cúpulas em casarões de famílias da elite. Em Curitiba não foi diferente”, diz.
A história comprova. Uma das cúpulas mais emblemáticas da cidade – e uma das pouquíssimas que ainda sobrevive com alguma história conhecida – fica no alto do Edifício Pedro Demeterco, o prédio rosa de 13 andares na esquina da Alameda Dr. Muricy com a Rua Marechal Deodoro. É uma cúpula de cobre que se tornou esverdeada em decorrência da oxidação do material quando em contato com o ar. Reza a lenda que a cúpula foi a última parte a ser colocada em 1953. E a pedido da esposa do construtor, que não gostaria de ver o nome da família na construção se o edifício não tivesse algo de especial.