Bolo de Santo Antônio
Estilo & Cultura
Casa da maior festa de Santo Antônio do PR, igreja guarda um pedaço da história de Curitiba
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Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro de Curitiba, abriga uma das maiores festas de Santo Antônio do Paraná, com venda do tradicional bolo do santo católico. | Joka Madruga/Pascom Paróquia Bom Jesus dos Perdões
A Praça Rui Barbosa há anos mantém uma tradição com o dia 13 de junho. As filas que saem da Paróquia Bom Jesus dos Perdões e dobram a quadra durante todo o Dia de Santo Antônio não deixam dúvida de que, ali, a festa é grande — na realidade, a maior do Paraná. Todos os anos, são milhares de pessoas que visitam a igreja para comprar o tradicional bolo de Santo Antônio, seja por devoção, seja pela lenda de que casa logo quem acha o santinho escondido na fatia.
A venda do tradicional bolo do santo católico começa a partir desta quinta-feira (10), das 6h30 às 20h, até domingo (13). Cada pedaço custará R$ 7, com três opções de embalagens: para uma fatia, duas fatias e cinco fatias. A pedido da Prefeitura de Curitiba, a entrega do bolo será feita na forma de take away, ou seja, as pessoas pegam e levam sem consumir no local. A partir de sábado (12) também terá o atendimento de drive thru, em que as pessoas podem comprar sem sair do carro.
![Interior da Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro de Curitiba, que abriga uma das maiores festas de Santo Antônio do Paraná.](https://static.revistahaus.com.br/revistahaus/2021/06/09142202/interior-bom-jesus-dos-perdes-foto-nay-klym-b3c56340-1.jpg)
Mas, além de cruzar com a história de pessoas que devem ao santo bênçãos e milagres, a paróquia de ordem franciscana tem sua própria história costurada à de Curitiba. Suas origens remetem à chegada dos franciscanos na cidade no fim do século 19, documentadas pelos próprios freis. Em um século, a igreja passou de uma capela de 108 m² para um dos prédios de estilo neogótico mais significativos da capital.
Largo da Misericórdia
O local que hoje abriga a igreja era, em 1901, apenas uma capela e um pequeno convento, habitado pelos frades que ali chegaram dois anos antes. A atual igreja, de capacidade para 450 pessoas e com uma torre de 42 metros de altura, foi erguida entre maio e setembro de 1908 e inaugurada em julho no ano seguinte. Quem assinou o projeto foi o frei Feliciano Schlag, arquiteto responsável pela construção de diversas igrejas da província no início do século 20.
![Igreja Bom Jesus dos Perdões é um dos melhores exemplares do neogótico em Curitiba.](https://static.revistahaus.com.br/revistahaus/2021/06/09142151/foto-bom-jesus-dos-perdes-henry-milleo-b3c56340.jpg)
Quem explica a teoria corrente de o porquê do nome Bom Jesus dos Perdões é o pároco, frei Alexandre Magno Cordeiro da Silva. “O nome antigo da Praça Rui Barbosa é Largo da Misericórdia. Por isso, a nossa tese é de que a igreja construída é Bom Jesus dos Perdões: misericórdia, perdão. Bom Jesus tem vários, mas dos Perdões não é tão fácil achar”, brinca.
Identidade curitibana
Novos elementos foram sendo incorporados à arquitetura da paróquia com o passar do tempo, sendo alguns deles icônicos da própria história de Curitiba: os três sinos, dedicados a Senhor Bom Jesus, São Francisco e Santo Antônio, foram fabricados na Fundição Irmãos Müeller; a pintura original, de 1917, teve parceria de Paulo Hauer, da família que ajudou a colonizar a capital; a via sacra em relevo de gesso veio da antiga fábrica de Gerd Claassen e Kaminski, responsável por imagens em igrejas de toda a cidade.
![Fila para comprar o bolo de Santo Antônio antes da pandemia.](https://static.revistahaus.com.br/revistahaus/2021/06/09142152/parquia-bom-jesus-dos-perdes-ivonaldo-alexandre-b3c56340.jpg)
Internamente, a sensação é a de adentrar a um quadro. Pinturas originais vão do chão ao teto e retratam momentos da vida dos santos padroeiros. Vitrais coloridos adornam as janelas, assim como as diversas esculturas que se espalham pela nave, capela-mor, capelas laterais baixas e coros — todos elementos clássicos da arquitetura neogótica. Completa a riqueza o órgão Speith de 95 anos, um dos últimos da marca em funcionamento no Brasil.
Do potreiro à grande festa
Com 99 anos, frei Cássio Vieira de Lima é um dos freis que mora no convento anexo à igreja. Essa é a terceira vez que mora ali. A primeira foi em 1935, quando ainda era estudante de filosofia. Na época, conta, o local tinha o apelido de “potreiro dos padres”. “A gente só andava a cavalo, e no terreno onde hoje fica o Colégio Bom Jesus só tinha uma horta, uma estrebaria e três fileiras de ciprestes”, lembra.
![Praça Rui Barbosa em abril de 1955. À esquerda, o prédio do antigo Quartel; à direita, a Santa Casa de Misericórdia e vista parcial da Paróquia do Senhor Bom Jesus dos Perdões.](https://static.revistahaus.com.br/revistahaus/2021/06/09142156/11537_image-b3c56340.jpg)
De lá pra cá, o espaço dedicado à igreja ganhou salão paroquial, aumentou o convento, restaurou a paróquia e, recentemente, construiu uma cozinha anexa para a produção monumental do bolo de Santo Antônio. E, por mais que a igreja seja associada à grande festa, é por ser franciscana que acontece a devoção ao santo casamenteiro.
Conta a história que Antônio criou o chamado pão dos pobres, tradição de doar pão a quem precisa e que aproxima as pessoas do santo. “Essa é uma devoção franciscana. Se você vai a Washington, Roma ou São Paulo, onde tem franciscanos, tem pão dos pobres”, destaca o pároco. Seja pelo pão, bolo, bênção ou casamento, fato é que, nessa semana, é impossível passar despercebido por essa devoção.
![Em 2018, festa de Santo Antônio contou com 16 toneladas de bolo e 20 mil santinhos.](https://static.revistahaus.com.br/revistahaus/2021/06/09142157/parquia-bom-jesus-dos-perdes-b3c56340.jpg)
*Matéria publicada originalmente em 11/06/2018.