Entrevista
DW! Design Weekend
Mula Preta lança mesa inspirada no xadrez e estante que celebra a Tropicália
Mesa Cambito é inspirada no xadrez, um dos jogos favoritos de André Gurgel e Felipe Bezerra, da Mula Preta, e também assume papel de namoradeira ou banquinho. | Mula Preta
O irreverente estúdio de design nordestino Mula Preta, do designer André Gurgel e do arquiteto Felipe Bezerra, ambos do Rio Grande do Norte, apresenta durante a Semana de Design de São Paulo 2021 duas novas peças icônicas com o contumaz atrevimento da dupla.
É a estante Tropicália, exposta no lado externo da flagship da marca, composta por módulos metálicos multicoloridos que são conectados uns aos outros por meio de ímãs. Ela pode assumir diferentes formas e priorizar diferentes combinações de cores.
Outro destaque lançado agora é a mesa Cambito, uma mesa de xadrez que também funciona como namoradeira ou banquinho, e que nasce da paixão da Mula Preta pelo jogo. A peça é feita em fibra de vidro e em faixas pretas e brancas.
Segundo os designers, o nome do produto se deu pela delicadeza de sua espessura, que faz um trocadilho entre "cambito", que no Nordeste significa "perna fina", e "gambito" que é uma jogada do xadrez.
Os designers receberam HAUS no showroom da marca nesta segunda-feira (4) para uma conversa exclusiva. Confira!
Que tipo de mensagem vocês gostam de trazer no trabalho de vocês?
André Gurgel: Antes de mais nada, quando você é verdadeiro com a sua personalidade, ela é transmitida através do seu trabalho. Nós, como essência, somos muito irreverentes, bem humorados, e, ao mesmo tempo, muito antenados com o mundo. Apesar de Natal ser fora do eixo produtor, consumidor e criativo, buscamos fontes externas, viajamos muito. E isso fez com que o repertório ficasse cada vez maior. Nosso design é a irreverência do design nordestino, só que com sofisticação. Tem colegas bem-sucedidos que trabalham com artesanato, mas a gente usa a irreverência nordestina. É da nossa personalidade. Como o nome do estúdio, que vem de uma música de Luiz Gonzaga. Você olha e vê que o nome é estranho. Uma espécie de maluquice boa.
O regionalismo tem sido um grande atrativo para o público consumidor de mobiliário de alto padrão. Porém, ao mesmo tempo, existe um preconceito do brasileiro pela cultura nordestina. Qual a avaliação de vocês?
André Gurgel: São Paulo é um grande centro que acolhe tão bem. O número de nordestinos aqui é imenso. Eu vejo cada vez menos esse bairrismo. Quando se assume uma postura segura, você passa a ser admirado, e não mais causa afastamento. As pessoas estão admirando muito o nosso trabalho. E o fato de criar peças mais icônicas, do Nordeste mais irreverente, atrai ainda mais.
Vocês têm uma preocupação de criar uma linha que converse entre si ou cada peça tem uma identidade única mesmo?
Felipe Bezerra: Realmente algumas criações saem do nada da cabeça da gente. Outras, uma assessoria que vai nos briefando sobre o que precisamos desenvolver, como sofás, camas, mesas de centro. Quando a gente abriu a loja, em novembro do ano passado, tivemos que desenhar 60 peças, porque a gente só tinha uma dúzia. Desenhamos uma linha completa para atender a necessidade do mercado.
André Gurgel: O design começou como uma brincadeira para a gente, mas é hoje nosso negócio principal. Então a gente sabe que a conta precisa fechar e que no conceitual nem sempre fecha. Então precisa ser comercial também. Obra de arte não sustenta todo mundo.
Como a pandemia mudou a criação de vocês?
André Gurgel: Não mudou. O Felipe mora em Natal e eu moro há cinco anos em São Paulo. Então a gente já tá acostumado a trabalhar à distância.
Felipe Bezerra: O que foi que mudou é que na pandemia resolvemos montar a loja. Partir para o tripé de fábrica, varejo e design. Precisava desse passo porque vendíamos poucas peças e as pessoas não tinham uma leitura global do nosso espírito. Tem sido um tremendo sucesso. Não temos nem um ano de loja e está melhorando cada vez mais.
Vocês primeiro foram celebrados fora do Brasil para depois ganharem o país. Por quê será que é assim, na opinião de vocês?
André Gurgel: Não sei se é assim no mundo todo, se santo de casa não faz milagre. Se for, é coisa cultural do ser humano. Se não for, é resquício de alguma herança cultural que permeia até hoje. Mas acho que isso está mudando.