Cremona é uma cidade com 70 mil habitantes e não é o destino mais famoso quando se fala da Itália. No entanto, é a primeira da lista quando o assunto são os violinos Stradivarius — obra-prima do luthier Antonio Stradivari, que viveu de 1.644 a 1.737 e produziu instrumentos cujos sons são sinônimo de excelência entre as cordas. Ninguém, até hoje, conseguiu o feito de fabricar os mesmos violinos, violas e violoncelos. E é por isso que, durante o mês de janeiro, a cidade decidiu ficar em silêncio.
Cada Stradivarius tem “sua própria personalidade”, e seus sons “vão inevitavelmente mudar”, afirma Fausto Cacciatori, curador do Museu do Violino de Cremona, em entrevista ao The New York Times. E esse prazo de validade está próximo: segundo ele, seu som tão próprio poderá ser perdido em apenas algumas décadas, quando os instrumentos ficarem frágeis demais para serem tocados.

Para eternizá-los, três engenheiros de som criaram um banco de sons digital, — o “Stradivarius Bank Sound” — para o qual musicistas estão gravando centenas de milhares de acordes e variações possíveis. É assim que gerações futuras poderão ouvir um instrumento que não existe mais. São 32 microfones ultrassensíveis dispostos no auditório do museu, responsáveis por captar a essência musical.
Mas há um detalhe. As ruas ao redor do museu são feitas de paralelepípedos, o que faz com que o motor de um carro ou o barulho de um salto alto reverbere e interfira nos microfones, como explicou Leonardo Tedeschi, idealizador do projeto, à publicação.
E é por isso que, durante cinco semanas, as ruas do centro da cidade foram fechadas pela polícia — medida permitida pelo prefeito de Cremona, Gianluca Galimberti, que coincidentemente é também presidente da Fundação Stradivarius.

Em sete de janeiro, não só as ruas foram fechadas, como as luzes do museu se apagaram, o sistema de ventilação foi desligado, e os próprios habitantes de Cremona se comprometeram a manter as vozes baixas e não produzir nenhum tipo de barulho súbito.
“Somos a única cidade no mundo que preserva os instrumentos e suas vozes“, afirmou Galimberti ao Times. “Este é um projeto extraordinário que olha para o futuro, e tenho certeza que as pessoas de Cremona vão entender que o fechamento da área era inevitável.”