Estilo & Cultura
Conheça Adoaldo Lenzi, o braço direito de Poty
Com traço delicado e preciso, Lenzi assina a execução dos painéis de Poty Lazzarotto. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Cerâmica, vidro, tinta e muito talento. Essas são as matérias-primas do trabalho primoroso realizado pelo artista plástico Adoaldo Lenzi. Anônimo para boa parte dos curitibanos, Lenzi tem obras espalhadas por todos os cantos da cidade, o que torna difícil para qualquer morador ou turista a tarefa de nunca ter cruzado com pelo menos um de seus trabalhos.
Braço direito e amigo fiel de Poty Lazzarotto, Lenzi executava e assina com o mestre os painéis cerâmicos que colorem a capital e ajudam a manter viva a história da cidade. Então, da próxima vez que passar em frente a um deles, olhe com atenção: verá o “A. Lenzi” ao lado do nome de Poty.
Sua obra, porém, vai muito além dos painéis cerâmicos. Artista completo, o homem de 72 anos de figura serena executa trabalhos em pedra natural, mosaicos e vitrais, em especial os sacros. É de Lenzi, por exemplo, o vitral confeccionado em homenagem à visita do Papa João Paulo II a Curitiba, na década de 1980. A obra está exposta na Igreja de Santo Estanislau e reproduz a figura do pontífice em uma peça de 1,30 m x 4,75 m, que utilizou 2,8 mil cacos de vidro em 45 tonalidades de cor.
“Quando o Papa veio a Curitiba, eu estive com ele no Palácio Iguaçu. Ele não chegou a visitar a igreja, mas a comunidade fez uma foto ampliada do vitral e o presenteou. Foi muito gratificante”, lembra.
A atenção aos detalhes e o refinamento do trabalho fizeram com que suas obras cruzassem divisas e fronteiras e chegassem a outros estados e países. A igreja de Santa Maria Magdalena, na Argentina, e a Basílica Nacional de Caacupé, no Paraguai, contam com vitrais do artista.
A atenção aos detalhes e o refinamento do trabalho fizeram com que suas obras cruzassem divisas e fronteiras e chegassem a outros estados e países. A igreja de Santa Maria Magdalena, na Argentina, e a Basílica Nacional de Caacupé, no Paraguai, contam com vitrais do artista.
“Fiz os 70 vitrais desta obra, que também conta com uma imagem do Papa João Paulo II. O vitral da fachada da basílica (com 350 m² e assinado em parceria com Osmar Horstmann) é um dos maiores da América Latina”, conta Lenzi.
Nasce um artista
Natural de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, Adoaldo Lenzi chegou a Curitiba aos 12 anos acompanhado dos pais e dos sete irmãos mais velhos. Um deles começou a trabalhar com o artista João Frederico Genehr, que confeccionava vitrais e mosaicos. Em pouco tempo conseguiu emprego para o caçula.
No início, Lenzi era um faz-tudo do estúdio, mas não demorou para que “pegasse gosto” pelo trabalho do mestre. Este, então, incentivou-o a começar a “rabiscar” e orientou os primeiros traços do discípulo.
Aos 18 anos, Lenzi foi servir o exército no Rio de Janeiro e, ao se oferecer para restaurar um mosaico do quartel, teve a oportunidade de frequentar o curso de mosaicos da Escola Nacional de Belas Artes. Foi nesta época que conheceu figuras como Oscar Niemeyer e Poty Lazzarotto, com quem trabalharia anos depois.
Aos 18 anos, Lenzi foi servir o exército no Rio de Janeiro e, ao se oferecer para restaurar um mosaico do quartel, teve a oportunidade de frequentar o curso de mosaicos da Escola Nacional de Belas Artes. Foi nesta época que conheceu figuras como Oscar Niemeyer e Poty Lazzarotto, com quem trabalharia anos depois.
Estúdio
De volta a Curitiba, Lenzi abriu seu estúdio, que funcionou de 1970 até há pouco mais de um ano na Rua Raposo Tavares, no Pilarzinho. Nessas mais de quatro décadas dedicadas à arte, ele produziu cerca de 1,5 mil obras, entre instalações públicas e particulares.
“Prefiro ter uma obra na rua, para o povo ver, do que dezenas de obras penduradas no escritório de um executivo. Isso o Poty sempre falava e eu concordo com ele”, ressalta Lenzi.
Além das obras realizadas em parceria com Poty, estão no portfólio do artista o painel em pedra natural em comemoração aos 50 anos da PUC-PR e o restauro dos vitrais da Catedral de Curitiba, entre outras.
Hoje, Lenzi trabalha em meio à natureza em um estúdio de 220 m² localizado em Almirante Tamandaré.
Hoje, Lenzi trabalha em meio à natureza em um estúdio de 220 m² localizado em Almirante Tamandaré.
Seu mais recente trabalho são os quatro painéis cerâmicos instalados no campus Rebouças da UFPR. As obras remetem à história da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), ao centenário e aos cursos da universidade.
Sobre a relação com a capital paranaense, Lenzi se diz um curitibano de coração. “Curitiba representa tudo, tanto que tive chance de ficar no Rio [de Janeiro], mas voltei. A cidade me acolheu e eu levei seu nome para todo o país e o exterior, pois, debaixo da minha assinatura, as obras sempre tinham o nome de Curitiba”, destaca.