Design
Você pode não perceber, mas o design é capaz de transformar negócios e vidas; conheça exemplos
Kit de Ferramentas para gravidez de alto risco: solução simples que resolve problemas. Foto: Divulgação
Impulsionar negócios, aumentar o faturamento e encantar o usuário por meio de experiências são algumas das possibilidades menos óbvias do design. O trunfo do uso da ferramenta está na sua possibilidade de solucionar problemas – e é por isso que ele tem sido utilizado como instrumento estratégico para alavancar empresas e dar vida a projetos.
Para Ana Brum, que é diretora técnica do Centro Brasil Design, instituição que monitora e incentiva o uso do design no país, isso ocorre porque o design é uma ferramenta que traz resultados imediatos ao negócio por impactar na percepção de um serviço, no posicionamento de uma marca, na atenção por uma embalagem e até mesmo no desejo por um produto.
“É algo que permite que o negócio se torne inovador com pouco investimento, mas com grande retorno a curto e médio prazo. As iniciativas isoladas do uso do design ou mesmo aquelas realizadas com agrupamentos de empresas mostram que investir em design é muito lucrativo”, complementa. E é isso que os números comprovam. A instituição analisou empresas por meio de um programa de política pública local e constatou que, no Paraná, para cada 1% que as empresas investem em design, é gerado um aumento de vendas de 3% nos produtos e serviços.
Investimento em design que impacta o usuário
Foi o caso da Vuelo Pharma, uma empresa de healthcare da região metropolitana de Curitiba que sentiu nos balanços mensais e na resposta dos clientes o impacto do investimento. De olho no mercado internacional, em 2017, a empresa apostou na ferramenta para desenvolver seu novo modelo de negócios. A marca passou por uma repaginação completa — nome, identidade visual e embalagens foram recriados para atender ao novo posicionamento. “Até mesmo a clássica bula de papel foi eliminada, usando uma solução mais criativa e sustentável, que foi usar a própria embalagem para esse fim”, conta Thiago Rossetto Moreschi, sócio-diretor da empresa.
As cores escolhidas para a nova fase também mudaram, e a paleta azul e verde, comum ao mercado de healthcare, foi substituída por tons vibrantes. “Com tudo isso, notamos um aumento significativo de vendas”, relata Moreschi. A resposta dos usuários foi rápida e positiva: em dois anos, o crescimento foi de 53,5% no faturamento.
Outro caso recente de sucesso é de um produto tipicamente brasileiro, a cachaça. A Sanhaçu, marca pernambucana de cachaça orgânica, decidiu investir em design para apresentar seus produtos ao mercado internacional. A nova roupagem, mais sofisticada, foi desenvolvida para que a cachaça pudesse se destacar entre suas concorrentes.
Enquanto aguardavam o momento da exportação, três novas embalagens foram colocadas em teste no mercado brasileiro. Apenas com essa fase de testes, as vendas cresceram em pelo menos 10%. Agora, a cachaça passou a ser exportada para a Bélgica e Luxemburgo.
Design de serviço
E embora retorno financeiro seja algo altamente desejável, muitas vezes o impacto do design vai além do lucro. Quem usa o transporte público em Curitiba certamente já se deparou com pequenas bibliotecas que foram montadas em alguns tubos — as Tubotecas. Feitas com estruturas tubulares e chapas perfuradas de aço, foram criadas de forma a aproveitar a estrutura dos famosos tubos de ônibus curitibanos para ajudar os passageiros a incluir a literatura em suas rotinas.
No local, o usuário pode pegar emprestado um livro e devolvê-lo quando quiser, sem custos ou burocracia, em qualquer uma das demais Tubotecas da cidade. Mas onde exatamente entrou o design nesse projeto? “Em tudo! A proposta de oferecer um serviço gratuito, encaixando uma biblioteca na estrutura de uma estação-tubo para acessibilizar a leitura, é um ótimo exemplo de design de serviço”, explica o arquiteto, urbanista e ex-presidente do IPPUC, Sérgio Pires, que ajudou a idealizar o projeto.
Em 2016, a iniciativa, que foi desenvolvida pelo Ippuc em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e a Urbanização de Curitiba (Urbs), ganhou um IF Design Award — um dos mais importantes prêmios de design do mundo. “É um exemplo menos óbvio do potencial e da aplicabilidade do design, que quando é colocado à serviço da sociedade, transforma a rotina das pessoas”, esclarece Pires.
Também uma aplicação do design de serviço, o High Risk Pregnancy Toolkit (kit de Ferramentas para gravidez de alto risco, em tradução livre) é um produto que ajuda tanto profissionais de saúde quanto voluntários a reconhecer e explicar os sinais de gravidez de alto risco para mulheres que vivem em ambientes de alta vulnerabilidade. Lançado em 2018, nasceu com cunho totalmente social.
O kit inclui um conjunto de cartões resistentes com informações relevantes sobre gravidez de risco, de forma didática e um fetoscópio — um estetoscópio fetal — que permite ouvir o coração do bebê. A criação é agora utilizada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha para ajudar os profissionais de saúde em campo a prestar melhores serviços às gestantes com complicações.