Estilo & Cultura
A história das civilizações é contada em estilos arquitetônicos na catedral mexicana; conheça
Fotos: Wikimedia Commons
A primeira pedra para a construção da Catedral Metropolitana da Cidade do México foi colocada em 1524 por Hernán Cortes, mas sua história começou bem antes disso – séculos, milênios talvez -, com os povos que habitaram aquelas terras antes dos espanhóis.
Assim como boa parte das construções do país, as paredes da catedral são quase um livro ilustrado de história da arquitetura latino-americana. Construída na interseção das calçadas que levavam ao centro espiritual da capital asteca, a edificação utilizou em sua composição pedras que fazia parte do Templo Mayor, o mais importante centro religioso da Grande Tenochtitlan, cidade que ocupava a região antes da chegada dos espanhóis.
Em 1623, foi finalizada a construção da majestosa sacristia, toda revestida em ouro e hoje lar de tesouros religiosos e obras de arte como as pinturas e murais de Juan Correa e Cristóbal de Villalpando.
O interior da catedral foi finalizado em 22 de dezembro de 1667 e seu exterior levou mais 146 anos para ser lançado oficialmente, com suas quatro fachadas e seus lendários campanários assinados pelo arquiteto Manuel Tolsá.
Por ter presenciado cinco séculos de história, a Catedral Metropolitana carrega uma infinidade de referências arquitetônicas, que vão do Gótico e do Plateresco até o Neoclássico, passando pelo Barroco. Construída em forma de cruz católica, ela tem sua base apontando para o Zócalo, a praça mais famosa da capital mexicana, onde está a porta principal, que só é aberta em situações especiais.
São 14 capelas e um espaço de coral ornamentado no estilo barroco, que agrega mobiliário trazido pelo império espanhol das colônias asiáticas do país, como Macao e as Filipinas.
Guillermo de Balbás, outro profissional de arquitetura que é referência entre os mexicanos, assinou o Retábulo dos Reis – uma galeria de obras pictóricas com temática de reis e rainhas que foram santificados – e a Capela Real, ambos situados na parte traseira do altar da igreja que mostra colunas barrocas recobertas por uma chapa de ouro.
O famoso Cristo del Veneno, a obra central da igreja, por sua vez, fica na cúpula central da catedral, por trás da Porta Jubilar construída em estilo herreriano, assim como o Altar del Perdón.
Na parte externa, sob alguns ângulos é possível diferenciar os tipos de materiais usados na construção de cada parede, que congregam desde cimento e tijolos até composições com pedras coloridas com tinta vermelha feita a partir de um fungo de cactus presente da região, comuns na construção das pirâmides de Teotihuacan, na região metropolitana, e no próprio Templo Mayor.
Onde os sinos dobram
De toda a arquitetura da Catedral Metropolitana, um aspecto em particular chama a atenção dos visitantes. Em uma visita guiada, é possível transitar não apenas pelas diferentes capelas internas e quartos que servem de habitação para os religiosos que vivem na construção, mas também passear pelo teto da mesma – passando, inclusive, pelas telhas que compõem parte do telhado.
Tudo isso para conhecer de perto os dois campanários, ambos assinados pelo artista José Damián Ortiz de Castro, onde estão os 32 sinos da catedral, cada um com um nome e uma história para contar.
Os sinos do campanário são tão caros aos mexicanos que são guardadas pela catedral as histórias de sua fundição, com os artistas que os assinaram e informações sobre datas de instalação, manutenção, como e quando badalaram pela primeira vez, entre outros dados importantes. Hoje, faz parte da lista de atividades dos religiosos locais a tarefa de cuidar da manutenção e do toque dos sinos.
E tocar os sinos da Catedral Metropolitana não é exatamente uma tarefa simples. O maior deles, por exemplo, se chama Santa Maria de Guadalupe e pesa 13 toneladas, tendo sido instalado no campanário em 1793. Mas nem de longe é o que gera mais medos nos sineiros da catedral. Em 1947, um jovem trabalhador da igreja que estava com a tarefa foi atingido pelo sino e morreu – são, afinal, muitas toneladas de metal. Conhecido desde então como La Castigada, aquela campana específica nunca mais foi tocada, até que, em 2000, por ocasião da visita do papa, o Vaticano autorizou novamente seu uso.
*Especial para Haus.