Estilo & Cultura

A arte dos vitrais que sobrevive fora das igrejas

Eloá Cruz
11/11/2015 00:00
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Memorial Árabe: vidros coloridos em padronagens geométricas. Henry Milleo/Gazeta do Povo.

Quando o sol encontra a superfície colorida, o cenário surpreende. Logo que a humanidade dominou a fabricação do vidro, entre os séculos 10 e 11, a Igreja aproveitou da mágica dos vitrais para descrever a história de Cristo nas grandes janelas de paróquias e catedrais.
A história da técnica no mundo é de caráter religioso. De acordo com o professor de design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Ivens Fontoura, ela começa na igreja, que implementava o vitral nas construções para contar a história da religião. “O objetivo era levar os cidadãos para aquela tradição. Quando saiu das igrejas e chegou até as residências, ganhou outro significado”, esclarece o professor.
Com o passar dos anos, a técnica com vidros coloridos chegou aos pequenos palacetes da elite curitibana. Como é totalmente artesanal, o custo de execução de um vitral era alto – um verdadeiro artigo de luxo. As edificações aproveitaram da beleza da peça para criar lugares de imponência e espiritualidade.
A Casa Andrade Muricy é um dos exemplos de imóvel que traz o vitral em destaque na arquitetura. A construção eclética datada de 1926 é tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do estado. Com 300 metros quadrados e pé direito de quatro metros, a casa abriga um vitral que fica na escada principal e liga o térreo ao primeiro andar.
Vitral da  Casa Andrade Muricy. Peça cria imponência  e espiritualidade. Foto: Antônio More/Gazeta do Povo.
Vitral da Casa Andrade Muricy. Peça cria imponência e espiritualidade. Foto: Antônio More/Gazeta do Povo.
E não é só nas residências que o vitral laico aparece em Curitiba. O Memorial Árabe, situado no Centro, é um ponto turístico construído em homenagem à cultura árabe que também utiliza dos artifícios dos desenhos em vidro. Com 140 metros quadrados, a construção em forma de cubo tem uma de suas faces ornamentada com a técnica. Uma grande janela estampa um vitral com arabescos coloridos, padronagens geométricas presentes na arquitetura de países muçulmanos.
Memorial Árabe: vidros coloridos em padronagens geométricas. Henry Milleo/Gazeta do Povo.
Memorial Árabe: vidros coloridos em padronagens geométricas. Henry Milleo/Gazeta do Povo.
Os vitrais podem ser abstratos, mas também contam histórias. Três grandes peças que contemplam a construção da biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sede do Prado Velho, foram feitas por três artistas paranaenses: Abrão Assad, Poty Lazzarotto e Sérgius Edelyi. O primeiro deles retrata as profissões em suas diversas modalidades: arte, ciência, agricultura, comércio e indústria. O segundo vitral representa a evolução da comunicação, desde o anjo anunciador a era digital. E, no último painel, a evolução da vida humana cultural, artística e científica.
Seria o fim dos vitrais?
A técnica verdadeira, feita com pedaços de vidro colorido e unidos a partir de uma base de ferro que acompanha o desenho, é a mesma de séculos atrás. Como a confecção é totalmente artesanal, seu custo é alto. “Com o tempo, o vitral foi caindo em desuso. E hoje, mesmo que você queria ter uma peça dessas em casa, a mão de obra é escassa. O vitral hoje custa uma fortuna”, alerta o professor de design de interiores da Unicuritiba, Glauco Menta.
De acordo com o professor universitário, é muito provável que a técnica desapareça com o tempo. “Não sei se temos condições de preservar e mantê-la presente aqui no Brasil. É uma pena”, alerta.