DW! 2022
DW! Design Weekend 2022
Sergio Matos anuncia série de colabs e experimentações para mostrar cada vez mais o Brasil profundo
O designer mato-grossense Sergio J. Matos, 39 anos, é um guardião da brasilidade. Daquela brasilidade assumida sem medo, sem pretensão de ter silhueta global, distante dos grandes centros, com ousadia de formas e cores, verdadeiras esculturas cheias de significados, feitas à mão e fincadas na regionalidade.
Na DW! 2022, a Semana de Design de São Paulo deste ano, Matos apresenta duas novas criações: a cadeira Flor de Lótus, em edição limitada de 100 unidades, concebida com a modelo curitibana Isabeli Fontana; e a poltrona Tupé, uma peça feita inteiramente de faixas de aço cortado a laser.
Os dois lançamentos são um aperitivo do que vem por aí. Em entrevista exclusiva para HAUS, que está cobrindo o evento com a Inove Design, o designer confidencia que agora está dedicado a experimentar também outros materiais e que a peça com Isabeli é apenas a primeira de uma longa série de colaborações que serão anunciadas em breve.
Como surgiu a Tupé? A peça é toda em metal, bastante diferente de trabalhos anteriores. Por quê?
É um projeto de um ano e meio. Só agora conseguimos um fornecedor que pudesse produzir a peça. É uma tentativa de sair um pouco da linguagem das cordas que todo mundo está usando. Como a gente usa há bastante tempo, parece muito com o que estão lançando por aí. Estou tentando experimentar outros materiais e a Tupé é uma dessas experimentações. Você ainda vai ver tramas nas nossas peças, mas aliado ao aço, algo mais rígido. Tupé é uma tapeçaria indígena, e a base dessa poltrona é como se fosse o início do processo de tramar o Tupé.
E a Flor de Lótus? Como surgiu?
É uma das primeiras colabs de uma série que a gente vai fazer com pessoas de outras áreas. Uma tentativa de trazer uma visão diferente do que estamos acostumados com outros designers. Queremos trazer a visão de outros mundos. Essa foi com a Isabeli Fontana. É uma série limitada de cadeiras, de 0 a 100, e vamos fazer de diferentes cores. No início, a ideia dela era ser algo relacionado à moda. Mas, depois, decidimos pela simbologia, pela meditação que ela pratica. E uma das filosofias que ela segue é a do Budismo. E ele tem uma história com cores, cartela de cores infinita, e cada tonalidade tem um significado. E dentro da simbologia havia a flor de lótus, de onde surgiu a ideia para essa peça. Criamos a estrutura, e ela entrou com o conhecimento de cores e materiais.
Como foi trabalhar com a Isabeli Fontana?
Foi um desafio, pois são dois mundos próximos, mas que são bem diferentes. Moda e móveis são duas ideias, dois conhecimentos distintos. Foi um desafio unir isso e respeitar a essência dela e a essência do estúdio.
Recentemente você fez uma nova viagem e imersão. Para onde foi? O que vem por aí?
Sim. Eu estou participando desde novembro de um projeto do governo do estado do Amazonas junto com o Sebrae. Dessa vez o projeto foi bem mais longo. Passei dois meses no Amazonas, desenvolvendo produtos e projetos para nove comunidades de diferentes etnias. São produtos que terão selo do artesanato do Amazonas. A maioria dos grupos eu já conheço. Isso tornou tudo mais fácil. Era eu visitando amigos.
E sobre as novidades para Artefacto. Pode falar um pouco sobre essas criações?
Artefacto é uma grande parceira minha, de muitos anos. Temos peças icônicas com eles, como o balanço Ipê. O Paulo, neste ano, prestigiou bastante meu trabalho. Ele fez um terraço todo na Avenida Brasil com produtos que eu desenvolvi para a Artefacto. Incluindo quatro novas peças: dois balanços, uma cadeira e um sofá, todos lançados agora.
Que Brasil você tenta trazer e celebrar nas suas criações?
Quero mostrar o Brasil profundo, que pouca gente conhece. O Brasil do Amazonas, do Nordeste. O Brasil é muito rico em identidade. Eu costumo falar: se a gente andar uma hora de carro em um estado considerado pequeno como a Paraíba, sai de João Pessoa para Campina Grande, muda o sotaque. Imagina o quanto de cultura não muda. Você anda mais 40 minutos para o Cariri já é outra realidade. Se entra mais 30 minutos para o sertão é outra realidade totalmente diferente. Então imagina a riqueza que a gente tem nesse pequeno território e comparado com todo o território brasileiro. Temos muita coisa de identidade para ser trabalhado. É isso que quero mostrar, que faz parte do DNA do estúdio.