Estilo & Cultura
Coretos que viraram pó e história deixam saudade em Curitiba
Repleto de lambrequins, o coreto de Campina Grande do Sul está instalado bem em frente à prefeitura. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo; ao lado, os coretos do Passeio Público e Praça Osório, agora extintos. Fotos: Acervo Casa da Memória/FCC
Na marchinha de João de Barro e Alberto Ribeiro, que embalou carnavais a partir de 1947, o coreto do jardim recebia, todos os domingos, uma banda e a tuba do Serafim. Mas lá pelos anos 1950 eles sumiram. Em Curitiba, três dos principais coretos da cidade, instalados no início dos anos de 1910, durante a segunda gestão do prefeito Cândido de Abreu, que eram sinal de modernidade no começo do século, viraram pó e história.
A Praça Tiradentes teve um. No Passeio Público, um coretinho com espelho d’água viu a neve de 1928. E quem passar pela Praça Osório, bem em frente ao Edifício Garcez e ao lado do relógio, pode fincar o pé no que um dia foi o coreto que embalava os domingos do pessoal na Boca Maldita. Uma dessas pessoas foi América da Costa Sabóia que, no livro de memórias “Curitiba de minha saudade – 1904 – 1914”, publicado em 1978, relatou saudosa a importância que a estrutura teve em sua vida.
“No ângulo formado pela Avenida [Luiz Xavier] e pela Rua Voluntários da Pátria, erguia-se o que talvez fosse o mais importante na Praça – um coreto. Nele por vários anos, a população de Curitiba teve um de seus mais atraentes espetáculos: os concertos da banda do Regimento de Segurança do Estado, sob a regência do notável maestro Romualdo Suriani (…) Numerosa assistência ocorria sempre a essas apresentações.”
As palavras apontam o coreto como “o mais importante” da praça. “A população frequentava muito a região da cinelândia e do coreto”, explica Aparecida Bahls, historiadora da Fundação Cultural de Curitiba. “Naquela época não havia muitas opções de lazer privado, como televisão e redes sociais. O espaço público cumpria esse papel. E o coreto congregava as pessoas, desempenhando uma importante função social”, explica a arquiteta e urbanista Maria Luiza Marques Dias, professora de planejamento urbano do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR.
Atualmente em Curitiba eles são poucos. O da Tiradentes foi demolido nos anos de 1930. O da Osório, no início da década de 1950. O do Passeio Público tem outra configuração e é hoje um aquário, que abriga cerca de 15 espécies de peixes. Outros existem como coretos, mas foram instalados há pouco tempo e são pouco ou nunca usados, como o do Parque Barigui.
Na Região Metropolitana, a realidade muda um pouco. Em Campina Grande do Sul, um coreto está instalado na praça bem em frente à prefeitura municipal. Em Campo Largo, há um na Praça Atílio de Almeida Barbosa, em frente à Igreja Matriz, instalado entre as décadas de 1930 e 1940. Até alguns anos atrás, o coreto ainda era usado em algumas ocasiões, como no Natal, para abrigar o presépio, como afirmam os moradores. Mas, há cerca de 10 anos, está desativado e cercado.
Por que os coretos são mais encontrados em cidades menores? “Talvez pela menor diversidade de lazer. Nesses municípios pequenos, a praça ainda tem um papel relevante”, reflete Maria Luiza. Os moradores mais antigos sentem saudades das edificações, que eram sinônimo de festa e entretenimento. “Quando eu era criança, era uma diversão. Gostaria que meus netos pudessem ver algo assim”, diz o vendedor Antonio Bueno, de 62 anos, que hoje trabalha ali em frente.
* especial para a Gazeta do Povo