Estilo & Cultura
Há 70 anos, santa em cima de um muro protege o Alto da XV
Detalhe da Nossa Senhora de Fátima no Alto da XV. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo | Leticia Akemi
Há 70 anos os muros da casa de Dona Nina, 91 anos, resistem às batidas semanais de carros e motos na esquina das ruas José de Alencar e Professor Brandão. Os vizinhos não podem dizer o mesmo. O segredo? Nada a ver com tijolos maciços ou fundação reforçada. É a capelinha branca com Nossa Senhora de Fátima que reina sozinha no alto do muro, logo acima da antiga porta de entrada, que ainda tem seu recorte marcado. Nina e seus quatro filhos acreditam. Metade do Alto da XV que passa pela frente e faz o sinal da cruz também.
Foi bem ali que certa vez um delegado da Polícia Civil foi baleado gravemente em uma perseguição. “Depois de muito tempo, a gente já tinha até se esquecido do acidente, ele voltou e pediu para comprar a santa, que, segundo o policial, foi quem o salvou da morte”, conta a matriarca da família. “A santa não tem preço”, avisa.
Hoje o leão de chácara da santa é o corretor de seguros Dejalma Assunção, 72 anos, um dos filhos de Dona Nina, que vira e mexe cuida da limpeza e pintura da capelinha. Graças a sua teimosia a santa ainda está de pé. “Sempre tem alguém se oferecendo para comprar nosso terreno. Mas enquanto eu estiver vivo, a santa vai continuar ali”, bate o pé.
Como a santa foi parar lá?
Não existe registro algum da capelinha nos arquivos públicos da Casa da Memória. O Google também desconhece a existência da santa do Alto da XV. Mas Dejalma sabe de cor a história. A casa foi construída no final da década de 1940 por seu avô Godofredo Reidler Assunção, na época fiscal da prefeitura, e a imagem de Nossa Senhora de Fátima foi colocada a pedido de sua avó, Maria Geraldina Assunção. Paralelamente, Godofredo também era benzedeiro e nutria carinho pela santa. Ainda jovem, com cerca de 30 anos, sofreu um derrame e ficou com a fala prejudicada. Faleceu com aproximadamente 60 anos.
O frei holandês Francisco van der Poel explica no Dicionário da Religiosidade Popular que a origem das capelinhas é incerta, mas seu objetivo é claro: proteger os lares e seus moradores. O arquiteto e historiador Key Imaguire Junior acredita que a prática é antiga e deve ter se originado em áreas rurais, “onde a necessidade de sorte com o clima, a colheita e a saúde dos animais era mais presente”. No Alto da XV parece estar funcionando.