Design
Projeto une designers renomados e artesãos da Amazônia na produção sustentável de móveis
Projeto Design & Madeira Sustentável levou designers à floresta amazônica para trabalharem juntos em peças exclusivas. Foto: Divulgação/BV Rio
O Instituto BV Rio lançou no último dia 22 durante a feira MADE de design, em São Paulo, um documentário produzido ao longo de 2018, fruto do projeto Design & Madeira Sustentável. Idealizado pela própria organização, o programa conectou duas pontas importantes de um mesmo processo — designers brasileiros de renome e moradores de uma comunidade da floresta amazônica que atuam com o manejo de madeira sustentável.
Com início em abril do ano passado, o projeto levou dez profissionais da área para uma oficina moveleira em uma comunidade em plena floresta amazônica para compartilhar suas técnicas e seu conhecimento na manipulação do material.
“O nosso papel é exatamente fazer essa ponte entre o mercado de alto design e a população ribeirinha, que é, na verdade, a verdadeira dona da floresta, de onde vêm os produtos. Ao conectar estes dois mundos complementares, a gente passa a entender como aquilo chegou na nossa casa, somos mais críticos”, resume Bruno Maier, gerente de desenvolvimento de negócio da BV Rio.
O projeto contou com a participação dos designers Carlos Motta, Fernando Mendes, Paulo Alves, Leonardo Lattavo, Claudia Moreira Salles, Guido Guedes, Rodrigo Calixto, Ricardo Graham, Alessandra Delgado, Roberta Rampazzo e Julia Krantz.
Ao longo de 12 meses, todos eles passaram um período em Belterra (PA), na Floresta Nacional do Tapajós, onde a Movelaria Anambé se transformou em verdadeira escola comunitária: ali, os designers ofertaram oficinas de capacitação, trabalharam junto aos artesãos no sentido de desenvolver sua criatividade para pensar novas formas de trabalhar com a madeira excedente, e produziram, juntos, peças assinadas pelos designers e pelos próprios moradores locais.
Algumas das obras produzidas em conjunto entre os ribeirinhos e os designers saíram da floresta e ganharam as galerias, lojas de decoração e as feiras de design, entre elas a mais importante do mundo, a Semana de Design de Milão, que contou com a exposição de três objetos produzidos durante o projeto Design & Madeira Sustentável.
Para o designer Paulo Alves, a oportunidade de trabalhar com estas pessoas agregou não apenas o valor de se trabalhar em um projeto comunitário, mas também possibilitou aos designers a experiência de manejar a madeira em plena floresta.
“A gente tem essa tradição que vem desde a época da colonização, de tirar a tora de madeira e levar sei lá pra onde, então quem sai prejudicado é justamente quem está lá onde a árvore cresceu, o verdadeiro dono da madeira. Mas assim pudemos utilizar a madeira dentro da floresta, criar o mobiliário, ali mesmo”, frisou.
O designer explica que, durante sua imersão na moveleira, buscou trabalhar com os artesãos questões de aproveitamento e de descobrir novas possibilidades com material residual. “Nestas moveleiras, sobra uma quantidade enorme de resíduo — metade da madeira é vendida, e o restante é descartado. Então pensamos em utilizar essa matéria-prima que não teria valor comercial nenhum e capacitar as pessoas dali para fazer novos produtos”.
Já a designer Julia Kranz destacou a importância de usar e divulgar a madeira sustentável. “Poder desenvolver um trabalho junto com uma comunidade, junto com pessoas daqui, fazer com que eles também possam crescer, que a gente possa crescer junto, isso pra mim é muito legal”, disse a designer em vídeo divulgado pelo instituto BV Rio.
Segunda fase
Agora, com a primeira fase do projeto já concluída, a próxima etapa já está em planejamento e deve incluir novos designers ou a inserção de outros tipos de conhecimento.
“Podemos também capacitar em termos de gestão, logística, embalagem. A gente sente que ainda existe um espaço grande para crescer, porque de fato [os artesãos locais] nunca foram empresários, não têm essa veia com naturalidade, é algo que tem que ser treinado, a naturalidade com que trabalham a madeira não necessariamente é a naturalidade com a qual se faz negócio”, destaca Maier.
Ele acredita que expandir o Madeira & Design Sustentável pode trazer grandes benefícios para a expansão do uso da madeira legal e o combate à ilegalidade que permeia muitas das trocas comerciais na Amazônia.
“Uma consequência muito positiva é que muitos designers terceirizaram o projeto para eles, então hoje a cooperativa tem clientes de produtos extremamente sofisticados, para galerias de arte, lojas de decoração até mesmo fora do Brasil. São lugares em que eles dificilmente chegariam sem um intermediário”, explica.
*Especial para Gazeta do Povo.