Design
O que faz de Valência a mais nova capital mundial do design?
Esculturas coloridas feitas de papel machê para o Festival Las Fallas, em Valência, na Espanha, eleita Capital Mundial do Design de 2022. Foto: Bigstock
A Organização Internacional do Design (WDO – World Design Organization) anunciou no mês de setembro, durante um evento em Montreal – no Canadá, a cidade espanhola Valência como a Capital Mundial do Design para 2022. A nomeação é resultado do importante legado que a cidade constrói há um bom tempo utilizando o design para o desenvolvimento da indústria local e para políticas públicas.
Para a presidente da organização e membro do comitê de seleção da Cidade Mundial do Design 2020, Luisa Bocchieto, a proposta de Valência mostrou claramente a aplicação eficaz do design mediterrâneo. “A cidade mostra como se faz design para mudança e design como referência chave na melhora da qualidade de vida da população”, ressaltou.
A cidade espanhola se torna então a oitava a receber o título, depois de Lille – na França (2020), Cidade do México (2018), Taipei – em Taiwan (2016), Cidade do Cabo – na África do Sul (2014), Helsinki – na Dinamarca (2012), Seul – na Coreia do Sul (2010) e Torino – na Itália (2008). Na disputa de 2018, Curitiba foi finalista ao lado da Cidade do México.
Valência disputava o título com Bengaluru, na Índia, que também chegou a apresentar projetos transformadores de design. O bom exemplo de Bengaluru fez com que o comitê decidisse por aproveitar o potencial dessa cidade para criar um projeto piloto de transformação de cidades emergentes.
Ainda assim, o júri optou por Valência na comparação com Bengaluru. Diante disso, fica a pergunta: o que Valência tem de tão especial? A reportagem de HAUS foi atrás da resposta e descobriu inúmeras explicações.
O novo e o velho na arquitetura
Os mais antigos monumentos de Valência, como a Catedral, as Torres de Quart e o Palacio de La Generalitat – que atualmente é a sede do governo do estado, ganham destaque ao lado de construções contemporâneas, como o complexo Cidade das Artes e da Ciência, do arquiteto valenciano Santiago Calatrava. O projeto é composto por quatro grandes estruturas: o Museu das Artes e da Ciência, o Parque Oceanográfico, o Hemisférico e o Grande Teatro de Ópera.
Desenvolvimento e adaptação
Para o valenciano José Luis Fernandez, 52 anos, empresário que mora em Curitiba há nove anos, a cidade é um belo exemplo de desenvolvimento e adaptação em cada momento da sua história. Em 1957, a cidade sofreu com um dos maiores alagamentos da história. “O Rio Turia teve seu curso desviado e o seu antigo caminho foi transformado em um grande jardim, que hoje é o pulmão da cidade”, descreve.
Outra adaptação aconteceu na região portuária de Valência, que foi reformada e chegou até a receber o campeonato de Fórmula 1 por cinco anos, de 2008 a 2012. A recuperação de prédios históricos da região central, com trabalho de retrofit — tipo de reforma que conserva a estrutura original do projeto, mas que permite que as pessoas possam morar com todo o conforto atual — também fez parte desse processo de requalificação urbana.
Crescente qualidade de vida
Para o valenciano Fernandez, a qualidade de vida, sem dúvida nenhuma, tem feito de Valência uma das melhores cidades para viver na Espanha. As conexões de trem com Madri é um exemplo, com linhas de alta velocidade. Em cerca de 90 minutos é possível chegar do centro de Valência ao centro de Madri — uma viagem de aproximadamente 350 km.
A cidade também tem rodovias que favorecem a ligação com qualquer outra parte do país e da Europa. “Temos um aeroporto internacional com conexões aos principais destinos da Europa e África”, explica o empresário.
A classe média de Valência faz com que a cidade tenha vida muito ativa. “As ruas estão sempre cheias de gente passeando, comprando nos comércios locais, comendo umas “tapas” nos bares e cafeterias”, lembra Fernandez. O microclima de invernos suaves e verões quentes, com máximas de até 30 graus, também colabora para a agitação da cidade litorânea.
Cenário cultural
Em um dos maiores eventos culturais do mundo, Valência é visitada todos os anos durante as festas tradicionais das Fallas no mês de março. A tradição teria começado na Idade Média, quando os carpinteiros festejavam a chegada da primavera acumulando galhos de madeira e montando grandes fogueiras. Com o passar dos anos, os galhos foram ganhando forma humana e com papel machê passaram a ser grandes esculturas – chegam a altura de 33 metros.
Além das Fallas, outro destaque não menos importante está na gastronomia. Afinal, a Paella — prato típico feito com arroz, açafrão, frutos do mar e vegetais — é valenciana.