Estilo & Cultura

Conheça os causos (alguns macabros) da árvore mais velha de Curitiba

Luan Galani
28/02/2017 22:52
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Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo e André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Quem perambula pelo Bom Retiro já vê de longe um buquê gigantesco na paisagem. O que indica que ali na pracinha do bairro mora a matriarca das árvores de Curitiba. Seguramente são mais de 300 anos. No primeiro contato se mostra uma senhora enxuta, toda cheia de garbo com suas flores rosas. Mas é exigente, e obriga todo mundo a dobrar o pescoço para vislumbrar seus 35 metros de altura. Para saudá-la por completo, são necessários trinta passos fartos ao redor da vovó.
A árvore em um momento de esplendor, com o auge da florada.<br>Foto Sacha Lubow / Secretaria Municipal de Meio Ambiente / Divulgação
A árvore em um momento de esplendor, com o auge da florada.<br>Foto Sacha Lubow / Secretaria Municipal de Meio Ambiente / Divulgação
O veredito vem do engenheiro florestal Sacha Lubow, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. O especialista explica que até hoje, por falta de vontade política, o município não tem um mapeamento das árvores das unidades de conservação, o que dificulta apontar o exemplar mais velho da cidade. “Como não sabemos de todas as nossas árvores, a gente indica, dentre as poucas conhecidas, aquelas que são as mais antigas”, esclarece o engenheiro, que aposta na paineira nativa como a primogênita.
Foto de 1968 mostra que a área serviu para os jogos de futebol das crianças. Foto: Wilhelm Bradhage/Arquivo familiar
Foto de 1968 mostra que a área serviu para os jogos de futebol das crianças. Foto: Wilhelm Bradhage/Arquivo familiar
Apesar da incerteza científica, Lubow garante que a história de que uma imbuia do Capão da Imbuia seria a mais velha da capital paranaense, com mais de mil anos, é pura especulação.

Guardiã de tesouro

O embrião da pracinha que protege a árvore foi a fazenda de horticultura da família Schaffer. Mas muito antes disso a planta estava lá. A prova está em uma fotografia de 1858, publicada no jornal O Estado do Paraná em 1971, que mostra o vulto grandioso da árvore já naquele tempo. Ninguém sabe quem a plantou.
Foto: Secretaria Municipal do Meio Ambiente/Arquivo
Foto: Secretaria Municipal do Meio Ambiente/Arquivo
De acordo com a funcionária pública Helga Brodhage, 63, que mora em frente à paineira desde os 11 anos, um vizinho antigo jurava de pé junto que a árvore marcava a localização de um tesouro que havia sido enterrado junto com um escravo vivo por um fazendeiro desconhecido. A crueldade e o mistério da história faziam a imaginação das crianças viajar longe.
Na década de 1970 a árvore foi tombada pelo governo do estado como Patrimônio Cultural. Graças à cruzada que o professor de biologia Siegfrid Jabin liderou para que o exemplar não fosse derrubado.
Quando a paineira foi tombada, em 1974, ganhou até para-raios. Foto: Arquivo Casa da Memória
Quando a paineira foi tombada, em 1974, ganhou até para-raios. Foto: Arquivo Casa da Memória

Milagreira

Hoje a árvore atrai bandos de periquitos e impressiona os moradores do entorno quando dá seus frutos brancos, que parecem algodão e cobrem a rua como neve. Mas nada comparado a seus poderes mágicos. É o que muitos acreditam, já que vira e mexe a gigante acorda com oferendas aos seus pés. Pratos de barro, comidas e velas. Um dos vizinhos da comunidade, o engenheiro Paulo Lang, 25, que há 17 mora na região, diz que até galinha morta já encontrou. “Ficou cheirando por dias”, lembra.
Oferendas ao redor da árvore.<br>Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Oferendas ao redor da árvore.<br>Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Talvez a magia venha daquela história da Helga, lembra? Talvez seja o escravo enterrado que renasceu como árvore. Não custa acreditar. Que reine para sempre por essas bandas.
Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

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