Design

O legado de Alessandro Mendini, a Carmen Miranda do Design

HAUS*
08/04/2019 18:00
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Foto: Atelier Mendini/Reprodução

Faleceu em sua própria casa em Milão em 18 de fevereiro, aos 87 anos, o designer, arquiteto e filósofo Alessandro Mendini. Mendini foi um dos nomes fundadores do Radical Design, movimento que teve seu auge nos anos 1960 e 1970 na Itália e foi marcado por uma forte imersão na cultura pop pós-moderna, integrando arte, design e arquitetura.
Considerado um dos mais visionários profissionais da área de seu tempo, Mendini nasceu em Milão em 16 de agosto de 1931 e se formou em Arquitetura na escola Politécnica de Milão.
Foto: Wikimedia Commons
Foto: Wikimedia Commons
Fundou com seu irmão o Studio Alchimia e, ao longo de sua carreira, atuou como diretor de inúmeras revistas de arquitetura e design na Itália, além de ser um dos grandes intelectuais pensadores do design na atualidade. Entre os periódicos que coordenou estiveram a Casabella (1970-76), a Modo e a Domus (1979-1985), onde trabalhou com nomes como Ettore Sottsass e Ugo La Pietra. Com estes, atuou também no Grupo Memphis, outra importante escola de arquitetura e design da Itália, fundada nos anos 1980 e funcional até hoje.
Entre tantas de suas obras, destaca-se a criação da poltrona Proust (1978), assinada pelo estúdio Alchimia, além de ter sido o responsável pelo projeto do Groninger Museum, na Holanda. Ao longo da carreira, recebeu inúmeros reconhecimentos pela sua obra, entre eles o Compasso d’Oro em 1979, 1981 e em 2014, e o Prêmio Europeu de Arquitetura, em 2014, pelo Chicago Athenaeum e pelo European Centre for Architecture.
Foto: Reprodução/ Instagram Atelier Mendini
Foto: Reprodução/ Instagram Atelier Mendini

Questionador do funcionalismo

“Mendini foi um dos grandes questionadores do funcionalismo da Bauhaus, instigando a pensar além da função, a partir da emoção, do desejo, do lúdico e do simbólico”, sentencia o professor do Departamento de Design da Universidade Federal do Paraná, Ronaldo Correa, especializado em teoria e história crítica do design.
O mestre italiano também merece ser relembrado por atuar como artista, unindo as áreas da arquitetura e design, e por ter se tornado uma das principais expressões do pós-moderno, com a máxima de que “tudo poderia ser usado”, como destaca Correa.
No Brasil, devido à criação tardia das escolas de design na década de 1960, essa ‘plástica desordenada’ de Mendini não achou muito espaço, diferentemente dos Estados Unidos, onde virou febre.
Padrões criados por Alessandro Mendini para a linha de papéis de parede do Grupo Memphis. Foto: Divulgação
Padrões criados por Alessandro Mendini para a linha de papéis de parede do Grupo Memphis. Foto: Divulgação

A Carmen Miranda do design

Com um trabalho que não tinha fronteiras, Mendini atuou junto a marcas internacionais, como a Philips, Alessi, Porro e a Magis, por exemplo. No Brasil, uma das empresas com as quais colaborou foi a A Lot of Brasil, com a qual aceitou colaborar prontamente, assinando o sofá K2. “Desenhou a linha de estampa denominada Carmen, quando pedi a ele uma estampa com muita identidade, tal qual era a Zig Zag da Missoni. O nome veio de um artigo que outrora um jornalista britânico escreveu sobre ele, e o denominou de ‘a Carmen Miranda do mundo do design’. Daí o nome Carmen”, lembra Pedro Franco, CEO da A Lot of Brasil.
Para ele, o falecimento do italiano, uma das suas grandes inspirações desde a infância, foi uma das maiores perdas da área. “Mendini foi responsável por deixar o mundo do design mais divertido, rompendo paradigmas com seu Grupo Alchimia. De lá, abriu se espaço por um design mais colorido, divertido, sem regras. Nomes como Marcel Wanders, os Irmãos Campana, entre outros, só encontraram espaço e entendimento para seus respectivos designs porque previamente existiu Mendini”, conta Franco em entrevista exclusiva a HAUS.
Foto: Ralph Richter/Groninger Museum
Foto: Ralph Richter/Groninger Museum
Segundo o designer à frente da marca brasileira, a atuação do designer italiano foi ímpar e seu trabalho deixou uma marca fundamental no design internacional. “Mendini nunca se gabou por ser Mendini. Sempre muito humilde, sempre a escutar a todos, sem se dar muita importância. Me ensinou que a vida é muito maior que o design, a vida é relacionada ao que somos, ao querer vivê-la sempre, a não querer parar de aprender. O mundo do design, não será o mesmo sem ele”.
*Luan Galani, Luciane Belin e Sharon Abdalla.

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