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Anfitriã do ‘Oscar’ do design, alemã iF Design muda direção depois de 25 anos

Ralph Wiegmann passa o bastão da direção da iF Design para Uwe Cremering | Jannes Frubel
Reconhecida internacionalmente como uma das principais fomentadoras do design pelo mundo e entidade responsável pela premiação que é batizada de ‘Oscar’ do setor, a instituição alemã iF International Forum Design, também conhecida na versão resumida de iF Design, estará sob nova direção a partir de junho de 2021. Depois de 25 anos na "boleia" do iF, o alemão Ralph Wiegmann, 64 anos, está de saída para se aposentar. A decisão foi revelada com exclusividade no Brasil para a HAUS.
“Agora vou ter tempo para aproveitar muitas coisas. Ir a lugares que eu já fui, mas que ainda não conheço de verdade. Passar um tempo na ilha de Mallorca, desfrutando da minha casa e da companhia de amigos. Vou também começar uma pequena consultoria para descobrir novos talentos nas áreas em que eu amo: relógios e vinhos. E, claro, seguir o que está acontecendo na comunidade do design. Inclusive com as pessoas maravilhosas que conheci no Brasil”, confidencia Wiegmann, que teve um papel decisivo para o sucesso do iF Design, em entrevista por e-mail.
Ele foi responsável por colocar a instituição no mapa dos grandes players globais do design e por conseguir antecipar a importância que os países asiáticos teriam neste mercado. “Eu coloquei um foco na Ásia 20 anos atrás. Claro, eu não sabia que o continente iria se tornar uma parte tão importante para o design tão rapidamente, mas foi uma espécie de intuição”, conta Wiegmann, que já atuou também na Deutsche Messe como diretor de projeto e como membro do Conselho Internacional das Sociedades de Design Industrial (Icsid, na sigla em inglês), hoje chamado de Organização Mundial do Design (WDO, na sigla oficial).
Inovação e colaborações inéditas
Quem pega o bastão é o também alemão Uwe Cremering, 50 anos, que por décadas atuou na Sennheiser, uma das fabricantes mais importantes do mundo de microfones e fones de ouvido, e que foi figura central para as inovações de áudio imersivo, inaugurando, inclusive, colaborações inéditas com Pink Floyd e Magic Leap. Direto de Hannover, Cremering também falou com exclusividade para a HAUS. “Vejo uma oportunidade fantástica em meu novo papel. iF Design já é uma das maiores plataformas do mundo para o design. Um dos meus objetivos será oferecer um palco promocional ainda maior para os vencedores do iF Design Award e do iF Design Talent Award. Isso pode ser online e offline. E vamos continuar a melhorar a participação e o processo do júri com mais opções digitais. E, claro, manteremos a força do prêmio com transparência total no processo de seleção”, garante o novo diretor-geral da empresa alemã.

Opiniões do novo Diretor-Geral
Segundo Cremering, o design finalmente conquistou um papel central nos processos de inovação da forma como ele merece. “Grandes consultorias, como a McKinsey, enxergam o design como uma força estratégica para gerar negócios e desenvolver as marcas”, ensina. “Por muitos anos o design era encarado como apenas deixar as coisas bonitas. Mais e mais empresas estão aprendendo que elas precisam de uma visão holística e centrada no consumidor para seus produtos e serviços.
Designers são treinados para entregar essa perspectiva e traduzir em resultados tangíveis”, afirma Cremering, que conhece bastante sobre design de produto, design de embalagem e comunicação, mas também é um entusiasta da arquitetura, do design de interiores e do design de serviço, como ele revela durante a reportagem.

Questionado sobre a diferença na maneira de produzir design entre a China e os países da Europa, Cremering defende que o design hoje em dia é global. “Times e estilos são multinacionais. A Ásia em si é muito diversa também. Acho que seria um erro discutir diferenças nacionais ou regionais. Nesse mundo pós-moderno, o que vale é a solução, não importa de onde ela venha, e tudo coexiste um próximo ao outro mais em reinados virtuais do que em locais físicos específicos.”
Quando o Brasil é o tema da conversa, o novo diretor- -geral do iF confessa que não é um grande conhecedor da comunidade de design brasileira. “Mas quero muito aprender e espero visitar o Brasil em breve, principalmente porque o seu país é reconhecido por uma criatividade vívida, o que pode ser comprovado com os resultados anuais de empresas brasileiras que recebem o iF Design Award”, frisa. Cremering acredita ainda que o apego do brasileiro pela linguagem modernista no design de mobiliário é um ponto forte, e não uma fraqueza que possa limitar a criatividade. “Mas se [as pessoas ou críticos] identificam que desejam mudar um pouco essa forma, a melhor maneira é pensar em como evoluir, ou propor uma abordagem disruptiva”, sugere.