Design
Estação-tubo curitibana foi primeira criação brasileira a ganhar o “Oscar” do design
Design das estações-tubo foi concebido pensando também em criar uma personalidade para a paisagem urbana da capital paranaense. Foto dos anos 2000. Foto: Divulgação
Qual é a primeira imagem que vem à cabeça de um turista quando ele pensa em Curitiba? Talvez seja o Jardim Botânico, com o contraste de suas estruturas ao mesmo tempo resistentes e visualmente delicadas. Talvez seja a Rua XV, com suas calçadas de petit pave e movimento intenso. Mas é bem provável que ele se lembre também da estação-tubo, que, implementada há quase três décadas, se tornou um símbolo da cidade e foi o primeiro produto brasileiro a receber um prêmio iF Design Award – o mais conceituado e completo prêmio de design do mundo –, em 1992.
A verdade é que seja qual for a referência da Curitiba que habita o imaginário de um visitante, é bem possível que ela seja composta por ao menos um elemento assinado pelo arquiteto e urbanista Abrão Assad. Ele foi um dos responsáveis por criar a identidade visual da cidade em um projeto que se iniciou nos anos 1970, na gestão de Jaime Lerner na prefeitura, e foi retomado no início dos anos 1990, quando os tubos foram implementados.
Ele explica que as estruturas conversam com outros marcos da arquitetura curitibana, como a Rua 24 Horas e até mesmo os toldos de cor roxa da Rua XV, cuja cor foi escolhida a dedo. “A luz atravessava a cor roxa e deixava o curitibano mais bronzeado, com aquela cara de gato de Ipanema, e realçava o vermelho das flores das banquinhas”, rememora o arquiteto.
Impacto na autoestima do curitibano
Parte de uma família de equipamentos urbanos que buscava criar uma unidade visual marcante para a capital paranaense, assim como grande parte dos produtos premiados pelo iF Design Award, as estações-tubo foram concebidas para resolver um problema – ou melhor, dois.
O primeiro era o de transformar a experiência do curitibano no transporte público, trazendo mais conforto e agilidade nos deslocamentos. “Existia a preocupação em se otimizar o tempo de entrada e saída do ônibus, para que se tornasse um transporte mais eficiente, inspirado no metrô”, explica Assad.
Mas outra função que justificou a criação das estações foi a concepção de uma personalidade para a cidade, para resolver o que Assad define como um ponto fraco da antiga Curitiba: a autoestima do curitibano. “Ao contrário de capitais como o Rio de Janeiro, que foi abençoa da com o mar e uma geografia fantástica, Curitiba não tinha grandes atrações naturais, nada que a marcasse enquanto cidade”, afirma.
O sucesso foi tamanho que as estações-tubo foram exportadas para 250 cidades ao redor do mundo e ajudaram a posicionar Curitiba como referência em mobilidade urbana. A validação daquele que é considerado o prêmio máximo do setor, o iF Design Award, veio na sequência. “O júri reconheceu esta grande ideia de se construir uma infraestrutura em um espaço urbano já existente”, conta o diretor do iF, Frank Zierenberg. “Eles realmente gostaram do equilíbrio entre uma estética icônica e a funcionalidade trazida pelos tubos”, complementa.
O diretor do prêmio, que é alemão e já esteve algumas vezes em Curitiba, relata que foi uma experiência interessante poder ver as estações em funcionamento. “Fiquei bem impressionado, pois elas parecem ser muito funcionais e, ao contrário de outras paradas de ônibus, elas são visíveis à distância e criam um espaço próprio”, conta.
Melhorias e atualizações
Mas as estações não são exatamente unanimidade entre os usuários. Há quem ache que elas poderiam ser maiores e climatizadas, por exemplo. Em abril desse ano, o Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), apresentou uma nova proposta de atualização de algumas estações com design e dimensões diferentes, que prevê um formato retangular para elas. A concepção de um desenho mais detalhado de como será essa estação ainda está em trâmite. O que se sabe é que, ao longo do itinerário do Inter 2, onde hoje existem os tubos, serão construídas 12 estruturas fechadas, climatizadas e autossustentáveis, com o uso de placas fotovoltaicas na cobertura. Ainda não há datas para o início das obras.
de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), apresentou uma nova proposta de atualização de algumas estações com design e dimensões diferentes, que prevê um formato retangular para elas. A concepção de um desenho mais detalhado de como será essa estação ainda está em trâmite. O que se sabe é que, ao longo do itinerário do Inter 2, onde hoje existem os tubos, serão construídas 12 estruturas fechadas, climatizadas e autossustentáveis, com o uso de placas fotovoltaicas na cobertura. Ainda não há datas para o início das obras.
O próprio Assad tem ideias para melhorias das estações-tubo, por concordar que elas precisam ser repaginadas para trazer mais conforto térmico para passageiros e cobradores – mas é enfático quando diz que é possível atualizá-las sem prejudicar seu formato icônico. “Mudar o design delas seria como rasgar um retrato de família”, desabafa.