Legado
Design
Jorge Zalszupin, um legado: as contribuições de um dos expoentes do móvel moderno no Brasil
Nascido na Polônia e radicado no Brasil, Jorge Zalszupin deixa um legado de criações no mobiliário nacional.
Considerado um dos principais designers do modernismo brasileiro, Jorge Zalszupin, que faleceu no dia 17 de agosto deste ano, aos 98 anos, deixa um legado de contribuição às criações no mobiliário nacional. Judeu e polonês de origem, nascido em 1922 na capital, Varsóvia, Zalszupin estudou Arquitetura na Romênia e atuou na França antes de imigrar para o Brasil, em 1949, movido pelas perseguições do holocausto na Segunda Guerra Mundial. Radicado no país, depois de uma breve passagem no Rio de Janeiro, se fixou em São Paulo, cidade onde atuou durante toda sua carreira como arquiteto e designer.
Na paisagem paulistana, Zalszupin assinou projetos arquitetônicos residenciais e comerciais. Um dentre os mais notáveis é o Edifício Torre Paulista, projetado por ele e pelo arquiteto José Gugliotta na década de 1970 na Av. Paulista. A construção, também conhecida como Edifício Sumitomo, por ter sido durante anos a sede do banco japonês Sumitomo Mitsui, tem um formato curvilíneo e afunilado, mais largo na parte inferior que superior, características que o diferenciam de outros edifícios.
O estilo marcado pelo emprego das curvas em seus projetos é uma das particularidades que foram ressaltadas também em suas criações no mobiliário. No fim dos anos 1950 Zalszupin cria a L’Atelier Móveis, marca que o consolidou como um dos nomes do móvel moderno brasileiro. “Ele gostava muito de curvas, da sensualidade da curva e do acolhimento que elas conferiam aos móveis”, destaca a pesquisadora em História do Design de Mobiliário, Mariana Vieira de Andrade. A característica é vista nas peças residenciais e de escritório que produziu, como cadeiras, poltronas, mesas e estantes.
O móvel moderno
As décadas de 1950 e 1960 foram caracterizadas pela modernização do mobiliário brasileiro, uma transição da produção artesanal, sob encomenda, para a industrial e seriada, que acompanhava o processo de modernidade urbana. Com a premissa de modernizar o móvel, na tentativa de racionalizar os desenhos, comercializar em larga escala e baratear os custos de produção, sem abandonar uma construção de identidade brasileira na criação, a produção de Zalszupin se caracterizou pela experimentação de diferentes materiais como o plástico, madeira e couro. “O Jorge passa por todos esses lugares, desde tentar encontrar um pouco da brasilidade, mas também, como empresário, de racionalizar o móvel, o desenho, para produzir em escala.[…] Ele era ousado e criativo, acho que a contribuição dele passa por isso”, descreve Andrade.
Segundo a pesquisadora, a marca na produção de Zalszupin no mobiliário moderno foram suas criações com o laminado moldado, técnica que confere plasticidade às chapas de madeira e permite explorar formas contínuas curvando uma única superfície em diferentes geometrias, particularidade de várias de suas produções, como nas mesas Andorinha e Pétalas. Uma das matérias-primas utilizadas por Zalszupin com o recurso do laminado moldado foi a madeira de jacarandá, espécie nativa da América do Sul, mas com influência no design moderno escandinavo. Na época, era uma madeira valorizada por suas propriedades mecânicas, qualidade e acabamento. “A cadeira Dinamarquesa, uma de suas peças mais icônicas, é praticamente uma ode ao jacarandá. Ele conseguiu uma delicadeza nos pés, na forma, por causa da resistência mecânica desta madeira”, explica Andrade.
As criações de Zalszupin
Considerada uma das peças mais representativas da produção de Zalszupin, a poltrona Dinamarquesa fez parte da primeira coleção de móveis lançados pela L’atelier, em 1959. Nela é possível identificar alguns dos principais elementos que acompanharam a criação do designer no mobiliário moderno, como as curvaturas, a estrutura do assento em laminado moldado e o restante, pés e braços, esculpidos em jacarandá. A partir da Dinamarquesa outras poltronas foram desenhadas por Zalszupin, como a Ipanema e a Veranda, nas quais buscou soluções de modernização estética e produtiva, tornando os produtos mais acessíveis e industriais.
Outra peça representativa na produção do designer, também lançada na primeira linha de móveis apresentada pela marca, é o carrinho de chá, artefato comum nas décadas de 1950 e 1960. Nesse trabalho, Zalszupin utilizou materiais como aço e jacarandá laminado moldado, combinando símbolos que remetem a uma memória afetiva, como as rodas laterais que fazem referência aos carrinhos de bebê europeus do final do século 19 e o componente direcional do carrinho, que se assemelha a um taco de golfe ou bengala. “O carrinho de chá é um pouco uma síntese dele, […] é uma brincadeira com referências a sua história e origem”, destaca Andrade.
Além do mobiliário de escritório, a partir dos anos 1970 Zalszupin investiu no design de produto de utensílios domésticos utilizando o plástico como matéria-prima. “É uma fase pouco conhecida dele, [...] ele fazia utensílios domésticos com uma característica futurista, uma brincadeira com essa coisa do moderno”, descreve Andrade. Na linha Eva, como foi chamada a marca, um dos produtos que teve mais destaque foi o balde de gelo, peça de desenho minimalista e funcional.