Estilo & Cultura
As marcas do Jockey Club pelos imóveis históricos que ocupou em Curitiba
Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Reunindo apostadores, apaixonados e curiosos em torno do esporte que há décadas era tido como uma exclusividade das elites, o Jockey Club do Paraná contribui para contar a história social e arquitetônica de Curitiba. Afinal, nos seus 143 anos de existência, a entidade passou por três sedes, sendo a mais recente delas a do Tarumã.
O local, que recebe a partir deste domingo (4) a 24ª edição da Casa Cor Paraná, é tido como uma das mais emblemáticas obras da arquitetura moderna de Curitiba. Seu projeto, no entanto, está estreitamente ligado aos hipódromos que o antecederam, uma vez que o desejo de ofertar melhores condições para as corridas e conforto aos espectadores nortearam as diferentes transformações pelas quais o Jockey Club passou.
Paixão antiga
Em meados do século 19, as corridas em cancha reta, como eram conhecidos os duelos a cavalo, já eram realizadas em Curitiba e em algumas cidades do interior do estado. Mas foi o coronel Luiz Jácome de Abreu e Souza, hipólogo gaúcho, o precursor da criação do Club de Corridas Paranaense.
Com pista de 1,7 mil metros, o Prado Jácome, como também era conhecido, foi inaugurado em 29 de janeiro de 1874 na Marechal Floriano Peixoto, onde hoje funciona o campus de Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), antigo Hospital Nossa Senhora da Luz.
“Para a sociedade era um acontecimento muito importante, pois as corridas eram uma grande atração. A partir disso, começaram a aparecer os primeiros criadores de cavalos na cidade”, conta Rubens Gusso, diretor de marketing do Jockey Club do Paraná e membro da família que vivencia o turfe há gerações.
Mudança
Com a venda do terreno do Prado Jácome, em 1898, tem início a construção da segunda sede do Jockey Club na cidade, o Hipódromo do Guabirotuba, local hoje pertence à PUC-PR.
Feita em alvenaria, a arquibancada oferecia acomodações mais confortáveis aos espectadores e dispunha de um “pavilhão central para as autoridades”, formando um “conjunto elegantíssimo”, como descreveu o jornal “A República” em edição que circulou após a inauguração do espaço, em 25 de junho de 1899.
“Este edifício, onde hoje funciona o centro cultural da PUC-PR, apresenta vãos pequenos, ornamentos na fachada e janelas características da arquitetura eclética [estilo que predominava no período de sua construção]”, explica o arquiteto Salvador Gnoato, professor da instituição.
No final da década de 1940, e após a importação de animais argentinos e uruguaios que melhoraram o nível técnico das corridas, teve início uma discussão propondo a remodelação ou a mudança do hipódromo para um novo endereço, o que ocorreu na década seguinte.
Obra moderna
As obras de construção do Hipódromo do Tarumã tiveram início nos primeiros anos da década de 1950, com projeto assinado pelo engenheiro civil Edmir Silveira D’Avila.
Natural do Rio de Janeiro, ele trouxe a influência da arquitetura modernista desenvolvida pela Escola Carioca de Arquitetura (que tinha em Oscar Niemeyer um de seus principais expoentes) para o Jockey Club do Tarumã.
“As três arquibancadas em concreto armado, que apresentam um elegante desenho em curva, lembram muito a arquitetura de vanguarda que se fazia em todo o Brasil. São linhas esbeltas e leves, que faziam com que a arquitetura estivesse dentro do contexto dos jóqueis clubes, que eram os lugares mais elegantes da sociedade”, aponta Gnoato.
Em 10 de dezembro de 1955, o Hipódromo do Tarumã foi inaugurado na presença de autoridades e grandes figuras do turfe paranaense com a realização de sua primeira corrida, o Grande Prêmio Inaugural.
Cinquenta anos mais tarde, o governo do Paraná oficializou o tombamento da obra, destacando sua beleza e representatividade para a história arquitetônica do estado.
Novos usos
Além dos páreos, que hoje são realizados quinzenalmente, as festas e eventos que tem o Jockey Club do Tarumã como endereço, caso da Casa Cor Paraná, contribuem para manter ativa a veia social da entidade.
Outro fato que fará com que o local retome sua tradição de reunir as famílias nos finais de semana é a inauguração do Jockey Plaza Shopping Center, que está sendo construído anexo ao hipódromo e tem abertura prevista para abril de 2018.
Com 420 lojas, o empreendimento terá um boulevard com vista para a pista do Jockey, o que possibilitará aos visitantes desfrutarem de toda a “aura” que circunda o turfe.