Estilo & Cultura

O passeio por uma das “ruas” mais compridas de Curitiba

Eloá Cruz
25/11/2015 00:00
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Depois de algumas conversas com o pessoal do Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para tentar descobrir qual é a rua mais longa da cidade, a reportagem da Haus escolheu um só caminho que guarda Curitibas muito diferentes. Não se trata de uma rua só, afinal, o percurso de  aproximadamente 18 quilômetros é composto por nove trechos: a viagem começou bucólica na Rua Eduardo Sprada, seguindo pela Avenida Nossa Senhora Aparecida, depois Gonçalves Dias, Avenida do Batel, Benjamin Lins, Doutor Pedrosa, André de Barros, Nilo Cairo até terminar na Avenida Senador Souza Naves. De carro, são 30 minutos, com trânsito normal, para atravessar boa parte de Curitiba no trajeto de via única.
O início rural
Na altura do Passaúna, a Rua Eduardo Sprada mantém características de estrada rural. Fotos: Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.
Na altura do Passaúna, a Rua Eduardo Sprada mantém características de estrada rural. Fotos: Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.
O limite entre Curitiba e Campo Largo, no bairro Campo Comprido, fica sobre a ponte da represa do Passaúna, responsável por parte do abastecimento de água da cidade. “A Rua Eduardo Sprada era, na verdade, uma antiga estrada rural. Conforme a cidade foi crescendo, ela passou a ser urbanizada”, comenta o historiador e professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) Irã Dudeque. A rua, de acordo com ele, ganhou outra característica com o passar dos anos. Por causa da disponibilidade de grandes terrenos, a antiga estrada foi valorizada pelo mercado imobiliário e se transformou na principal via de condomínios residenciais da região.
Point de luxo
Casarão do ciclo da erva-mate é referência na Avenida do Batel. Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Casarão do ciclo da erva-mate é referência na Avenida do Batel. Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo.
Bares e lojas trazem para o trajeto modernidade arquitetônica na Avenida do Batel. O que antes era área industrial virou referência em vida noturna e lojas de grife. Para o coordenador da pós-graduação em gestão urbana da PUCPR Carlos Hardt, a história de loteamento reflete no perfil de cada área. “A ocupação dos terrenos não era regulamentada pela prefeitura. As intervenções aconteciam normalmente pela iniciativa privada”, explica. Com o tempo, os casarões da velha elite curitibana se transformaram em área comercial.
O caos
Hora do rush na André de Barros.
Hora do rush na André de Barros.
Há algumas décadas, a cidade terminava por ali, nas proximidades da antiga rodoviária – hoje Terminal Guadalupe. Como o trecho se transformou num grande gargalo, o fluxo de veículos na região fica cada vez mais complexo. “Entre a Doutor Pedrosa e a antiga rodoviária, a rua vira um caos absurdo. É preciso resolver esse trecho e valorizar as moradias ao redor”, alerta Dudeque. Em meados do século 19, a região da Santa Casa e da Praça Rui Barbosa era rural. Com o crescimento da cidade, a André de Barros passou a ligar o centro ao Cristo Rei e Alto da XV.
Fim do caminho
A Avenida Souza Naves encerra o percurso de 18 quilômetros com ares residenciais, que, aos poucos, vem recebendo empreendimentos comerciais. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo.
A Avenida Souza Naves encerra o percurso de 18 quilômetros com ares residenciais, que, aos poucos, vem recebendo empreendimentos comerciais. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo.
O trajeto termina no Cristo Rei. Com característica residencial, a Avenida Senador Souza Naves mostra uma região que vem se transformando em área comercial e de serviços. No final dos 18 quilômetros, o percurso mostra como a cidade vem sendo ocupada. “Com o estatuto da cidade e as normas urbanísticas, o interesse coletivo se sobrepõe ao particular. Você pode fazer o que quiser [em seu lote] dentro do limite que o estado impõe”, comenta o professor Carlos Hardt. A junção entre as vias é uma alternativa para melhorar a mobilidade urbana,.