Estilo & Cultura

Bauhaus: conheça a escola que revolucionou a história do design

Luan Galani
29/10/2015 00:00
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Diz-se por aí que as crises são momentos férteis para criar e fazer diferente. Com a Bauhaus foi assim. Mais do que um movimento ou uma linha de pensamento, a alemã Staatliches Bauhaus (Casa Estatal da Construção, em tradução livre) nasceu em 1919 como um instituto de design, artes plásticas e arquitetura. Logo depois da Europa, e especialmente a Alemanha, ter “tropeçado na cristaleira”.
Após a Primeira Guerra Mundial, o país se encontrava em um cenário caótico: diversas cidades destruídas pelo conflito, inflação estratosférica, restrições de guerra à indústria e uma república recém-instalada de maneira não muito tranquila. “Diante dessa situação, tudo precisava ser reconstruído. O “quintal” precisava ser arrumado. E a pergunta que os fundadores da Bauhaus lançaram foi: o que queremos a partir de agora?”, esclarece o designer e artista alemão Henning Kunow, com o olhar de quem se formou pela Universidade Anhalt de Ciências Aplicadas em parceria com a Fundação Bauhaus Dessau.
O objetivo da escola era dos mais radicais: romper completamente com o passado e reimaginar o mundo a partir de uma nova expressão. “Formaremos uma escola sem separação de gêneros que criam barreiras entre o artesão e o artista. Conceberemos uma arquitetura nova, a arquitetura do futuro, em que a pintura, a escultura e a arquitetura formarão um só conjunto”, como consta no primeiro manifesto do movimento, escrito por Walter Gropius.
E aí reside a jogada de mestre. Gropius, berlinense de uma família de arquitetos, juntou a Escola de Artes e Ofícios com a Academia de Belas Artes e reuniu na cidade Weimar, centro-leste da Alemanha, os maiores nomes de diversas áreas para, juntos, fazerem esse experimento da unificação. Vieram marceneiros, vidraceiros, tapeceiros, fotógrafos, coreógrafos, pintores, ceramistas e arquitetos. Destaque para os pintores suíços Johannes Itten e Paul Klee, o pintor russo Wassily Kandinsky e o arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe.
“O aluno entrava para o curso básico e passava por todas as oficinas. Aprendia a trabalhar com todo tipo de material, como ferro, vidro e madeira, por exemplo, e depois partia para uma especialidade. Daí surgiu a irreverência e a busca por soluções inovadoras”, explica o arquiteto, designer e artista plástico Ivens Fontoura, que leciona na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Campo de experiências
O fato de tudo ter acotencido em Weimar, cidade natal de Goethe e Schiller, quase uma meca do classicismo e do romantismo alemão, tornam a ousadia ainda maior. As pessoas torciam o nariz para tudo que Bauhaus produzia. “No lugar das clássicas poltronas robustas de couro ou veludo, com a qual todos estavam acostumados, o movimento trouxe peças superleves de estrutura tubular metálica, sem qualquer ornamento”, exemplifica Kunow. “Era a estética adaptada para a era da industrialização: pensada com o intuito de produzir em larga escala o bom design, para sua democratização.”
Nas artes não foi diferente. O coreógrafo e escultor alemão Oskar Schlemmer fez uma revolução em cima dos palcos, considerada complexa e desafiadora até para os associados ao movimento. Sua obra mais famosa é o Balé Triádico, o primeiro balé abstrato da história da dança, em que os atores assumiam formas geométricas, como esculturas vivas, e percorriam linhas imaginárias do palco em determinados ritmos.
Até ser fechada pelos nazistas em 1933, a escola se mudou duas vezes, passando também por Dessau e Berlim. Sempre chamando atenção por suas criações em exposições e capas de revistas. Foram apenas 14 anos de vida. Mas a efervescência criativa ainda não encontrou paralelo e influenciou o mundo porque seus criadores levavam o espírito Bauhaus para onde quer que fossem.